O Estado Islâmico do Iraque e do Levante e seus financiadores

Quanto tomaram a cidade de Mossul, no norte do Iraque, os militantes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) saquearam de um banco 500 bilhões de dinares iraquianos, o equivalente a mais de 420 milhões de dólares. Assim, o grupo disporia de um total de 2 bilhões de dólares para sua "guerra santa". Mas a origem exata do dinheiro é controversa.

O governo xiita do Iraque acusa o governo saudita de apoiar os insurgentes. "Responsabilizamos a Arábia Saudita pelo apoio financeiro e moral dado ao EIIL", declarou o primeiro-ministro Nuri al-Maliki na terça-feira (17/06). Os Estados Unidos, aliados de Riad, rejeitam as acusações de Al-Maliki. A declaração é "imprecisa e ofensiva", segundo Jen Psaki, porta-voz da Secretaria de Estado norte-americana.

Dinheiro dos países do Golfo?

"Não há evidência publicamente disponível de que o governo de que um Estado esteja envolvido na criação ou no financiamento do EIIL como organização", afirma Charles Lister, do Brookings Doha Center, no Catar.

Já Günter Meyer, diretor do Centro de Pesquisas sobre o Mundo Árabe da Universidade de Mainz, não tem dúvidas quanto aos fluxos de caixa. "A mais importante fonte de financiamento tem sido os países do Golfo, especialmente a Arábia Saudita, e também Catar, Kuwait e Emirados Árabes Unidos", disse à Deutsche Welle.

A justificativa dos Estados sunitas do Golfo é a luta do EIIL contra o regime do presidente sírio Bashar al-Assad, explica Meyer. Três quartos da população síria é de muçulmanos sunitas, enquanto o país é governado pela minoria alauita, um ramo do islã xiita.

Hoje, o governo da Arábia Saudita está ciente dos riscos, prossegue o especialista em assuntos árabes. "Os sauditas já formam o maior contingente de combatentes estrangeiros no EIIL. Se esses militantes retornarem ao país, há o risco de se voltarem contra o regime saudita." Mas há razões para continuar acreditando que o dinheiro venha da Arábia Saudita, "não tanto do governo, mas da parte de sauditas ricos".

Dinheiro do petróleo e da extorsão

A segunda principal fonte de financiamento do Estado Islâmico do Iraque e do Levante são os campos de petróleo no norte da Síria, explica o pesquisador. "O EIIL conseguiu o controle sobre esses campos. Ele leva o petróleo através da fronteira turca, em caminhões. Essa é uma importante fonte financeira."
 

Segundo Charles Lister, a organização terrorista consegue em grande parte se autofinanciar. "Ela se esforçou para se consolidar em redes da comunidade e assim garantir um fluxo constante de dinheiro." Como exemplo, ele cita a extorsão sistemática em Mossul.

"Isso atinge pequenos empresários e grandes firmas, empresas de construção e, se os rumores forem corretos, até mesmo funcionários do governo local", relatou Lister à DW. "Suspeita-se também que em áreas controladas completamente pela organização sejam recolhidos impostos – por exemplo em Raqqa, no nordeste da Síria."

Günter Meyer, do Centro de Pesquisas sobre o Mundo Árabe, descarta a possibilidade de ex-correligionários do ditador iraquiano Saddam Hussein, morto em 2006, financiarem o EIIL, pois as metas são muito diferentes: embora ambos queiram derrubar o governo xiita do Iraque, a intenção do EIIL é fundar uma teocracia islâmica. Os sunitas do partido Baath, de Hussein, por sua vez, almejam uma democracia secular.

Dinheiro para o jihad

O maior golpe financeiro do EIIL foi com certeza o saque do Banco Central em Mossul. Também outras instituições bancárias e outras áreas controladas pela organização teriam sido roubadas, diz Meyer.

Com o dinheiro, a organização poderia comprar muitos jihads, tuitou o blogueiro sírio britânico Eliot Higgins, que usa o peudônimo Moses Brown. "Com 429 milhões dólares, o EIIL poderia pagar 600 dólares mensais a 60 mil combatentes, durante um ano."

Estima-se que o EIIL disponha atualmente de 10 mil militantes. Contudo a forma como a organização gasta seu dinheiro não é documentada exatamente. "Acredita-se que o EIIL pague pelo menos os seus combatentes estrangeiros, mas talvez toda a tropa", estima Charles Lister. "Nas áreas que controla, a organização subsidia pão, água e combustível. E ainda financia a reparação e a organização de serviços públicos básicos. Tudo isso custa dinheiro."

O EIIL provavelmente também vai canalizar o dinheiro para a aquisição de material militar, acredita Günter Meyer. Na tomada de Mossul, os insurgentes se apoderaram de muitas armas norte-americanas e veículos. "Com os meios financeiros de que dispõem, agora ficou fácil levantar mais armas no mercado internacional", conclui.

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