Ricardo Fan
Enviado Especial à FIDAE – Santiago
França e Brasil têm partilhado uma cooperação bem sucedida de longa data nas áreas de desenvolvimento de produtos militares e espaciais. E a empresa européia MBDA (ver formação da societaria ao fim do artigo), em sua atução junto ao Brasil é um bom exemplo dessa cooperação. Sendo o único grupo europeu capaz de projetar e produzir mísseis e sistemas de mísseis para atender toda a gama de necessidades atuais e futuras das três forças armadas: Exército, Marinha e Força Aérea.
Durante a FIDAE 2016 conversamos com o Sr. Patrick de la Revelière, Vice-Presidente de Vendas para America Latina da MBDA, referente aos projetos para o Brasil. Porém, a nossa conversa gerou mais entorno dos requisitos de Defesa Aérea, a MBDA é um fator chave no domínio das tecnologias de defesa aérea e oferece uma ampla gama de sistemas que cobrem todo tipo de ameaças, desde aviões de combate ao VANT (Veículos Aéreos Não Tripulados) para mísseis de cruzeiro. Os sistemas ASTER e o VL MICA, os mísseis da MBDA a colocaram na vanguarda deste campo tecnológico. Ainda no final de dezembro de 2015, a governo francês concedeu oficialmente à MBDA o contrato para desenvolver o míssil antimísseis ASTER Bloco 1 NT (New Technology).
DefesaNet – Como está MBDA dentro da FIDAE e as perspectivas de negócios para à America Latina?
Sr. Patrick de la Revelière – Obviamente a FIDAE é um dos eventos mais importante da região, em termos dessa qualidade de feira é o mais antigo (America Latina) e a MBDA com certeza não pode deixar de participar da FIDAE. A nossa presença aqui é totalmente lógica e necessária.
Bem, como vocês sabem a MBDA é praticamente uma empresa nova, tem um pouco mais de 10 anos, mas ela também é o resultado da junção de várias empresas que estão atuando a mais de 40 anos na região e nós temos produtos distribuídos por quase todos países da America Latina. Assim, para isso a FIDAE também é importante, pois você vai encontrar os representantes das Forças Armadas da região e do mundo afora também. E isso com certeza justifica também a presença da MBDA na FIDAE.
Quantos aos programas desenvolvidos junto ao Brasil?
Quanto ao Brasil, nos estamos desenvolvendo programas de longo prazo e já estamos com essa parceria há mais de 10 anos. Os programas de desenvolvimento de produtos, vamos dizer, de parte de nossos produtos no Brasil, o primeiro programa foi o desenvolvimento do Exocet MM40, e foi um sucesso. Todos os mísseis da Marinha Brasileira foram renovados com um novo sistema, parte do míssil feito no Brasil. Agora estamos trabalhando também em um programa de motorização dos futuros Exocet AIM39 que irão equipar os helicópteros da Marinha (H225M) para missões antinavio.
Isso são programas em andamento, realizados ou em andamento, e nos temos projetos também com a parceria que estabelecemos com a AVIBRAS e com a MECTRON , com equipes de engenheiros da MBDA trabalhando há mais de 10 anos juntos, isso cria uma intimidade entre as empresas e uma maneira de saber como realizar produtos e projetos juntos, que dá muita credibilidade para nós (MBDA). É por isso que AVIBRAS está hoje trabalhando conosco, já alguns anos, para desenhar um sistema de defesa antiaérea com conteúdo nacional majoritário , baseado na capacitação do sistemas ASTROS 2020 para essa missão.
Então, a ideia é de realmente usar o Astros 2020 como base do sistema, porque é um sistema que já entrou em operação no Exército e o Corpo de Fuzileiros Naval. Assim, hoje eles tem a capacidade de lançar foguetes, mas ainda não tem uma capacidade de defesa antiaérea.
A ideia é que a partir desse sistema, dotando de um sistema de radar… E há um radar brasileiro em desenvolvimento que é o Saber 200, que seria um radar perfeito para equipar esse sistema. Com uso do radar brasileiro, com um C2 que já existe no Brasil e já é um produto totalmente desenvolvido pela AVIBRAS, o ASTROS poderia evoluir para capacidade antiaérea com um míssil que seria feito em parte aqui (Brasil) e em parte conosco (MBDA).
A MBDA como parceiro estrangeiro poderia trazer seu know-how da defesa antiaérea e AVIBRAS tem toda a capacidade industrial de pesquisa e desenvolvimento e produção para fazer o sistema funcionar no Brasil.
A MBDA com o seu know-how de distribuição no exterior poderia ser um parceiro de vendas da AVIBRAS no mercado internacional?
Claro! Porque os ASTROS não são usados apenas no Brasil, o ASTROS são um sucesso de vendas internacional da AVIBRAS e da indústria de material bélico brasileiro. Então fica claro que se essa plataforma adquira para o Brasil a capacidade antiaérea, ela se tornará um potencial de vendas para exportação do mesmo sistema, agora uma coisa é muito importante: credibilidade na exportação começa pelo fato que seu próprio país é o primeiro usuário do sistema. Você tem um argumento muito mais forte para vender seu sistema se as suas próprias Forças Armadas estão operando o sistema. Isso é muito importante e dá uma segurança muito forte para os futuros usuários lá fora.
O General-de-Exército Juarez, Chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército (DCT) acompanhado do General-de-Brigada Engenheiro Militar Pegado, estavam visitando o stand da MBDA, foi apresentado o Sistemas de Defesa Antiaéreo para os Generais?
Bem, eu não costumo comentar as nossas conversas com do nossos clientes, mas eu reparei que você estava ao redor e que você viu que estávamos conversando, feira não é o melhor lugar para ter uma discussão reservada com o cliente, então eu vou deixar a você a inteira responsabilidade desse comentário. Mas não podemos negar que nós encontramos com o General Juarez e ficamos muitos felizes em receber essa visita.
E para mim, foi a ocasião de falar exatamente o que eu acabei de falar para você. De falar da cooperação que estamos desenvolvendo com a AVIBRAS há muitos anos e com sucesso. E de mostrar o que nós temos para frente. É muito importante… Uma das preocupações que o Exército tem é conteúdo nacional e antes dos generais perguntarem e comentarem isso (nacionalização) eu já tinha falado que o sistema que nos oferecemos com a AVIBRAS para defesa antiaérea baseado no ASTROS, que seria o ASTROS Antiaéreo, é um sistema que tem 70% de conteúdo nacional.
A situação econômica atual no Brasil afeta de alguma forma os planos da MBDA para o Brasil?
Não! Eu diria até ao contrário, quanto mais dificuldades que o Brasil enfrente, isso nos dá mais razões de estreitarmos nossos laços com a indústria brasileira. Porque nos sabemos que é um caminho longo e que só unidos nós vamos conseguir chegar do outro lado. Então é uma motivação suplementar para nós (MBDA) oferecer ao Brasil soluções, que vão dar ao país não só uma razão para comprar um sistema que ele precisa, mas também para saber que comprando esse sistema ele esta desenvolvendo a sua própria industria. Para nós é uma motivação suplementar.
E ainda! Eu sou brasileiro, então eu faço parte do povo e eu desejo aos brasileiros e a mim mesmo superar esse momento difícil. Para, como sempre fizemos, chegar um futuro mais brilhante. E nós já superamos isso varias vezes. Nós temos uma capacidade de resiliência muito forte e força moral para continuar.
Nota – Formação da MBDA: foi criada em Dezembro 2001, com a unificação das empresas que participam do desenvolvimento e produção de sistemas de mísseis europeus: França, Alemanha, Inglaterra e Itália.