Nelson Düring
Editor-chefe DefesaNet
Um relatório de pesquisa, que tem como objetivo descrever e explicar os principais tipos de armas explosivas e seus efeitos destrutivos sobre os seres humanos e estruturas, foi publicado, em fevereiro 2017, pelo Centro Internacional para a Desminagem Humanitária (Geneva International Centre for Humanitarian Demining – GICHD). O objetivo deste trabalho é contribuir para o debate em curso sobre as armas explosivas em áreas urbanizadas, com o objetivo de reduzir os danos para os civis.
O Relatório “Explosive Weapons Effects” (Efeitos de Armas Explosivas), é o resultado de um estudo de dois anos, cinco anexos sobre os efeitos de determinadas armas, com casos reais, e um glossário técnico compõem o trabalho. Está em desenvolvimento uma software de simulação, com o efeito de diversas armas em áreas urbanizadas.
A pesquisa tem como objetivo reduzir os danos colaterais à população civil, e traz uma contribuição substancial para os debates sobre as Operações Militares em Terrenos Urbanizados, e com alta densidade populacional. O relatório avalia as características de cada munição, de impacto, de precisão e de usabilidade.
As cinco armas estudadas abrangem as mais comumente empregadas nos campos de batalha atualmente:
1 – Sistema russo BM-21 GRAD lança-foguetes de 122 mm;
2 – Munição de artilharia calibre 155mm;
3 – Morteiro 120mm;
4 – Canhões e Carros de combate 115 / 120 / 125 mm, e,
5 – Bombas Mk82 (250kg).
O relatório do GICHD discute maneiras de mitigar o impacto de cada uma destas armas sobre os civis, e incentiva novas pesquisas sobre armas explosivas e apoia os esforços da comunidade internacional para melhor compreender as ramificações da uso de tais armas em áreas urbanizadas.
O GICHD salientou que: "Esta investigação não lida com implicações morais ou jurídicas da utilização de sistemas de armas explosivas em áreas povoadas, mas examina suas características, seus efeitos e sua utilização a partir de um ponto de vista técnico. "O relatório, somente em Inglês, está disponível, mas vamos adiantar a sua conclusão:
"Em conclusão, o uso de armas explosivas em áreas urbanizadas resultou em muitas mortes e civis feridos. Além do custo humano, os estudos de caso confirmam danos significativos à infraestrutura crítica, casas e empresas. Os efeitos da detonação da munição explosiva são amplificados, quando seu emprego ocorre em espaços fechados ou semifechados, tais como edifícios, túneis, ruas estreitas e veículos. Isto irá resultar em uma maior proporção de mortes do que em espaços abertos.
De acordo com recentes conclusões do United Nations Institute for Disarmament Research (UNIDIR), o relatório propõe pesquisas para melhor compreender, quantificar e preparar os vários efeitos da fragmentação secundária, detritos e outras fontes de perigos potencialmente fatais em áreas urbanizadas."
O GICHD planeja lançar neste mês de Março 2017, um simulador que irá demonstrar os efeitos das cinco Armamentos Explosivos examinados no estudo. Ele irá combinar os dados brutos gerados por esta pesquisa com os parâmetros de precisão e efeito a partir de fontes conhecidas para colocá-los em cenários simulados e prováveis.
O usuário pode analisar os principais mecanismos de lesão – ou seja, os efeitos primários e secundários de armas explosivas – em uma área aberta, uma aldeia, vila, cidade.
O Impacto no Brasil
Este estudo embora não seja normativo, mostra alguns roteiros para a Arma de Artilharia do Exército Brasileiro e Fuzileiros Navais e inclusive os armamentos a serem incorporados no futuro pela Força Aérea Brasileira no Gripen NG e A-1 (AMX).
Na artilharia dois são os impactos:
1 – No desenvolvimentos do Sistema ASTROS 2020 tem a munição Guiada Terminal SS-40G. Esta munição permitiria escapar a um possível bloqueio internacional. Os Estados Unidos tem avançado com o desenvolvimento de várias munições do guiadas do sistema HIMARS.
No ano passado (2016) a empresa russa ROSOBORONEXPORT criou um grupo para avaliar o desenvolvimento e atualização dos seus armamentos de foguetes desde o GRAD (122mm), similar à munição SS-30 do ASTROS II, até o SMERSH (300mm). Isto pelo resultado insatisfatório destas armas na Síria.
A munição SS-40G está em desenvolvimento pela AVIBRAS Aeroespacial. Deveria ser apresentada este ano, mas teve sem contrato estendido para 2019, por dificuldades de desenvolvimento.
Sistemas em desenvolvimentos pelas AVIBRAS para o ASTROS 2020. O Míssil Tático AV-TM300 e a munição AV SS40G . Modelos em escala. Foto DefesaNet
2 – A modernização dos sistemas de tubo de 155mm com dois sistemas:
a – a aquisição do M109A5BR (ver Matéria link) com alcance superior a 30km, e,
b – a possível aquisição do obuseiro M777.
Ambos permitem o emprego com munição com o sistema “base bleed”, redução do arraste, que permite alcance estendido.
Na Força Aérea Brasileira o emprego cada vez maior de munições com guiagem terminal. O “Erro Circular Provável” (CEP em inglês), com guiagem terminal é reduzido em muito (ver tabela abaixo). Porém, a quantidade de explosivos é excessiva para emprego em muitos alvos. A Bomba Aérea Tipo Mk82, têm cerca de 87kg de explosivos, para um peso de 241kg. (Veja matéria sobre testes de bombas guiadas a laser na FAB em 2013)
No rollout do caça SAAB Gripen NG este estava carregando Bombas Guiadas de Small Diameter, da Boeing. Pode ser arrolado dois motivos para isto:
1 – Possibilitar maior carga de armamentos a cada missão, e,
2 – Adequar o efeito do armamento à real necessidade.
Apresentação do Gripen NG (E) no rollout com munições convencionais de menor diâmetro. Foto SAAB
As Forças Armadas e a Base Industrial Brasileira de Defesa devem acompanhar o desenvolvimento de munições inteligentes.
Um ponto interessante é que todos os casos analisados pelo Relatório “Explosive Weapons Effects”, são de construções mais robustas. Não é o tipo das encontradas nos trópicos e em muitas áreas periféricas aos grandes centros urbanos ou até incorporadas nas “Megacidades”
O relatório pode ser acessado na íntegra em: