O governo dos Estados Unidos precisa economizar. Uma tarefa praticamente inglória, diante da dívida pública de mais de 15 trilhões de dólares. Duas guerras de custos exorbitantes – a do Iraque e a do Afeganistão – fizeram com que o orçamento da Defesa explodisse nos últimos dez anos.
Sendo assim, as Forças Armadas não serão poupadas das medidas de contenção de gastos, afirmou o presidente Barack Obama, em Washington, na última quinta-feira (05/01), num raro pronunciamento no Pentágono.
Obama apresentou pessoalmente a nova estratégia norte-americana de Defesa. Segundo o presidente, não haverá cortes gerais ou de forma indiscriminada, mas obedecendo diretrizes estratégicas.
A nova estratégia militar dos EUA privilegia o Pacífico e a Ásia, seguidos pelo Oriente Médio. Com isso, a Europa passa da primeira para a terceira posição na lista de prioridades geográficas dos norte-americanos.
Segundo o secretário de Defesa, Leon Panetta, a região da Ásia e do Pacífico, bem como o Oriente Médio, "ganham um significado cada vez maior para o futuro dos EUA no que diz respeito à economia e à segurança nacional". Por isso, de acordo com ele, a presença norte-americana será intensificada nestas regiões, embora os investimentos em alianças, como a Otan, deverão ser também fortalecidos.
Menos soldados dos EUA na Alemanha
O presença das tropas norte-americanas na Europa irá, nas palavras de Panetta, "necessariamente" se adaptar à nova realidade, "sobretudo diante das necessidades de segurança na Europa em comparação com prioridades estratégicas em outros lugares".
Com cerca de 52 mil soldados, a Alemanha abriga o segundo maior contigente de tropas dos Estados Unidos no exterior, atrás apenas do Afeganistão. Só não se sabe até quando. "Os americanos vão muito provavelmente continuar reduzindo suas tropas na Europa, incluindo o fechamento de algumas bases", afirma o especialista em segurança Otfried Nassauer, diretor do Centro de Informação para a Segurança Transatlântica (BITS).
Isso implicará também perdas econômicas para algumas regiões da Alemanha, caso os EUA reduzam, de fato, a presença militar no país. O especialista em segurança Oliver Thränert, do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP), prevê que o volume das tropas americanas na Alemanha irá ser reduzido, mas diz que os EUA não vão retirar todo o contingente estacionado no país europeu.
"Principalmente o posto de Ramstein tem uma importância enorme para as estruturas de comando e de comunicação, bem como para o atendimento médico aos soldados norte-americanos", declarou à Deutsche Welle.
Documentos secretos da Secretaria de Defesa, datados do dia 21 de janeiro de 2010 e publicados pela plataforma Wikileaks, dão uma ideia mais concreta dos efeitos da nova estratégia militar dos EUA para a Alemanha. No conteúdo ultrassecreto consta que, no mais tardar até 2015, os EUA deverão retirar 10.471 soldados e funcionários norte-americanos da Alemanha.
A retirada vai afetar 23 bases nos estados alemães de Hessen e Baden-Württemberg. Os respectivos postos militares deverão ser entregues às Forças Armadas da Alemanha. Como a Bundeswehr também passa por reformas e contenção de despesas, o uso delas deverá ser muito limitado.
Na cidade de Mannheim, por exemplo, a retirada das tropas norte-americanas deverá acarretar um rombo no orçamento municipal em torno de 6 milhões de euros anuais. Em Heidelberg, a cidade na qual as tropas americanas se encontram estacionadas há mais tempo, as perdas girarão em torno de 7,5 milhões de euros por ano.
Destino das armas nucleares na Alemanha
A nova estratégia não menciona, contudo, o destino das estimadas 20 armas nucleares dos EUA que se encontram no estado da Renânia-Palatinado, as últimas em território alemão. Por um lado, o documento afirma que os americanos não terão mais que contribuir tanto para a tradicional segurança da Europa como no passado. Mas, por outro, não pretendem deixar de lado suas obrigações de segurança no âmbito da Otan.
"Caso reduzam suas tropas, os EUA poderiam, em contrapartida, utilizar suas armas nucleares de maneira mais ostensiva como um sinal político", diz o especialista. Assim ninguém poderia dizer que eles não estariam mais cumprindo com suas obrigações.
Desta forma haveria um novo argumento de peso para manter a presença das armas nucleares em território alemão. No entanto, Obama já se posicionou em prol de um mundo sem armas atômicas. "Pode-se também interpretar que os EUA estão cogitando um desarmamento nuclear", resume Nassauer.
Mais tarefas para os alemães
O diretor do BITS prevê que a nova estratégia militar norte-americana vai significar também novas tarefas para os alemães. "A Europa não é, em primeira linha, uma consumidora da segurança fornecida pelos americanos, mas sim, junto com os americanos, fornecedora de segurança para o mundo", diz o especialista.
É possível que os americanos exijam que os alemães assumam parte das tarefas militares de Defesa no mundo, conclui. Ou seja, a Bundeswehr teria que atuar em prol da manutenção da ordem mundial. Thränert chega a uma conclusão semelhante: "A Europa vai continuar sendo um parceiro importante para os EUA, mas os europeus terão que, no futuro, resolver sozinhos os conflito nas vizinhanças".
Autora: Arne Lichtenberg (sv)
Revisão: Alexandre Schossler