BOEING – Um futuro sem caças militares


Robert Wall


A Boeing Co. , que fabrica aviões militares há quase um século, está se preparando para a perspectiva de um futuro sem seus caças.

O compromisso firme dos Estados Unidos e muitos de seus aliados com o programa F-35 Joint Strike Fighter, sendo desenvolvido pela concorrente Lockheed Martin Corp., está drenando as verbas para os jatos de combate da Boeing. Agora, o chefe da divisão de defesa da empresa americana está elaborando um plano que cederia o mercado de caças militares para a Lockheed e colocaria o futuro dos negócios da Boeing em outras aeronaves, incluindo versões militares dos seus jatos comerciais.

"É preciso encarar a realidade", diz Chris Chadwick, diretor-presidente da divisão de defesa, espaço e segurança da Boeing, em entrevista ao The Wall Street Journal, referindo-se à mudança de foco da empresa.
 

Matéria publicada há um ano que indicava ainda um otimismo da Boeing. Agora mostra-se dobrada pelos mercado.

Boeing não desiste da Coréia outubro 2013 Link

Os caças da Boeing ainda são muito utilizados, tanto que seus jatos F/A-18 Super Hornet  vêm liderando os ataques aéreos americanos no norte do Iraque. Mas a empresa enfrenta uma escassez de novas encomendas. A produção dos F/A-18 pode ser encerrada em 2017, enquanto o último lote de caças F-15 Eagle, destinado à Arábia Saudita, deve ser entregue em 2019.

A empresa está cogitando reduzir o ritmo da produção para manter a linha F/A-18 por um pouco mais de tempo, na esperança de convencer o Pentágono a financiar mais algumas aquisições para a Marinha. Isso também poderia ganhar tempo para que alguns possíveis clientes fora dos EUA, em especial Canadá e Dinamarca, decidam-se sobre suas compras de caças.

A Boeing afirmou que pode resolver até abril se vai ou não encerrar a produção dos F/A-18 na sua fábrica de St. Louis, no Estado de Missouri, que produz ambos os caças.
 


Chadwick, que assumiu o comando da divisão de defesa e espaço em 31 de dezembro, divulgou cortes de custos e medidas para aumentar a eficiência, visando se adaptar aos orçamentos militares mais enxutos. A Boeing reduziu os gastos da divisão de defesa em US$ 4 bilhões anuais nos últimos três anos, cortando milhares de empregos. Chadwick pretende reduzir mais US$ 2 bilhões em custos, agora que as forças armadas dos EUA e outros países estão dando mais prioridade ao preço do que à capacidade dos armamentos.
Chadwick, que tem 54 anos, apresentou a sua estratégia ao conselho da Boeing no fim de agosto e deve começar a implantá-la na sua equipe no início de outubro, segundo pessoas a par do plano.

Ele planeja realocar as responsabilidades e os produtos das três unidades principais da divisão de defesa — Aeronaves Militares, Redes e Espaço, e Serviços e Suporte — e se concentrar no aumento das receitas com serviços para manter o faturamento anual acima de US$ 30 bilhões. No ano passado, a divisão de defesa foi responsável por US$ 33 bilhões da receita total da Boeing, de US$ 86,6 bilhões.

Num vídeo para os funcionários divulgado este mês, Chadwick enfatizou a necessidade de fazer escolhas difíceis. "Essas decisões podem incluir o formato que queremos dar ao nosso negócio e onde decidimos alocar recursos", disse.

Pessoas informadas sobre o plano disseram que, embora a maioria das mudanças envolvam cargos e metas do pessoal interno, Chadwick está preparado para encerrar programas como os caças. Até mesmo a participação de longa data da Boeing nos voos espaciais tripulados estava em dúvida, até que a empresa ganhou um contrato de US$ 4,2 bilhões da NASA, a agência espacial americana, para fabricar e operar um novo táxi espacial tripulado.

Os problemas com os caças da Boeing começaram em outubro de 2001, quando a também americana Lockheed Martin foi escolhida para o Joint Strike Fighter, um programa de US$ 400 bilhões destinado a substituir a maioria dos caças militares táticos dos EUA.

A Boeing fez um lobby intenso para ganhar novas encomendas para seus jatos F/A-18, mas, depois de perder uma série de concorrências no Brasil, Índia e Coréia do Sul, está vendo suas possibilidades de negócios minguarem, principalmente um muito adiado programa canadense para substituição de caças.

Em 2015, a Boeing também vai fechar sua fábrica de Long Beach, na Califórnia, que fabrica os jatos militares de carga C-17. Combinadas com o fim da produção dos F/A-18 e F-15, as iniciativas vão cortar 50% da receita da divisão de aeronaves militares. A empresa também produz helicópteros e algumas munições.

"A Boeing está numa espécie de encruzilhada", diz Michel Merluzeau, sócio-gerente da consultoria aeroespacial G2 Solutions LLC. "Eles estão divididos entre seu portfólio antigo e um portfólio reformulado."

O diretor-presidente da Boeing, Jim McNerney, disse a investidores, em julho, que manter a receita anual de defesa e espaço em torno de US$ 30 bilhões por ano exige substituir a perda das receitas com caças por novos contratos, como um novo bombardeiro de longo alcance, um proposto jato de treinamento para a Força Aérea dos EUA e o programa de drones da Marinha, o UCLASS.

"Nossa oportunidade de ganhar esses [novos contratos] — uns dois desses — é boa, o que reduziria o risco do lado dos caças", disse McNerney.

Mas a Boeing enfrenta desafios sérios nos três contratos. No programa de bombardeiros, por exemplo, o maior deles, a Boeing e a Lockheed estão concorrendo juntas contra a Northrop Grumman Corp., que, segundo alguns analistas, está mais à frente no desenvolvimento.

A Boeing é uma das quatro empresas concorrendo à próxima fase do programa de drones da Marinha, número que pode ser reduzido este mês. Ela fez parceria com a sueca SAAB AB para desenvolver um novo avião de treinamento, embora o programa não tenha recebido nenhum financiamento do governo.

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