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EUA rejeitam plena responsabilidade por Agente Laranja no Vietnã

Desfolhante altamente tóxico visava desalojar vietcongues das florestas, durante a guerra. Após 51 anos, Washington participa diretamente de programa de descontaminação. Mas se esquiva de indenizações bilionárias.

O 10 de agosto é "Orange Day“ no Vietnã, em memória da maior catástrofe do país. Na década de 1960, as Forças Armadas dos Estados Unidos iniciaram a operação denominada "Ranch Hand" (ajudante de fazenda), que consistia em lançar de aviões militares um produto tóxico com o codinome Agent Orange (Agente Laranja), com o fim de desfolhar a espessa selva.

Mas, se a vegetação era usada como refúgio pelas tropas norte-vietnamitas inimigas, ela também era o meio de subsistência da população. A consequência foi a contaminação em larga escala com a dioxina contida no Agente Laranja. E, 51 anos depois, a população ainda sofre os efeitos da substância causadora de deformações e câncer.

Nova fase em Danang

uando os EUA perderam a guerra contra o Vietnã, em 1975, no contexto histórico do conflito ideológico entre o mundo capitalista e o comunista, as relações entre os dois países ficaram congeladas. Somente com o fim da Guerra Fria, em meados da década de 90, norte-americanos e vietnamitas se reaproximaram.

Washington contribuiu com o equivalente a 50 milhões de euros em projetos sociais e ambientais. Porém, somente em 2011 foi iniciado um projeto em conjunto, com participação direta estadunidense.

Primeiro, as autoridades vietnamitas retiraram minas e bombas não explodidas do terreno da ex-base aérea norte-americana de Danang. Cerca de um ano mais tarde, iniciou-se o verdadeiro trabalho de descontaminação: empresas dos EUA foram encarregadas de escavar o solo e submetê-lo a temperaturas extremamente elevadas, a fim de neutralizar a dioxina.

Vantagem para empresas dos EUA

Na abertura solene da operação de descontaminação, o embaixador dos EUA, David Shear, comentou: "A dioxina aqui neste solo é uma herança do passado doloroso que compartilhamos. Porém o projeto que realizamos hoje, de mãos dadas com os vietnamitas, é, como diz a secretária de Estado Clinton, 'sinal de um futuro cheio de esperança, que construímos em conjunto".

Os que apoiam as vítimas consideram o projeto um gesto insuficiente, embora importante. "A maior vantagem é para as empresas norte-americanas que realizam a eliminação da substância tóxica", ressalva Stefan Kühner, da Associação dos Amigos do Vietnã. "Os atingidos, as vítimas que sofrem há anos – e estas são cerca de 4 milhões – não têm, no momento, qualquer perspectiva de ajuda".

No meio tempo, o embaixador Shear anunciou que até o fim de setembro a Agência Norte-Americana de Desenvolvimento Internacional (Usaid) iniciará um novo programa de apoio às vítimas portadoras de deficiência.

Negligência gritante

A contaminação com dioxina é especialmente elevada nas antigas bases da Força Aérea dos EUA, onde os produtos químicos eram transferidos de um recipiente para outro, antes de serem borrifados sobre as florestas.

"Houve um terrível descuido durante os processos de recarga", afirma Kühner. O líquido escorria para o solo em quantidades enormes, barris caíam dos caminhões e se arrebentavam, parte dos tonéis que enferrujava nos depósitos foi enterrada.

Nesses locais, a concentração tóxica é 400 vezes superior aos valores permitidos. "Parte da substância flui para pequenas lagoas, onde a população pesca e cria patos." Isso era o que ocorria também em Danang, até a área ser interditada, cinco anos atrás.

Um punhado de milhões

Contudo, também o restante do país está seriamente contaminado. Se fossem aplicados padrões europeus, deveriam ser interditadas áreas gigantescas, que, em parte, são utilizadas para a agricultura.

Porém o Vietnã não dispõe de métodos e instrumentos de medição, a fim de comprovar os casos isolados de contaminação. "Milhares de quilômetros quadrados foram borrifados. Mas, para onde irão as pessoas, onde vão plantar o seu arroz?", questiona o representante dos Amigos do Vietnã.

Apesar dos milhões investidos no país, Washington continua se recusando a assumir de forma abrangente a responsabilidade pelos efeitos do emprego do veneno. "Se os norte-americanos admitirem que são responsáveis, não haverá como contornar as exigências de indenização", observa Kühner. "E aí, não se tratará apenas de alguns milhões".

Autor: Ole Kämper (av)
Revisão: Mariana Santos

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