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Os militares numa blitz na Avenida Brasil – Guilherme Pinto / Agência O Globo

 

RIO – Aumento no frete, produtos mais caros, impacto nas exportações, seguros exorbitantes, evasão de investimentos, produtividade comprometida e funcionários traumatizados. Todo ano, a falta de segurança no país custa — tanto ao governo como ao restante dos brasileiros — mais de R$ 365 bilhões. O número equivale a 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo aponta um levantamento inédito feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao qual o GLOBO teve acesso com exclusividade.

 

A Guerra do BrasilA Guerra do Brasil

 

 

 

Calculado com base em dados oficiais publicados entre 2012 e 2016 e compilados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o passivo bilionário, se dividido por cada brasileiro, resultaria em uma conta anual de R$ 1,8 mil.

LEIA: Empresário e caminhoneiro dizem quanto custa conviver com o crime

O número parece grande. É maior. Segundo especialistas, a estimativa é conservadora.

 

— Todas essas perdas são muito difíceis de mensurar. Estimamos esses R$ 365 bilhões, mas o prejuízo tem potencial de ser bastante maior — sustenta Maria Carolina Marques, especialista em políticas em indústria da CNI.

Para se ter uma ideia, a cifra total equipara-se aos setores da construção (5,2%), da agropecuária (5,3%) e é superior à indústria extrativa-mineral (petróleo e minério de ferro) e de utilidade pública (água, esgoto e energia elétrica), que, somadas, representam 4,5% do PIB brasileiro.

Os dados mostram que as despesas públicas com segurança e sistema prisional anuais somaram R$ 101 bilhões, enquanto os custos privados se igualam a R$ 264 bilhões. Em 2016, por exemplo, os gastos com segurança pública apenas das secretarias estaduais somaram R$ 86 bilhões. E em 2015, segundo o estudo, a indústria gastou R$ 112 bilhões com segurança privada e seguros.

Os custos sobre a saúde pública, educação e turismo, embora “intangíveis”, merecem atenção, segundo a pesquisadora da CNI. No caso do Rio Janeiro, por exemplo, a falta de segurança reflete também na capacidade de aprendizado dos alunos de escolas em comunidades conflagradas pelo tráfico e por milícias. Segundo Carolina, isso traz consequências de longo prazo sobre a produtividade desses alunos no mercado de trabalho.

 

MAIS GASTOS, MENOS RESULTADOS

O estudo foi entregue pela CNI a seis pré-candidatos à Presidência da República: Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Ciro Gomes (PDT) e Alvaro Dias (Podemos).

Embora os gastos com segurança tenham sido incrementados pela União, por estados e municípios, a violência continuou a subir no decorrer dos últimos dez anos, conforme o levantamento. Entre 2007 e 2016, a administração pública das três esferas de governo aumentaram em 27,5% os gastos com segurança, descontada a inflação.

 

Consequência bilionária
Entenda quanto a violência custa ao país
R$ 264 bilhões
São custos privados
Quanto equivale
5,5% do PIB
ou uma taxa anual de
R$ 1,8 mil
para cada brasileiro
A falta de
segurança custa
R$ 365 bilhões
O percentual do PIB é
equivalente aos setores
por ano ao Brasil, em
gastos públicos e privados
5,2%
construção
5,3%
agropecuária
R$ 101 bilhões
São despesas públicas, com segurança e sistema prisional, no período
Superior à indústria extrativa-mineral (petróleo
e minério de ferro) e de utilidade pública (água,
esgoto e energia elétrica),
que, somadas, representam
4,5% do PIB brasileiro
GASTOS COM SEGURANÇA PÚBLICA AUMENTARAM…
União
Estados
Municípios
Em 10 anos (2007 e 2016) houve um aumento de
27,5%
nos gastos com segurança pública feitos por União, estados e municípios (já descontada a inflação)
R$ 8,3 bi
2007
R$ 8,8 bi
2016
R$ 2,5 bi
2007
R$ 5,1 bi
2016
52,7 bi
2007
R$ 67,3 bi
2016
Aumento de
5,8 %
Aumento de
27,5 %
Aumento de
98,3 %
ROUBO DE CARGA
AGRESSÕES
Seguros
Entre 2011 e 2016,
houve aumento de
Os gastos com seguros pagos
pelas empresas somaram
Apenas as vítimas de agressões resultaram em 56 mil internações hospitalares em 2015, o que representou um custo de
86%
R$ 50 bilhões
R$ 85 milhões
no número de casos de roubo de cargas no Brasil, sendo que os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, conjuntamente, responderam por 89% de todas as 22.547 cargas roubadas em 2016.
em 2015, incluindo seguro de veículos, cargas e patrimoniais.
para o sistema público de saúde. Há no Brasil, anualmente, 500 mil concessões de auxílio-doença e aposentadorias associadas às morbidades por causas violentas.
Fonte: Confederação Nacional da Indústria e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Consequência bilionária
Entenda quanto a violência custa ao país
A falta de
segurança custa
R$ 365 bilhões
por ano ao Brasil, em
gastos públicos e privados
R$ 264 bilhões
São custos privados
R$ 101 bilhões
São despesas públicas, com segurança e sistema prisional, no período
Quanto equivale
5,5% do PIB
ou uma taxa anual de
R$ 1,8 mil
para cada brasileiro
O percentual do PIB é
equivalente aos setores
5,2%
construção
5,3%
agropecuária
Superior à indústria extrativa-mineral (petróleo
e minério de ferro) e de utilidade pública (água, esgoto e energia elétrica), que, somadas, representam
4,5% do PIB brasileiro
GASTOS COM SEGURANÇA PÚBLICA AUMENTARAM…
Em 10 anos (2007 e 2016) houve
um aumento de
27,5%
nos gastos com segurança pública feitos por União, estados e municípios (já descontada a inflação)
União
R$ 8,3 bi
2007
R$ 8,8 bi
2016
Aumento de
5,8 %
Estados
52,7 bi
2007
R$ 67,3 bi
2016
Aumento de
27,5 %
Municípios
R$ 2,5 bi
2007
R$ 5,1 bi
2016
Aumento de
98,3 %
ROUBO DE CARGA
Entre 2011 e 2016, houve aumento de
86%
no número de casos de roubo de cargas no Brasil, sendo que os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, conjuntamente, responderam por 89% de todas as 22.547 cargas roubadas em 2016.
AGRESSÕES
Apenas as vítimas de agressões resultaram em 56 mil internações hospitalares em 2015, o que representou um custo de
R$ 85 milhões
para o sistema público de saúde. Há no Brasil, anualmente, 500 mil concessões de auxílio-doença e aposentadorias associadas às morbidades por causas violentas
Seguros
Os gastos com seguros pagos
pelas empresas somaram
R$ 50 bilhões
em 2015, incluindo seguro de veículos, cargas e patrimoniais.
Fonte: Confederação Nacional da Indústria e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

