Modelo Chinês – Cada vez mais inspiração para Emergentes

Dambisa Moyo


As economias emergentes do mundo enfrentam uma crise nascente. Esses países são o lar de 90% da população mundial e, na média, 70% dessas pessoas têm menos de 25 anos de idade. Esses cidadãos jovens sonham com uma vida melhor, mais liberdade e melhores oportunidades. Eles estão tomando as ruas desde a África do Sul e a Tailândia até o Brasil e a Ucrânia.

Mas muitos governos no mundo em desenvolvimento estão retrocedendo em vez de avançar — e respondem ao descontentamento popular seguindo alguma versão do que veem como o "modelo chinês". Os resultados podem ser terríveis para a economia global. O tamanho considerável das economias emergentes — uma lista que começa com os chamados Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), mas dificilmente se resume só a eles — significa que suas ações podem sacudir as bolsas e os mercados de renda fixa, fazer oscilar o câmbio, impulsionar os preços das commodities, alterar o comércio global e influenciar decisões de investimentos das empresas.

Esses países possuem políticas e culturas extremamente variadas, mas a causa principal dos movimentos em todos eles é um leque notavelmente semelhante de problemas econômicos enraizados: crescimento lento, pobreza persistente, salários estagnados e um desemprego que tira milhões de pessoas do mercado de trabalho e elimina qualquer perspectiva real de progresso para elas e suas famílias.

Uma taxa de crescimento de 7% é o mínimo requerido para dobrar a renda per capita em uma geração e, assim, provocar uma redução significativa na pobreza. Mas, na maior parte do mundo emergente, as taxas de crescimento não chegam nem à metade deste número no curto prazo. No Brasil, Tailândia e Rússia, o crescimento ficará abaixo de 3% em 2014, segundo projeções recentes do Fundo Monetário Internacional.

E as podem piorar. Sob pressão de cidadãos corretamente ansiosos por progresso, muitos líderes destes países estão recorrendo a políticas que, no longo prazo, deverão inibir o crescimento econômico e provocar mais agitação. Tarifas, cotas, embargos de exportação e até expropriações diretas já começaram a emperrar o crescimento do comércio global. Em 2013, a Organização Mundial do Comércio revisou sua previsão de crescimento do comércio mundial de 4,5% para 3,3% — bem abaixo da média de crescimento de 5,3% dos últimos 25 anos.

Tendências protecionistas — na Índia, Brasil e outros países — estão produzindo gargalos nos fluxos de capital entre as fronteiras. O movimento de dinheiro através do sistema financeiro ficou estagnado nos últimos dez anos: em dólares, a entrada de capital nas economias do G-20 caiu cerca de 70% desde meados de 2007.

Ao mesmo tempo, o papel do governo nessas economias emergentes está crescendo. As 13 principais empresas de petróleo do mundo são estatais, principalmente no mundo em desenvolvimento. E nove dos dez maiores fundos soberanos estão nos mercados emergentes.

Outras potências em ascensão estão ansiosas para repetir o sucesso da China e adotam medidas estatizantes que podem provocar uma mudança no curto prazo. Sob um capitalismo de Estado, a China atingiu um crescimento espetacular, tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza, aumentou os investimentos em infraestrutura e elevou os serviços sociais.

Além disso, durante a ascensão da China autocrática, a democracia e o capitalismo sofreram uma série de retrocessos que os tornam opções menos atraentes. Esses reveses vão desde altos níveis de desigualdade de renda nos EUA até a ascensão dos governos na Rússia, Venezuela e outros lugares que são supostamente democráticos, mas que limitam pesadamente a liberdade de expressão e a aplicação das leis.

Muitos líderes de economias emergentes veem cada vez mais o crescimento econômico como um pré-requisito para democracia, em vez do inverso. Eles apontam para economias florescentes não apenas na China, mas também, historicamente, em países autocráticos como a Cingapura de Lee Kuan Yew e o Chile do General Augusto Pinochet.

A trajetória da China é inquestionavelmente notável. Mas o modelo chinês não é tão viável quanto seus admiradores no mundo emergente costumam pensar. Primeiro, ao contrário de muitos mercados emergentes, o crescimento da China foi provocado principalmente pelas exportações. Seu sucesso é dependente do livre mercado ocidental.

A maioria das outras economias emergentes é dependente de commodities agrícolas — o tipo de produto que os EUA e a Europa subsidiam domesticamente.

Segundo, um sistema econômico centrado no Estado é ineficiente porque desloca os mercados. Quando o governo é o principal árbitro econômico, os ativos são inevitavelmente precificados de forma errada, o que solapa o crescimento sustentado de longo prazo. Isso também cria desequilíbrios entre a oferta e a demanda, o que, por sua vez, pode gerar inflação e distorcer os juros.

Finalmente, políticas que imitam a China podem criar uma explosão de emprego no curto prazo, mas elas também produzem externalidades negativas sérias e um peso morto econômico. A própria China está agora lutando com um endividamento massivo em seu setor financeiro, uma bolha imobiliária que pode explodir a qualquer momento e a poluição, problemas que reduzem o crescimento.

Deveria ser preocupante que, em face do crescimento do descontentamento popular, muitos líderes dos mercados emergentes estejam se voltando para modelos autoritários e centrados no Estado. Qualquer que seja o apelo político de curto prazo de tais medidas, elas deverão, no longo prazo, exacerbar as turbulências sociais e criar um círculo vicioso tanto para os mercados emergentes como para o mundo.

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