A visita da presidente Dilma Rousseff a Cuba sem abordar a questão de violações de direitos humanos na ilha com o presidente Raúl Castro representa “um passo em falso que danificou profundamente a sua imagem no âmbito internacional”, na avaliação do jornal espanhol La Razon. A agenda da petista incluía a discussão de projetos econômicos bilaterais e aconteceu semanas após a morte de um dissidente cubano, depois de uma greve de fome em protesto contra o regime castrista.
O La Razon diz que, ao contrário de Lula, que mantinha “amizades perigosas”, Dilma “se afastou do líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e de seu colega venezuelano Hugo Chavez”, dirigentes de países, chamados pelo diário como “Eixo do Mal”. Porém, a visita à ilha quebrou essa tendência de afastamento de governos autoritários.
O jornal destaca que a presidente não previu encontrar-se com dissidentes do regime cubano, embora o Brasil tenha concedido um visto para a blogueira opositora Yoani Sánchez visitar o país, e em tom de crítica, afirma que Dilma preferiu se concentrar nos acordos comerciais do que nas questões de direitos humanos.
Também o El País alfineta a presidência brasileira, ao dizer que a visita a Cuba se encerra com “a promoção de interesses comerciais, com milhares de euros de investimentos em jogo e nenhum contato oficial com a dissidência”. O jornal lembra que os opositores ao regime haviam solicitado um encontro com a brasileira, mas o convite foi negado, e afirma que a presidente foi “absorvida” por uma agenda oficial preparada pelo regime cubano.
“A governante viajou para Cuba antes dos Estados Unidos”, diz o El País, que recorda o passado de ex-guerrilheira de Dilma durante a ditadura militar no Brasil. “A ex-guerrilheira reclamava para o seu país uma revolução semelhante à conseguida por Fidel Castro”, que “inspirou toda uma geração de ativistas de esquerda na América Latina”, segundo a respeitada publicação.
Também o jornal francês Le Monde aborda o assunto e afirma que “os brasileiros, conscientes do valor simbólico de Cuba no imaginário da esquerda latinoamericana, querem acompanhar a aterrissagem tranquila do socialismo de Estado na economia mista, reduzindo os riscos de instabilidade” na região. Conforme o diário, que enviou um repórter a Havana para acompanhar a visita, “cubanos e brasileiros privilegiam uma evolução gradual, sem questionar o poder do general Raúl Castro e dos militares que controlam setores-chave da economia cubana”.