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Brasil dirá a EUA que estava certo sobre Irã

Catarina Alencastro, Luiza Damé e Fernando Eichenberg

BRASÍLIA e WASHINGTON. O governo brasileiro mantém a mesma posição que tinha na era Lula com relação ao Irã. Isso será manifestado ao presidente americano, Barack Obama, pela presidente Dilma Rousseff em abril, quando ela visita os Estados Unidos.

Segundo o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, o Brasil é contra a política de sanções ao Irã, defendida pelas grandes potências, e acredita que o mundo perdeu a chance de achar uma solução pelo diálogo com Mahmoud Ahmadinejad.

Em maio de 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva capitaneou uma tentativa de negociar com o Irã um acordo para que parte do urânio enriquecido no país fosse enviado à Turquia em troca de um produto de menor teor nuclear que pudesse ser usado nos reatores de pesquisa iranianos.

– Um ano e meio (depois das sanções), a situação está melhor? Não. As sanções tiveram efeito contrário – disse Garcia, completando em seguida:
– A situação hoje está pior do que em junho de 2010. Se tivéssemos chegado a uma solução equilibrada, não estariam resolvidos os problemas, mas seguramente esses fenômenos que estão ocorrendo nos últimos 15 anos não teriam essa mesma intensidade.

A situação da Síria também será objeto das conversas entre Dilma e Obama. Para Garcia, a insurgência popular contra o regime do presidente sírio Bashar al-Assad tem de ser tratada de forma bastante diferente do que foi feito na Líbia. Segundo ele, a ONU extrapolou suas atribuições ao apoiar a mudança de governo naquele país.

– Não há só uma matança na Síria, se esboça uma guerra civil. Ou se busca uma solução forte ou vamos ter a reprodução de uma situação como a da Líbia piorada. Mexer na Síria à moda Bangu vai afetar muitos países da região – avalia Garcia.

Políticos americanos temem influência iraniana na região

O Senado americano alertou ontem para a crescente ameaça de ligações perigosas entre o Irã e países da América Latina, principalmente Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua. Numa audiência comandada pelo senador democrata Robert Menendez com quatro especialistas na questão iraniana, a presença de Teerã no continente latino-americano foi asinalada como uma maneira de driblar as sanções econômicas impostas ao país, por causa de seu suspeito programa nuclear, e também como uma estratégia para criar uma plataforma de ataque e de ações terroristas contra os EUA.

– Os líderes destes países estão brincando com fogo, trata-se de um jogo muito perigoso – disse o senador republicano Marco Rubio.
Menendez, presidente da comissão do Senado para a América Latina, criticou as relações próximas do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad com os colegas Hugo Chávez (Venzuela) e Daniel Ortega (Nicarágua), e revelou preocupação com as ambições do regime de Teerã com os aliados latino-americanos.

– Há uma inquietação real, seja pela exploração de urânio ou pela intenção de criar uma capacidade operativa para ameaçar os EUA a partir do continente. Quando ouço o diretor de Inteligência Nacional do EUA, James Clapper, dizer que os os iranianos nutrem hoje o desejo de atentar contra o nosso país, não vejo melhor forma de fazê-lo do que a partir do próprio hemisfério onde se encontram os EUA.

Cynthia Arson, diretora do programa de América Latina do Woodrow Wilson Center, apontou que as relações com o Irã trazem muito poucos benefícios domésticos, tanto econômicos como políticos, aos países latino-americanos, e que Ahmadinejad é extramente impopular no continente.

– O benefício é internacional. Esses países veem a aliança com o Irã como uma forma de mostrar sua oposição ou sua independência em relação aos EUA.
 
Dilma dá exemplo ao se afastar de Teerã, diz senador

Para Menendez, o Brasil se tornou um exemplo para os demais países do continente:
– O Brasil mostrou o que os outros devem fazer: se afastar do Irã e de sua influência, do presidente Ahmadinejad e de tudo o que ele representa, e ter sua própria independência regional.

O analista Ilan Berman, vice-presidente do centro de estudos American Foreign Policy Council, considera o Brasil como um país de extrema importância estratégica para conter a influência de Teerã no continente.

– A expectativa dos EUA era a de que haveria uma continuação da aceitação que se viu entre os presidentes Lula e Ahmadinejad, mas houve uma mudança positiva com Dilma. O Brasil tem posição de liderança, e sendo pouco hospitaleiro ao Irã, torna as coisas mais difíceis para o país.

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