Disputa entre Rússia e Ucrânia sobre Crimea se agrava com corte russo no fornecimento de carvão

A Rússia começou a restringir o fornecimento de carvão para a Ucrânia, disse o ministro ucraniano da Energia, Volodymyr Demchyshyn, ao Parlamento em Kiev nesta sexta-feira, dias depois de o Kremlin ameaçar punir o país por um apagão de energia na Crimeia, região ucraniana anexada por Moscou.

Demchyshyn disse que separatistas pró-Rússia que controlam as minas de carvão no leste da Ucrânia também interromperam o fornecimento de carvão e acrescentou que o governo ucraniano tem suprimento próprio para um mês e está à procura de fontes alternativas na África do Sul.

"Houve corte no fornecimento de carvão proveniente de território não controlado (a região de Donbass, não controlada pela Ucrânia) e da Rússia", disse Demchyshyn. "Neste momento, nossas centrais têm reservas de carvão suficientes para durar pelo menos um mês. Mas, a longo prazo, irão surgir questões problemáticas".

O ministro da Energia russo, Alexander Novak, disse na terça-feira que a Rússia poderia cortar o fornecimento de carvão para punir a Ucrânia por sua recusa deliberada em ajudar a reconstruir linhas de energia na Crimeia explodidas por sabotadores desconhecidos, segundo afirmou.

A Rússia tomou a Crimeia da Ucrânia em março do ano passado, mergulhando as relações entre os antigos aliados em sua pior crise.

Pequenos trabalhos de reparação foram efetuados nas torres e linhas de energia sabotadas, no sul da Ucrânia, que distribuem energia para a Crimeia, mas nenhuma das quatro torres destruídas está operacional.

A Ucrânia depende do carvão para satisfazer cerca de 44 por cento de suas necessidades de energia. A energia nuclear reponde por proporção equivalente e o resto é suprido por fontes renováveis.

Rússia busca retaliação econômica contra Turquia

A Rússia ameaçou nesta quinta-feira retaliar economicamente a Turquia e disse que ainda aguarda uma explicação razoável sobre a ação que derrubou seu avião de guerra, mas os turcos consideraram as ameaças "emocionais" e "impróprias".

Numa guerra retórica, o presidente turco, Tayyip Erdogan, respondeu às acusações russas de que a Turquia tem comprado petróleo e gás do Estado Islâmico na Síria, dizendo que o presidente sírio, Bashar al-Assad, e seus aliados, incluindo Moscou, são a verdadeira fonte do poder financeiro e militar do grupo.

A queda do jato, provocada por disparos da Força Aérea turca na terça-feira, foi um dos mais sérios incidentes entre um país integrante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a Rússia, complicando ainda mais os esforços internacionais para confrontar os militantes do Estado Islâmico.

Líderes mundiais apelaram para que os dois lados evitem intensificar as desavenças.

O primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, pediu ao seu governo para elaborar medidas que incluiriam o congelamento de projetos conjuntos de investimento e a restrição da importação de alimentos da Turquia.

O ministro da Economia, Alexei Ulyukayev, disse que Moscou poderia limitar os voos à Turquia, paralisar os preparativos para uma zona conjunta de livre comércio e restringir projetos importantes como um gasoduto e uma usina nuclear de 20 bilhões de dólares que a Rússia constrói na Turquia.

O Ministério da Defesa russo, enquanto isso, declarou que suspendeu toda a cooperação com os militares turcos, incluindo uma linha direta para o compartilhamento de informações sobre ataques aéreos russos na Síria, relatou a agência de notícias TASS.

"Somos parceiros estratégicos. Projetos conjuntos podem ser paralisados, laços podem ser cortados? Essas abordagens são próprias para políticos", afirmou Erdogan em discurso em Ancara.

"Primeiro, os nossos políticos e nossos militares devem se sentar e falar sobre os erros que foram feitos e, então, focar em superar esses erros dos dois lados. Mas, em vez disso, se nós damos declarações emocionais como essa, isso não seria justo."

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia ainda espera uma resposta razoável de Ancara sobre por que o jato foi derrubado. Moscou insiste que o avião não deixou o espaço aéreo sírio, mas Ancara alega que ele cruzou a fronteira apesar de repetidos alertas.

O Ministério do Exterior turco declarou que missões diplomáticas e interesses empresariais turcos na Rússia foram atacados e que o embaixador russo em Ancara havia sido convocado como forma de protesto.

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