Discurso do Major-Brigadeiro-do-Ar Carlos de Almeida Baptista Jr
ao passar o comando da COPAC
BRASÍLIA 04 Abril 2013
Como já tive oportunidade de colocar aos meus comandados da COPAC, tenho uma admiração especial por um poema do mestre Carlos Drummond de Andrade – cortar o tempo – no qual ele registra seu respeito por quem “anualizou” o tempo. Ensina-nos o poeta que o período de um ano nos leva ao limite da exaustão, sendo suficiente para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Entretanto, é nesta hora, em que mais um ciclo anual se completa, que ocorre o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente. É a esperança se renovando.
Neste 4 de abril, ao completar exatos dois anos da minha assunção como presidente da COPAC, não haverá outro número para simbolizar este novo ciclo… Pelo menos pra mim, nesta posição.
Mas um novo período estará sim começando, dentro de poucos minutos, sob a liderança, a experiência e as convicções do brigadeiro Crepaldi, oficial que reuniu, nos seus onze anos como membro desta comissão, todas as condições técnicas e de personalidade para a desafiadora missão de presidi-la. Parabéns, amigo. Que não lhe falte sabedoria para as decisões difíceis, saúde em todos os momentos e os recursos necessários para o cumprimento das atribuições. Seja muito feliz neste novo período de sua vida, juntamente com seus familiares. Conte sempre comigo.
Voltando à questão do tempo, preciso voltar no tempo e agradecer, mesmo que brevemente, para respeitar o tempo, àqueles que me apoiaram nesta difícil e empolgante tarefa.
Tenente Brigadeiro Saito – além do permanente apoio, de suas orientações e total confiança no meu trabalho, agradeço pela amizade pessoal com que fomos distinguidos, eu e minha família, em mais este período. Por diversas vezes o senhor compartilhou comigo seus pontos-de-vista, estratégias e apreensões sobre diversos assuntos da Força, e isto me facilitou na escolha dos melhores caminhos e na superação dos obstáculos acerca dos projetos a cargo da COPAC. Obrigado comandante, por tudo que recebi do senhor nestes dois anos, e que tenho certeza não me faltará como comandante do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro.
Com a mesma gratidão, registro meus agradecimentos ao Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Azevedo, igualmente decisivo nas vitórias da COPAC neste período do meu comando. A experiência em diversas áreas, inclusive como presidente da COPAC por mais de três anos e meio, a capacidade de v. Exa. para escutar a todos, ponderar e emitir as diretrizes mais adequadas são uma escola permanente para todos nós, líderes e liderados que temos o privilégio do seu convívio. Muito obrigado pelo seu apoio, como Secretário de Economia e Finanças da Aeronáutica, chefe do EMAER e meu amigo.
Ao meu comandante direto, Tenente-Brigadeiro Pohlmann, Diretor-Geral de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, agradeço pela compreensão sobre minhas limitações e excessos, e pelo fácil relacionamento pessoal. Entendo não ser fácil, comandante, ter nesta estrutura tão hierarquizada uma organização militar como a COPAC, que exige, para o bom cumprimento de sua missão, o desenvolvimento e manutenção de relações que em muito extrapolam esta cadeia hierárquica. Neste sentido, sua confiança no meu trabalho veio através do seu envolvimento nas questões realmente relevantes, deixando-me exercer, na plenitude, este comando. Muito obrigado.
Neste ponto, aproveito para agradecer, também, a todos os homens e mulheres da estrutura organizacional do DCTA, sem os quais nossa missão não pode ser cumprida.
A todos os integrantes dos órgãos de direção geral, setorial e de assessoria do Comando da Aeronáutica, deixo meu reconhecimento pelos esforços que uma organização como a COPAC exige. Sem seus apoios, não teríamos os recursos pessoais e materiais, a capacitação profissional indispensável ao nosso efetivo, as orientações logísticas, técnicas e operacionais a serem consideradas nos sistemas sob nossa responsabilidade. Sem cada um dos apoios que recebemos dos senhores e senhoras, não teríamos realizado nossa missão. Muito obrigado.
Da mesma forma, deixo aqui registrado meu agradecimento a todos os órgãos, públicos e privados, que apoiaram o cumprimento da nossa missão. Somos parte de uma corrente, trabalhando por uma Força Aérea e um Brasil mais forte e seguro.
Fazendo parte integrante desta estrutura de desenvolvimento, aquisição e implantação de sistemas para o comando da Aeronáutica, ocupa lugar especial a Indústria de Defesa, constituída por diversas empresas com as quais trabalhamos rotineiramente, muitas delas representadas nesta solenidade. A vocês dedico meus agradecimentos pela cordialidade, sentido de parceria e profissionalismo. A vocês, também, peço que me acompanhem em uma reflexão.
Desde sua criação, a Força Aérea Brasileira identificou a necessidade de dispor de uma indústria aeronáutica forte, instalada no Brasil e suportada por uma estrutura de formação e aperfeiçoamento autóctone. Nesse sentido, estabelecemos parcerias, priorizamos nossos recursos e verificamos com orgulho seus resultados. Temos em cada uma das empresas verdadeiras parceiras, e esperamos tê-las conosco por longo prazo.
