Flávia Salme, iG Rio de Janeiro | 27/07/2011
Diferentemente das concorrentes que participam da disputa pela venda dos 36 caças que irão renovar a frota da FAB – a sueca Saab e o consórcio francês Rafale Internacional – os americanos da Boeing não mantêm escritórios no Brasil nem fecharam parcerias com empresas e universidades brasileiras. Enquanto os rivais europeus selam acordos com empresários no interior de São Paulo e de Minas Gerias, os executivos da Boeing afirmam seguir na disputa com mais tranquilidade: “Os outros concorrentes não têm como alcançar o mesmo nível de qualidade que o nosso”, afirma Thomas C. DeWald, diretor regional da fabricante para América Latina.
A preferência declarada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao francês Rafale também não preocupa a empresa, afirma o americano. “Com a chegada da presidenta Dilma, e essa disposição dela de rever todos os processos, achamos que o jogo começou de novo. Está todo mundo competindo em pé de igualdade”, diz enquanto a decisão não sai.
Mas tanta “tranquilidade” não significa inércia. Diante das investidas rivais em busca do contrato para fornecer os caças ao programa F-X2, os executivos da empresa reagiram. Recentemente propôs à Embraer 100 mil horas de trabalho de engenharia em conjunto “para trabalhar a capacidade de desenvolver novas configurações e usos para o avião”.
Saiba mais sobre o que diz Thomas C. DeWald sobre a proposta do F-18 Super Hornet.
iG: Até o fim da gestão do ex-presidente Lula, o governo brasileiro manifestou predileção pelo caça francês Rafale. Porém, há informações de que no relatório da FAB, os militares brasileiros teriam afirmado preferir o sueco Gripen. Como a Boeing se vê nessa disputa?
Thomas C. DeWald: Claramente, no final do governo Lula, havia inclinação para a escolha do Rafale, muito em decorrência da relação do Lula com o Sarcozy. Mas com a chegada da presidenta Dilma, e essa disposição dela de rever todos os processos, achamos que o jogo começou de novo. Está todo mundo competindo em pé de igualdade. Estou certo de que a proposta da Boeing é a mais consistente não só pela capacidade da própria Boeing e do F-18 Super Hornet, mas pela tecnologia e pelo valor econômico. Ampliar a capacidade de desenvolvimento na área aeroespacial é de muito interesse do governo brasileiro.
iG: Qual o diferencial do F-18 Super Hornet em relação aos outros dois concorrentes?
DeWald: O Super Hornet sempre foi a melhor aeronave para o governo brasileiro, se considerar custo-benefício. A principal vantagem é que o Super Hornet é bastante conhecido e tem diversas experiências em situações de combate, além de grande capacidade de produção e manutenção. Além disso, conta com todo apoio e infraestrutura da própria Boeing, que é uma empresa maior que as outras duas concorrentes juntas. É um caça que tem muito mais unidades produzidas que os outros dois. E a capacidade operacional da Boeing é sempre ressaltada, especialmente se comparada aos dois concorrentes.
iG: O senhor afirma que a proposta do F-18 Super Hornet é melhor sobretudo pelo custo-benefício? Qual o valor de venda do caça e o custo de operação por hora de voo?
DeWald: Preço de venda do caça é uma questão estratégica na competição. Tenho certeza de que a nossa proposta é a mais consistente e a melhor. O custo de operação do Super Hornet é de US$ 3.200 incluindo combustível e manutenção. É um custo bastante baixo. E é o único comprovado, não é estimativa. O Gripen sequer foi construído e o Rafale está experimentando situações de combate pela primeira vez agora, na Líbia. O F-18 tem milhares de horas de voo e milhares de unidades produzidas.
iG: Em relação à transferência e ao compartilhamento de tecnologia, a proposta americana é integral?
DeWald: A transferência de tecnologia foi completamente aprovada pelo governo norte-americano, tem apoio do presidente Barack Obama, do Congresso e do Departamento de Defesa. Nós oferecemos à Embraer a possibilidade de fazer a montagem final no Brasil, além de uma série de transferências tecnológicas dentro da área de engenharia e montagem e manutenção. A Boeing também propôs à Embraer 100 mil horas de trabalho de engenharia em conjunto para trabalhar a capacidade de desenvolver novas configurações e usos para o avião. O Brasil é totalmente capaz de desenvolver novas características para esse.
iG: O consórcio Rafale afirma que tem o caça mais moderno nesta competição e os suecos defendem que o Gripen NG, que eles propõem desenvolver conjuntamente com o Brasil, será mais barato e melhor que os adversários. Como o senhor avalia as afirmações dos concorrentes?
DeWald: Quando você olha para todo o pacote que a Boeing tem para oferecer ao governo brasileiro, inclusive na área de defesa, e, economicamente falando, os outros concorrentes não tem como alcançar o mesmo nível de qualidade. Se for analisar a avaliação de risco, o Super Hornet é comprovadamente o que mais foi testado e o que tem mais unidades produzidas. Os EUA vão usar essa aeronave até 2035, são pelo menos mais 20 anos de produção contínua de peças, que vai acompanhar o pacote que envolve o avião. Dependendo da demanda e de novas ameaças que possam vir a surgir, há espaço para inovações tecnológicas.
iG: O presidente Barack Obama visitou há pouco o Brasil. Houve algum indicativo sobre a decisão final da compra sobre o F-X2?
DeWald: O governo tem nos dito que a decisão será tomada até o fim deste ano, mas não haverá pagamento até 2012. Encaramos essa fase atual como uma boa oportunidade para estreitar os laços com parceiros anteriores ao processo e para conhecer melhor o mercado brasileiro sua capacidade produtiva e de manutenção. Podem surgir oportunidades de parcerias. Há diversos contatos com universidades brasileiras, por meio de uma unidade chamada Boeing Research Tecnology (Boeing Pesquisa e Tecnologia). Há conversas bastante adiantadas na área de biocombustível.