No norte da Síria, as Forças Armadas avançam sobre mais uma cidade que foi palco de protestos contra o governo nos últimos dias. Nesta segunda-feira (14/06), soldados chegaram ao vilarejo de Ahtam, a 14 quilômetros da cidade de Maarat al-Numan, onde manifestantes saíram às ruas contra Bashar al-Assad.
Segundo testemunhas, tropas e veículos blindados intimidaram moradores do vilarejo. As ações do Exército sírio fizeram com que milhares de residentes deixassem o país. Relatos contam que soldados teriam queimado plantações e exterminado criações de animais.
Milhares de cidadãos fugiram de Jisr al-Shughur, já ocupada pelo Exército, em direção à Turquia. Segundo a agência de notícias turca Anatolia, o número de refugiados sírios no país vizinho já ultrapasse os 7 mil. Pelos cálculos das Nações Unidas, 10 mil pessoas já fugiram dos confrontos na Síria, sendo que 5 mil foram para a Turquia e outras 5 mil para o Líbano.
Violência
O governo alega que os protestos, que começaram há três meses, fazem parte de uma conspiração apoiada por forças internacionais com o objetivo de provocar conflitos sectários. A Síria impediu o trabalho de correspondentes internacionais, o que dificulta que os fatos sejam reportados.
Segundo as autoridades, 120 seguranças teriam sido mortos nas últimas semanas por "grupos armados". No entanto, moradores e soldados que desertaram afirmam que as vítimas seriam civis e seguranças que foram assassinados por terem se recusado a atirar contra manifestantes.
Grupos de Direitos Humanos dizem que 1.300 civis já foram mortos desde o início dos confrontos. O Observatório dos Direitos Humanos afirmou ainda que 300 soldados e policiais foram mortos em protestos.
Contra Bashar al-Assad
O atual presidente sírio está há 11 anos no poder, desde que herdou o cargo após a morte de seu pai. Em visita à Argentina, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon pediu que Assad autorizasse a entrada de ajuda humanitária na Síria, além do trabalho de avaliação de uma missão de Direitos Humanos da ONU.
Em Nova York, o embaixador francês pediu que o Brasil, membro não permanente do Conselho de Segurança, apoie a resolução do órgão, ainda em discussão, que condenaria a Síria por reagir de forma violenta contra manifestantes.
"O governo brasileiro denunciou o uso da força na Síria e exigiu que um processo político respondesse às aspirações do povo sírio", afirmou o embaixador francês Gerard Araud ao jornal O Estado de S.Paulo.
"Esperamos sinceramente que o voto do Brasil reflita esse apoio às aspirações democráticas do povo árabe", disse ele, de acordo com trechos da entrevista divulgados pela missão da França na ONU e citados pela agência de notícias Reuters.
O governo brasileiro, assim como a Índia e África do Sul, demonstrou não concordar com a resolução rascunhada por Reino Unido, França, Alemanha e Portugal. Rússia e China também deram indicação que vetariam o texto.
Diplomatas afirmam que há uma indefinição entre os 15 países que compõem o Conselho. Por isso, ainda não se sabe se os europeus colocarão o texto em votação.
NP/afp/dpa/lusa
Revisão: Alexandre Schossler