Segundo especialista, a aproximação de Riad e Jerusalém pode trazer benefícios para todo o Oriente Médio
Israel e Arábia Saudita têm se aproximado de um acordo de paz. É o que mostram os recentes acontecimentos da última semana, com um depoimento do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu durante a Assembleia Geral das Nações Unidas na sexta (22) e com a visita histórica do ministro do Turismo israelense, Haim Katz, nesta terça-feira (26) ao reino saudita para uma outra conferência das Nações Unidas, sendo a primeira visita de uma autoridade do gabinete israelense ao país na história.
Em seu discurso à Assembleia da ONU, Netanyahu disse que Israel está “à beira” de firmar um acordo histórico de paz com os sauditas, e defendeu os Acordos de Abraão, responsáveis pela estipulação de laços diplomáticos com Bahrein, Marrocos e Emirados Árabes Unidos em 2020, descrevendo a aproximação entre Jerusalém e Riad como um novo capítulo desses tratados, que trariam ainda mais resultados para a região. Israel também já possui laços com a Jordânia e o Egito, fruto de tratados anteriores.
“Essa paz contribuirá muito para acabar com o conflito árabe-israelense. Isso encorajará outros estados árabes a normalizarem as suas relações com Israel, aumentará as perspectivas de paz com os palestinos e encorajará uma reconciliação mais ampla entre o judaísmo e o islamismo”, afirmou o primeiro-ministro em seu discurso. Em sua fala à ONU, Netanyahu também se valeu de um mapa de um chamado “Novo Oriente Médio” para reforçar que, com o novo acordo, “não iremos apenas derrubar barreiras entre Israel e os nossos vizinhos. Construiremos um novo corredor de paz e prosperidade que ligue a Ásia, através dos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Jordânia e Israel, à Europa”.
Durante sua visita aos EUA, Netanyahu também se encontrou com o presidente Joe Biden, Elon Musk (dono do X, antigo Twitter) e concedeu entrevistas a TVs americanas.
Os Estados Unidos auxiliaram no estabelecimento dos Acordos de Abraão, e atualmente estão trabalhando na mediação diplomática do novo acordo com a Arábia Saudita. Para os EUA, o tratado de paz seria vantajoso, já que ambos os países são seus dois maiores aliados no Oriente Médio. Em entrevista à CNN americana, Netanyahu afirmou que “Israel, Arábia Saudita e os Estados Unidos compartilham um objetivo comum – dar um salto quântico… Temos uma oportunidade com os Estados Unidos de mudar o Oriente Médio para sempre”.
Durante as negociações dos últimos meses, os sauditas comunicaram que, em troca do estabelecimento de relações com Israel, eles desejam garantias por parte dos Estados Unidos de segurança e assistência para um programa nuclear civil. Além disso, o governo saudita também disse que só normalizará os laços com Israel se houver progressos na criação de um estado palestino. No entanto, mesmo com esses requisitos ainda em discussão, a reaproximação com Israel já dá sinais de estar acontecendo na prática, como no caso da primeira visita oficial de um membro do gabinete israelense à Arábia Saudita nesta terça (26/09).
Haim Katz, ministro do Turismo israelense, está em uma visita de dois dias à Arábia Saudita como parte de um evento da Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas (OMT). “Após 48 anos, Israel foi escolhido para liderar uma delegação estratégica para o evento. Fomos recebidos calorosamente em Riad pelas autoridades. Estimo que encontraremos muitas delegações na conferência, aquelas com quem temos relações e, estimo, também com aquelas com quem não temos”, disse o ministro a Ynet, veículo jornalístico de Israel.
Em comunicado, Katz também ressaltou que “o turismo é uma ponte entre as nações. A cooperação no campo do turismo tem o potencial de unir os corações e o progresso econômico”, e que ele trabalhará para promover a cooperação, o turismo e as relações exteriores de Israel. Na semana que vem, Shlomo Karhi, ministro israelense das Comunicações, também estará na Arábia Saudita para participar de um congresso internacional.
Segundo André Lajst, cientista político e presidente executivo da StandWithUs Brasil, a aproximação entre Tel Aviv e Riad pode ser de fato benéfica à toda região. “Um acordo com os sauditas resolveria não só o conflito árabe-israelense mas também as relações judaicas islâmicas sobre lugares sagrados, traria mais países para uma possível relação com Israel no futuro e ajudaria no ambiente para um acordo de paz definitivo com os palestinos”, ressalta.
O especialista em Oriente Médio também explica que “nos últimos anos, a criação de laços diplomáticos entre Israel e países vizinhos têm crescido, sendo que alguns países buscam, por meio desses acordos, alcançar maior estabilidade, tecnologia e segurança. Com esse cenário diplomático se expandindo entre as nações no Oriente Médio, a região tende a se tornar cada vez mais estável para enfrentar inimigos em comum, como o terrorismo e o Irã nuclear”.