Renata Tranches
Em campanha para tentar aplacar as crescentes críticas contra suas operações, chefes da Inteligência americana afirmaram, ontem, que a coleta em massa de informações na França e na Espanha foi feita pelos próprios países, e não pela Agência de Segurança Nacional (NSA). Eles defenderam as operações e descartaram a possibilidade de limitar o trabalho da NSA, na contramão do que o presidente Barack Obama estaria disposto a fazer, segundo a imprensa dos Estados Unidos.
As revelações de que milhões de e-mails de cidadãos desses países foram monitorados criaram um grande mal-estar nas relações entre a Europa e os EUA, agravado com a informação de que o celular da chanceler (chefe de governo) alemã, Angela Merkel, foi grampeado. Em visita a Washington, a vice-presidente da Comissão Europeia, Viviane Reding, falou em "quebra de confiança" e advertiu para a possibilidade de o imbróglio ameaçar as negociações para um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e os Estados Unidos. As conversas já tinham sido adiadas por conta da crise orçamentária americana. Analistas são unânimes em afirmar que o atual cenário tem potencial para afetar o diálogo.
Mas, segundo o diretor da NSA, general Keith Alexander, os dados foram "fornecidos à NSA" por sócios europeus. Durante longa audiência no Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados, transmitida pela internet, ele afirmou que as denúncias contra a agência, feitas pelos jornais locais, "são completamente falsas". "Da mesma forma que a pessoa que roubou os dados confidenciais, eles não compreenderam o que tinham diante de seus olhos", declarou o general, referindo-se ao ex-colaborador da NSA Edward Snowden, que tem vazado os documentos. "Trata-se de informações que nós e nossos aliados da Otan obtivemos conjuntamente para a proteção de nossos países e para o apoio de nossas operações militares."
Além de Alexander, os parlamentares ouviram os principais nomes do setor na primeira sessão pública desde que estourou o escândalo no Velho Continente. De acordo com eles, apesar do volume de dados, não houve um "monitoramento indiscriminado". Eles negaram que o presidente tivesse conhecimento de todo o trabalho da Inteligência. "É improvável e falso pensar que a Casa Branca soubesse de cada detalhe da coleta de informações", afirmou James Clapper, diretor da Inteligência Nacional dos EUA. As autoridades alegaram que aliados espionaram líderes e serviços americanos.
Alexander e Clapper descartaram medidas para cercear o poder da NSA. A possibilidade foi aventada pelo próprio Obama, segundo o jornal The New York Times e a agência Reuters. De acordo com o Times, a senadora democrata Dianne Feinstein disse ter sido informada pela Casa Branca de que o presidente pretende proibir a espionagem contra governantes — a medida estaria inclusa em uma ampla revisão à qual deve ser submetida a NSA até o fim do ano.
Na Itália, o primeiro-ministro, Enrico Letta, convocou uma reunião para amanhã com as principais autoridades italianas que compõem o Comitê Interministerial para a Segurança da República, com o objetivo de se informar mais sobre a espionagem feita no país. Em Nova York, até sexta-feira, um projeto de resolução coassinado pelo Brasil e pela Alemanha deverá ser apresentado à ONU com a intenção de estender a proteção da privacidade aos serviços digitais. O país foi um dos principais alvos da espionagem e até mesmo a presidente, Dilma Rousseff, teve as comunicações monitoradas.
Trata-se de informações que nós e nossos aliados da Otan obtivemos conjuntamente para a proteção de nossos países", General Keith Alexander, diretor da Agência de Segurança Nacional (NSA).