Rússia descarta pedido da Ucrânia por envio de tropas da ONU ao leste do país

Rússia descartou nesta quinta-feira o pedido do governo de Kiev para o envio de tropas de paz da ONU ao leste da Ucrânia, afirmando que a base para a resolução do conflito com os rebeldes pró-Moscou na região deve ser o acordo assinado em Belarus neste mês.

O porta-voz da chancelaria russa Alexander Lukashevich disse ainda que a responsabilidade pela implementação dos acordos firmados em 12 de fevereiro em Minsk está nas mãos de Kiev.

"A base para o futuro trabalho de resolução final para a (crise na) Ucrânia deve ser a concepção estabelecida nos acordos de Minsk de 12 de fevereiro", disse Lukashevich.

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, pediu o envio de tropas da ONU para monitorar o cessar-fogo no leste da Ucrânia. Os rebeldes pró-Rússia rapidamente responderam que a proposta romperia o acordo de paz.

Em uma reunião de emergência na noite de quarta-feira, o conselho de segurança e defesa da Ucrânia aprovou a soliticação de Poroshenko, sinalizando claramente as preocupações da Ucrânia depois que os rebeldes tomaram uma cidade-chave após a entrada em vigor do cessar-fogo no domingo.

Poroshenko, que acusa Moscou de enviar tropas e armas para combater tropas ucranianas, disse que a Rússia não poderia participar da missão de paz por ser "um país agressor".

Trégua fracassa e combates são retomados na Ucrânia

A violência retornou ao leste da Ucrânia nesta quinta-feira, apesar dos esforços europeus para ressuscitar o frágil cessar-fogo, um dia após separatistas pró-Rússia que desdenharam da trégua expulsaram milhares de soldados do governo de uma cidade estratética.

As nações ocidentais se recusaram a desistir do plano de paz negociado na semana passada em Minsk, capital de Belarus, embora os rebeldes o tenham desconsiderado para tomar o crucial entroncamento ferroviário de Debaltseve.

Milhares de tropas ucranianas sitiadas se retiraram da cidade na quarta-feira, numa das piores derrotas do governo de Kiev na guerra de 10 meses que já matou mais de cinco mil pessoas.

Autoridades da Europa e dos Estados Unidos expressaram a esperança de que agora o cessar-fogo entre em vigor. Os rebeldes, que lutam pelo território que o Kremlin chama de “Nova Rússia”, detiveram seu avanço, já que conquistaram seu principal objetivo em Debaltseve.

Mas os disparos de artilharia ainda choviam sobre a localidade nesta quinta-feira, e os militares ucranianos disseram que seus soldados estavam sob fogo rebelde em outras partes.

Jornalistas da Reuters em Vuhlehirsk, cidade sob controle dos separatistas ao norte de Debaltseve, relataram que a artilharia ainda atingia a área, embora com menos intensidade do que no dia anterior.

Em Artemivsk, cidade nas mãos do governo ao norte de Debaltseve onde tropas ucranianas chegaram depois de se retirarem da cidade sitiada, os soldados falaram sobre sua fuga debaixo de disparos na quarta-feira.

“Não há palavras para descrever. Durante todo o caminho fomos cobertos por disparos, onde quer que houvesse árvores eles disparavam contra nós com metralhadoras e lançadores de granada. Usaram de tudo”, contou Vadim, soldado da 30ª brigada da Ucrânia.

Autoridades militares locais afirmaram que os rebeldes lançaram ataques de morteiro contra posições do governo mais ao sul, perto da cidade costeira de Mariupol, e que estão reunindo forças no local.

“Neste momento acontecem ataques de morteiro em Shyrokine”, declarou um porta-voz militar por telefone, referindo-se a um vilarejo cerca de 30 quilômetros ao leste de Mariupol, ao longo da costa do Mar de Azov.

“Não houve tentativa de tomar nossas posições até agora. Os rebeldes estão trazendo reforços”, informou o porta-voz.

Com 500 mil habitantes, Mariupol é a maior cidade de posse do governo nas duas províncias rebeladas, e o maior temor de Kiev é que os separatistas tentem tomá-la.

Países ocidentais dizem que a Rússia está por trás do avanço rebelde, tendo mobilizado milhares de soldados com armamento sofisticado para o leste da Ucrânia para lutarem em nome dos separatistas.

Moscou, que nega a acusação, patrocinou uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que pediu a todos os lados que interrompam os combates, mas jamais criticou os rebeldes por tomarem Debaltseve. Horas antes da captura, o presidente russo, Vladimir Putin, disse à Ucrânia que o país deveria permitir a rendição de suas tropas.

Os rebeldes afirmaram que Debaltseve é o único lugar onde o cessar-fogo não se aplica, e insinuaram que agora pretendem implementar a trégua.

 

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