Em que pese seus objetivos passarem por expressões como ativos, passivos, margem de lucro, ebitda etc e nós preferirmos outras tais como capacidade operacional, pkill, sobrevivência, ecp, nossa parceira não sobreviverá ser não for estabelecida e mantida uma relação ganha-ganha, que jamais despreze que é a necessidade operacional a origem da aplicação dos recursos que nos são disponibilizados.
A guisa de exemplo identifico, com tristeza e preocupação, que as possibilidades de transferência de tecnologia para nossa indústria – verdadeiras ou não, praticáveis ou inviáveis – assumiram posição de destaque no processo de seleção do projeto F-X2, e que em muito contribuíram para que a decisão final ainda não tenha sido tomada, e que a necessidade operacional ainda não tenha sido atendida.
Já como comandante da Defesa Aeroespacial do Brasil, cargo que assumi há três dias, ratifico a importância de priorização deste tema, não apenas por vislumbrar os grandes eventos que ocorrerão em nosso país, mas por julgar que nosso povo merece um adequado nível de segurança, todos os dias, independente do que uma competição esportiva possa significar de exposição ou de ameaça.
De forma alguma, registro esta minha opinião para culpar a indústria pela não decisão sobre o projeto F-X2, mas apenas para enfatizar que é a falta de uma capacidade operacional, e não qualquer outro aspecto, o ponto fulcral do problema. A capacidade será trazida por um sistema de armas, e todo o resto, inclusive lucro e transferência de tecnologia, serão consequências.
Meus amigos e amigas:
Em minhas passagens de cargo anteriores, muitos dos senhores e senhoras testemunharam algumas figuras de linguagem que usei para me dirigir à minha família. Lembro-me, com destaque, da escalada de uma montanha, e mesmo de ter enfatizado para eles que somos os únicos profissionais que seguidamente pedimos desculpas pelas ausências do lar, mas que jamais prometemos mudar este comportamento.
Na passagem de hoje, entretanto, este aspecto familiar não me soa tão lúdico, embora meu sentimento de agradecimento à Cristiane, Priscilla e Bruno seja talvez o mais forte já vivido.
Em toda minha vida profissional, a proteção de minha mulher e filhos foi para mim um norte. A exemplo do que nutro por meus pais, esforço-me para que eles tenham no meu comportamento um farol que os leve a um futuro vitorioso e feliz, com base na ética e na honestidade.
Infelizmente, nesta passagem como presidente da COPAC não me foi possível mantê-los afastados de meus problemas profissionais. Possivelmente não acreditando que haja alguém capaz de executar mais de três bilhões de reais, em dois anos, sem se beneficiar disto, um mau profissional é capaz de calúnias e difamações. Talvez ele, acostumado com as notícias que semanalmente vê publicadas, desconheça que é possível gerir recursos com probidade e responsabilidade. Aqui, nesta instituição militar, temos muitos exemplos.
Cristiane, Priscilla e Bruno – mais uma vez obrigado pelo apoio e por terem aceito o alto preço para que eu continuasse nesta missão, até o final. Quando não mais conseguirem, jamais duvidem da minha prioridade: será hora de partirmos para nossa próxima montanha. Amo vocês.
Meus comandados:
É tempo de partir. É tempo de deixá-los, embora um pedaço meu fique aqui… E um pedaço de cada um de vocês parta comigo.
Nestes dois anos aprendi muito: gestão de projetos sim – foram vinte e dois; de recursos também – mais de três bilhões de reais pagos. Mas aprendi, mesmo, foi gerir pessoas competentes e conhecimentos acumulados nos nossos corredores, em cada processo administrativo, em cada seleção de fornecedores, em todos os recebimentos de etapas e em cada linha dos documentos que vocês produziram.
Aprendi que a COPAC é respeitada por todos, nacional e internacionalmente, pelo alto grau de comprometimento e profissionalismo de cada um de seus membros, de hoje e do passado.
Aprendi que a perfeição é um objetivo permanente desta organização militar, que a humildade não impede o sucesso continuado e que neste lugar todos os princípios da administração pública são observados e respeitados.
Aprendi, nas palavras da nossa consultora jurídica-adjunta – minha querida amiga Dra. Jurema, que a confiança na competência da COPAC foi construída com muita dedicação de todos que aqui trabalharam.
Aprendi com meu vice-presidente e amigo, Coronel Paulo Henrique, que somos constituídos por “gente que faz”, e que não importa o limão que tenhamos em mãos, faremos uma deliciosa limonada.
Foi uma honra e um privilégio ter sido seu comandante.
Finalmente, e com a certeza de que vocês prestarão ao Brigadeiro Crepaldi a mesma consideração, apoio e amizade que me emprestaram, deixo, nesta minha última ordem do dia, meu desejo de que sejam muito felizes.
Muito obrigado.
Brasília, 4 de abril de 2013.
Major-Brigadeiro-do-Ar Carlos de Almeida Baptista Junior
Presidente da COPAC – Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate