O NOVO GOVERNO E A TRANSFORMAÇÃO DA FORÇA TERRESTRE
Carlos Alberto Pinto Silva
General-de-Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.
A diferença…
A diferença estará, cada dia mais, na capacidade de mudar, de adaptar-se a novos tempos e a novos paradigmas!
A capacidade de lidar com a natureza humana ajudará a, no curto prazo, gerar as mudanças que se mostram necessárias a Força Terrestre.
Vivemos num mundo novo, que exige ideias novas, não podemos numa conjuntura de ameaças convencionais, multidimensionais, e de quinta geração da guerra, trabalharmos com paradigmas antigos.
No caso da Força Terrestre (F Ter), a “quebra” de paradigmas é algo difícil, pois abarca aspectos de ordem cultural e requer mudanças dramáticas na doutrina e nos conceitos organizacionais e operacionais.
A questão no Brasil é definir se almejamos uma F Ter moderna (transformada) ou modernizada ou se, devido à escassez de recursos ou por necessidade do país, só poderemos adaptá-la.
Moderna: Que vive na época atual. Algo que é recente, novo, do tempo presente. Evolucionista, progressista, isto é: favorável ao progresso, às ideias novas, às reformas.
Modernizada: Atualizada na qual foi feito um upgrade (upgrade muito utilizado em computação como significado de atualizar).
A adaptação e a modernização constituem caminhos válidos, mas costumam trazer soluções limitadas a determinadas conjunturas.
F Ter moderna, isto é transformada, por sua vez, representa o caminho mais sólido, mais seguro e que melhor condição oferece para a verdadeira evolução do poderio bélico nacional.
É importante, para o Brasil, conceber as Forças Armadas como um instrumento da política exterior, com capacidade para enfrentar as novas ameaças e não somente em função de hipóteses fronteiriças, às vezes desvinculadas dos interesses e das oportunidades do Estado Brasileiro.
Atualmente é necessário desenvolver capacidades combinadas e com possibilidades de interoperabilidade internacional; adotar organizações mais ligeiras e polivalentes, dotadas de reservas móveis, com maior capacidade de durar na ação pela facilidade de sustentação logística e segurança própria; preparar forças para desempenho eficiente em operações multinacionais; e definir claramente sua função no desenvolvimento nacional, tomando cuidado para que sua função principal não seja deturpada; desenvolver as capacidades para executar as “novas missões” da Guerra de Quinta Geração, embora as ameaças não sejam novas.
Alguns paradigmas para um F Ter moderna:
– operações baseada em efeitos;
– maior poder de combate por tonelada transportada;
– operacionalidade determinada por valores intangíveis e difíceis de quantificar e não por valores facilmente estimáveis, comuns nas guerras passadas (de 2ª, 3ª, e 4ª gerações da guerra);
– destruição seletiva (importância da arma inteligente e da informação);
– atribuir aos soldados muito mais valor à educação e à perícia do que à força bruta;
– unidades menores – batalhão, companhia, “capazes e dispostas para a atividade militar competitiva” – para otimizar o rendimento do combate;
– capacidade tática de realizar a Guerra de Redes;
– combinação de armas em nível batalhão de forma rotineira, com o emprego de helicópteros, caminhões, viaturas mecanizadas, blindados de transporte de pessoal, blindados de combate de infantaria/cavalaria, artilharia autopropulsada e viaturas de apoio ao combate;
– escalão brigada e inferiores, contando com maior autoproteção, por intermédio de uma estrutura mais capaz de prover segurança;
– forças com capacidade de operar por prolongados períodos de tempo sem receber novo apoio logístico e o ritmo das operações terá que gerar e sustentar uma velocidade de combate que crie oportunidades específicas para o apoio logístico;
– necessidade da força possuir flexibilidade organizacional (várias capacidades dentro de uma mesma estrutura) e capacidade imediata de resposta a eventuais crises;
– velocidade/rapidez (Planejamento, tomada de decisão, deslocamento e emprego) como pré-requisito insubstituível, já que o tempo é um fator crítico em todos os níveis da guerra moderna;
– incremento da capacidade de deslocamento rápido das forças para criar as condições para um verdadeiro “salto” nas manobras terrestres: avançar sobre áreas cada vez mais dispersas e convergir rapidamente para postos-chaves, tirando, dessa forma, eficiente proveito da manobra e do poder de fogo;
– combatentes que saibam utilizar tecnologia inteligente, integrando unidades pequenas e adequadamente armadas e equipadas, para conseguir mais sucesso do que um grande número de soldados com armamento e doutrina de 2ª, 3ª, e4ª gerações da guerra.
