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MST – Cisão nas coxilhas de São Gabriel

Carlos Wagner


A carta dos dissidentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) entregue, no final da tarde de terça-feira, para a direção nacional da organização em Brasília, começou a ser rascunhada nas coxilhas de São Gabriel, em agosto de 2009. Foi lá que um tiro de espingarda calibre 12 disparado por um soldado da Brigada Militar matou o colono Elton Brum, 44 anos.

A direção estadual do MST recebeu a carta também na terça-feira, durante um encontro que acontecia em Viamão. A morte foi resultado do enfrentamento entre um grupo de agricultores do MST, que havia invadido uma pequena coxilha da Fazenda Southall, com tropas da BM. A posição da direção do MST era pela não radicalização. Mas estava no comando da invasão a Frente de Massa (FM), uma espécie de comissão da organização que nasceu em 1989 com a missão de ligar a direção com a comunidade. A frente era liderada por Ivonete Tonin, a Nina, uma das mais radicais e respeitadas líderes do MST. Ao lado dela estava Irma Ostrovski, a Polaca, líder de diversas invasões.

A morte de Brum afastou Nina e Polaca da direção do MST. Não houve rompimento imediato por interferência direta de João Pedro Stedile, um dos fundadores do movimento. Menos de um mês depois da morte de Brum, um outro episódio estremeceu as relações entre a Frente de Massa e a direção. Um grupo invadiu a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Porto Alegre, depredou o prédio e furtou equipamentos. O caso virou um inquérito na Polícia Federal (PF).

Na ocasião, Nina disse a Stedile que os furtos e as depredações eram obras de infiltrados entre os agricultores. Não eram. Já existiam diversos líderes urbanos radicais misturados entre os sem-terra mobilizados pela Frente de Massa. Logo depois estourou um escândalo envolvendo líderes do MST, incluindo alguns dos seus fundadores, com compra, venda e arrendamento ilegal de lotes nos assentamentos, como a Fazenda Annoni, um gleba de terra à beira da estrada Passo Fundo-Ronda Alta considerada o cartão-postal da reforma agrária.

O escândalo acabou reaproximando a Frente de Massa da direção do MST. O plano era pegar lideranças como Nina e usá-las na criação de um novo movimento. O plano falhou porque os líderes da frente se recusaram a carregar o pesado caixão com cadáver do movimento, que foi abatido pela perpetuação no poder do grupo político ligado ao Stedile, as vendas de lotes e o atrelamento aos governos do PT em troca de acessos aos programas oficiais de financiamento.

DefesaNet

Um racha histórico no MST 24 Novembro 2011 Zero Hora Link

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