 

 

Na esteira desse aumento, cresceu também a repressão à criminalidade, o que produziu um número maior de criminosos presos. O levantamento mostra que o total de encarcerados cresceu 144% em 12 anos. Em 2005, havia no Brasil 297 mil presidiários. Em 2016, esse número se aproximou dos 700 mil — novos dados ainda estão sendo consolidados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A repressão, no entanto, não conseguiu estancar a violência. Os roubos de carga no Brasil, por exemplo, aumentaram 31% em dez anos, de 2007 a 2016 — passando de 10,1 para 13,2 por 100 mil habitantes. No mesmo período, os assaltos a instituições financeiras saltaram de 1,5 para 2,2 a cada 100 instituições — alta de 47%.

— Há um aumento de prisioneiros bastante significativo, o que acarreta aumento nos gastos, mas continua havendo aumento de homicídios e roubos de carga. A questão não é só gastar mais, você precisa gastar bem — diz Renato da Fonseca, economista da CNI que coordenou o estudo.

SOLUÇÕES POSSÍVEIS

Entre 2011 e 2016, a expansão do número de casos de roubo de cargas foi ainda maior, atingindo 86%. Só os estados de São Paulo e Rio de Janeiro responderam, juntos, por 89% das 22.547 cargas roubadas em 2016. O custo desse tipo de crime é embutido no preço das mercadorias e faz o país menos competitivo no mercado internacional.

Em 2015, os gastos de empresas com seguros para veículos, cargas e patrimoniais somaram R$ 50 bilhões. O preço do frete também subiu, engrossado pela cobrança de uma alíquota referente aos custos com gerenciamento de riscos, que pode chegar a 1% sobre o valor da carga.

Para além do impacto direto nas despesas, as empresas ainda têm de arcar com problemas de produtividade gerados pela falta de segurança. Segundo aponta o levantamento, em 2015, houve 56 mil internações hospitalares de vítimas da violência, o que representou um custo de R$ 85 milhões para o sistema público de saúde.

Apresentado pelo governo federal como parte da solução para o problema da segurança no país, o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), aprovado em maio pelo Senado, é considerado tímido por especialistas.

 

— O Susp avança, mas não é uma legislação que vai resolver o problema. Embora toque no ponto certo, ainda é tímida porque não cria condições para coordenação efetiva e integração. Vai depender de quem for eleito, tanto no âmbito estadual quanto federal, colocar essa lei em prática — avalia diz Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Segundo o estudo, parte da solução para a segurança é corrigir a formação de policiais e criar um banco de dados judiciais integrado entre poderes.

— A formação e o treinamento de investigadores no Brasil é muito deficiente. Não são treinados com técnicas de investigação e interrogatório, por exemplo. Eles aprendem mais com os mais antigos sem método. Um foco melhor em perícia e formação traria melhores resultados — afirma Maria Carolina Marques, da CNI. (Colaborou Cassia Almeida)

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