Centenas de pessoas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fizeram uma manifestação hoje (20) na Praia do Leblon, no Rio de Janeiro, e aproveitaram para passar o feriado da Dia da Consciência Negra na praia. De ônibus, eles partiram de São Gonçalo, na região metropolitana, onde a ocupação Zumbi dos Palmares foi desmontada semana passada . A ideia era aproveitar o dia também para lembrar que o racismo e a exclusão social nas cidades dificultam o acesso à moradia digna.
Um dos coordenadores do MTST, Carlos Augusto Melo, disse que a sociedade precisa acelerar o acesso a direitos para a população negra, como forma de superar a exclusão provocada pela escravidão e a falta de políticas públicas desde então. “Há racismo na própria ausência de negros em espaços privilegiados como esse [Praia do Leblon, na zona sul]. E, mais diretamente, na revista que as pessoas sofrem, por exemplo, para chegar até aqui”, criticou. Nos ônibus que levaram os manifestantes, foi feita uma pesquisa e quase a totalidade das pessoas nunca havia ido até o Leblon.
Nas contas do movimento, cerca de 55% da população de São Gonçalo – município mais populoso do estado- são formadas por pessoas pretas e perdas, os chamados negros, que também eram maioria na ocupação Zumbi dos Palmares. Vivendo de aluguel e em moradias precárias, eles aderiram ao movimento, com a expectativa de receberem imóveis do Programa Minha Casa, Minha Vida Entidades, em que o governo atua em conjunto com organizações da sociedade.
Tendo que cuidar dos filhos, Celi Gomes, de 42 anos, diz que a renda não sobra para comprar a casa própria. “Moro de favor. Tenho seis filhos e preciso de uma casa”, disse. Hoje, a família dela se divide entre um quarto e uma sala em uma área com pouca infraestrutura. “Precisa de posto de saúde, escola e praça de lazer. Vivemos em meio a bandidagem, vala negra [esgoto a céu aberto], não tem nada para as crianças e, quando chove, molha mais dentro do que fora de casa”.
Com a valorização imobiliária em São Gonçalo, reflexo de grandes obras no entorno da cidade, os moradores reclamam do aluguel alto e do preço dos imóveis na região. O pedreiro Birau Peixoto, de 65 anos, que foi à praia com o MTST, disse que esses fatores dificultam a compra da casa própria por famílias pobres, com pouca renda, e cobra políticas públicas de habitação.
Peixoto lembrou que esta semana, um conjunto do Minha Casa, Minha Vida, chegou a ser invadido em Guadalupe , na zona norte da cidade do Rio. “Isso mostra a necessidade do povo. São pessoas que realmente precisavam das casas e, no fim, aceitaram sair de lá pacificamente. É como aqui [no MTST]. Só está na luta quem precisa de um lugar para morar”, afirmou.
Rosane Maria Pinto decidiu aderir ao movimento na fase da ocupação. Ela vive com o marido, o sogro, dois filhos e duas sobrinhas em uma unidade com dois quartos e cozinha. “Meu marido e eu, trabalhamos muito, mas não conseguimos juntar para construir uma casa nossa. Sozinha eu não vou conseguir ter, minha família também não conseguiu, todo mundo sempre morou de aluguel. A gente precisa dar algo melhor para os nosso filhos. Por isso, estamos aqui”.
O movimento esperava uma reação hostil dos frequentadores do Leblon, mas não houve tumulto. Segundo o barraqueiro que atua no local, Leonardo da Paixão Frederico, muitos banhistas apenas se retiraram. “Aqui, infelizmente, é zona sul. Nossos clientes foram embora por causa do barulho, com medo de confusão. Os bacanas não gostam disso”, disse, reclamando do prejuízo.
Nas contas da prefeitura de São Gonçalo, o déficit habitacional é 20 mil pessoas.
Nota DefesaNet
O Planalto tem acionado os seus movimentos (irregulares) de apoio com o objetivo de criar focos divergentes de notícia com a geração de conflitos.
Assim levar grupos de sem-teto, e pessoas humildes para confrontar a região do metro quadrado mais caro do Brasil.
A decepção de não ter o confronto, pois os moradores e usuários normais se retiraram é expresso no próprio texto da Agência Brasil.
O Editor