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Crise da fome evidencia efeitos do conflito líbio em região africana

O Mali sofreu um golpe em 21 de março, quando tropas rebeldes derrubaram o governo do presidente Amadou Toumani Touré. A junta militar no poder aceitou a transição de volta a um governo civil, mas o norte do país virou um território parcialmente dominado por rebeldes da etnia tuaregue, que declararam a criação de uma região autônoma.

Essas centenas de rebeldes voltaram, há alguns meses, da Líbia, onde lutaram ao lado de tropas do ex-coronel Muamar Khadafi.

De volta ao Mali, armados, eles formaram o mais poderoso grupo tuaregue que a região já viu: o Movimento Nacional de Liberação Azawad (MNLA, na sigla em inglês).

‘Subestimados’

"As potências ocidentais subestimaram o fato de que a derrubada de Khadafi teria sérias repercussões na região do Sahel", disse à BBC Abdul Aziz Kebe, especialista em relações árabe-africanas na Universidade do Dacar, no Senegal.

O Sahel é uma faixa de terra ao sul do Saara que vai de leste a oeste da África e engloba pedaços de países como Mali, Níger, Senegal, Mauritânia, Burkina Fasso, Argélia, Nigéria, Chade, Camarões, Sudão e Eritreia.

A região está vivendo uma forte seca na atual temporada. Com a alta dos preços dos alimentos, formou-se um cenário para uma crise de fome, segundo o Programa Mundial de Alimentos (WFP), da ONU, que lançou um alerta mundial para levantar fundos. Ações rebeldes em países como Níger, Nigéria e Mali tornam a crise ainda mais difícil de ser enfrentada.

"Desde o golpe no Mali, e o ataque das forças rebeldes no norte do país, o Programa Mundial de Alimentos teve de suspender suas operações ali e na região central de Mopti, onde a situação de segurança está se deteriorando rapidamente", declarou à BBC Brasil o porta-voz do WFP no oeste da África, Malek Triki.

"Por causa da violência, da inoperância da lei e da onda de saques, o WFP perdeu estoques de comida que tinha em seus depósitos. Isso tornará ainda mais difícil retomar nossas operações com a rapidez que gostaríamos, quando a situação de segurança melhorar."

Base do radicalismo

No caso do Mali, a situação é agravada pelo fato de que o norte do país vinha se tornando uma base de atuação para traficantes de drogas, combatentes da Al-Qaeda e outros radicais islâmicos, que dividiam as terras com os rebeldes tuaregues.

Ao mesmo tempo, o povo tuaregue do Mali reclamava há tempos de ser marginalizado pelo governo sulista e já havia se rebelado diversas vezes no passado.
 

Reforçados por novos recrutas e fortemente armados, eles conseguiram dominar diversas cidades do norte do Mali em apenas dois meses.

A situação serviu para dar força ao motim militar que culminou no golpe de Estado. Uma autoridade local disse à BBC, em condição de anonimato, que havia uma forte insatisfação entre os militares com a forma como o governo lidava com a insurgência no norte.

Retrocesso

Ocorrido apenas um mês antes das eleições presidenciais no Mali, e no fim do segundo mandato presidencial, o golpe de Estado representa um retrocesso de duas décadas para o país do oeste-africano.

Em 1991, o presidente Touré, na época um general do Exército, também havia dado um golpe, pondo fim a um regime militar. No ano seguinte, ele realizou eleições gerais no país, que passou então a construir uma base democrática.

Touré voltou ao poder em eleições realizadas em 2002. O Mali passou a ser visto como um dos raros exemplos de democracia na região – mais um motivo pelo qual os recentes desdobramentos causam preocupação.

Ao mesmo tempo, a forma como o governo de Touré lidava com a insurgência tuaregue vinha causando frustração entre militares e civis.

No último domingo, o presidente renunciou, pavimentando o caminho para que a junta militar golpista de volta o poder a um governo civil. O porta-voz do Parlamento do Mali deve liderar o governo de transição até a realização de novas eleições.

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