Na 5ª Geração da Guerra ou no combate híbrido deve-se ter em conta que:
– os Comandantes (Líderes Militares) precisam prever as necessidades continuamente, para operar em face de crises ou conflitos híbridos;
– toda Força Terrestre deve ter uma estrutura de comando e controle flexível para atuar num espectro amplo e novo de operações convencional, assimétrica, irregular, híbrida e de novas ameaças;
– a complexidade do amplo e novo espectro de operações (convencional, assimétrica, irregular, híbrida e de novas ameaças) irá exigir emprego de tropa a soldados que se pareçam com as Forças Especiais de hoje. Tendo em vista a inexistência de um adestrado contingente de FE suficiente para atender a todas as operações, e como isso não pode ser atendido da “noite para o dia”, deve ser estabelecida uma alternativa eficaz;
– uma ideia seria criar um padrão do combatente híbrido. Fazer com que nossas tropas dominem um repertório tático o mais completo possível (multifuncional), sendo capazes de lutar utilizando ao máximo seus próprios meios e dependendo menos do apoio logístico de retaguarda;
– é necessário a versatilidade: capacidade de as unidades combatentes enfrentarem vários desafios, decorrentes das diferentes missões que lhes podem ser atribuídos no combate moderno, e,
– unidades no nível tático tenham a capacidade de se adaptarem a diferentes missões e tarefas, muitas das quais inopinadas, e que não fazem parte das atribuições normais da organização. Da mesma forma, em nível individual, os combatentes deverão ser “multifuncionais”, ou seja, ser capazes de desempenhar funções diversificadas no âmbito de suas frações.
Ressaltamos a importância da autossuficiência que é um atributo dos mais significativos e se baseia em elevados níveis de autoconfiança, disciplina, fé, coesão e eficácia. Pressupõe a existência de capacidades e habilitações individuais e coletivas altamente desenvolvidas, não encontradas em tropas pouco adestradas.
“Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos, fazer ou não fazer algo só depende da nossa vontade e perseverança.” Albert Einstein
Muito já foi feito, mais ao novo governo é dada a oportunidade e a possibilidade de transformar a F Ter. Realizar ou não as mudanças necessárias para termos uma força moderna e capaz de ser empregada em conflitos modernos, só depende da vontade e perseverança do novo governo e dos chefes militares.
Quando tratamos de transformação, que constitui processo contínuo e não apenas uma meta a atingir dentro de determinado prazo, devemos levar em conta que ela atua sobre os recursos humanos, a doutrina, a estrutura organizacional, os materiais e as instalações militares.
Em um mundo lógico, sem que haja uma estratégia que estabeleça eficientemente os objetivos do braço armado de uma nação, é praticamente impossível se avaliar a magnitude do orçamento militar necessário para que suas Forças Armadas possam cumprir suas missões constitucionais.
A F Ter deverá verificar se os orçamentos virão e se o que está sendo planejado a curto, médio e longo prazo se encaixa em adaptação, modernização ou transformação e realizar o que a consciência indique.
Nota DefesaNet
Alertamos aos leitores que a concisão do texto do do Gen Ex Pinto Silva permitiu uma matéria de fácil leitura. Porém há inúmeras análises complexas que devem ser melhor avaliadas pelo leitor para entender os meandros das definições.
Especialmente recomendadas as Coberturas Especiais:
– Guerra Híbrida Brasil (GHBR)
– Military Operation Urbanized Terrain (MOUT)
E como referência as matéria abaixo:
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Em inglês
Army General Pinto Silva – Methods for destabilizing the new Brazilian government