O uso de simuladores como ferramenta para a capacitação e para o treinamento de pessoal tem ganhado importância nos últimos anos. O Exército Brasileiro está atento a essa evolução natural e destaca a recente integração de diferentes modalidades de simulação.
Modalidades de Simulação
A Interservice/Industry Training, Simulation and Education Conference (I/ITSEC), funcionando desde 1997, tem sido a maior feira ligada a equipamentos de simulação no mundo. Em uma tradução livre, a Conferência de Treinamento, Simulação e Educação para Forças Armadas e Indústria, na sua edição de 2014, participou de uma comitiva brasileira liderada pelo Comando de Operações Terrestres (COTER), contando com integrantes da sua Divisão de Simulação, do Centro de Avaliação do Adestramento do Exército (CAAdEx) e do recém-criado Centro de Adestramento e Avaliação – Sul (CAA-Sul).
A tônica do evento foi as modalidades de simulação viva, virtual e construtiva. O uso de simuladores como ferramenta para a capacitação e para o treinamento de pessoal tem ganhado importância nos últimos anos. O Exército Brasileiro está atento a essa evolução natural e destaca a recente integração de diferentes modalidades de simulação. Maximizando efeitos, minimizando custos Live (viva), Virtual e Constructive (construtiva) são as três modalidades de simulação que, quando combinadas, formam o acrônimo LVC.
A importância atribuída aos simuladores em geral e à integração dos três tipos, em âmbito mundial, deve-se ao retorno das forças que estavam destacadas em missões, como Iraque e Afeganistão, e ao incremento dado ao treinamento e à manutenção do estado de prontidão das tropas aquarteladas. As restrições orçamentárias na área da defesa é outro importante aspecto a ser acrescentado a esse contexto. De maneira sintética, o quadro, a seguir, fornece a relação entre os sistemas de armas/plataformas e os ambientes em que os efeitos são gerados para os três tipos de simulações existentes.
A ordem de colocação das modalidades de simulação, no quadro anterior, não foi por acaso. Ela adequa-se ao emprego usual dos simuladores, conforme a pirâmide a seguir. Na base, está o treinamento individual, adquirido na fase de Instrução Individual Básica, seguido da capacitação e da preparação das frações elementares, como turmas, grupos e guarnições. Logo em seguida, as tropas que executam o treinamento coletivo, dentro dos períodos de Adestramento Básico – pelotões, subunidades e unidades.
Por último, as Grandes Unidades e Grandes Comandos, em especial seus estados-maiores, que exploram os Adestramentos Avançados para realizar seu treinamento.
A simulação virtual tem ampla utilização. Pode contribuir na formação individual do combatente; na preparação de pessoal para funções importantes, como pilotos, motoristas e operadores de equipamentos de elevado grau técnico de conhecimento; e no treinamento de tripulações de veículos, carros de combates ou helicópteros.
Além disso, pode reforçar a absorção de táticas, técnicas e procedimentos de frações elementares de qualquer tipo de tropa; e realizar o treinamento coletivo de frações, pelotões ou subunidades. Para isso, vale-se de uma gama enorme de simuladores, tais como: equipamentos que são acoplados aos materiais reais em uso pelos combatentes e que transmitem os efeitos para o ambiente virtual; cabines, simulacros em tamanho real no interior de veículos ou aeronaves; e periféricos que são instalados em computadores para que os militares participem de exercícios em rede, proporcionando o treinamento coletivo.
A simulação viva proporciona maior realismo aos tradicionais exercícios de campanha, pois, nessa modalidade, são instalados sensores e emissores de sinais que simulam com grande fidelidade os efeitos das armas sobre seus alvos. Esses equipamentos são os Dispositivos de Simulação de Engajamento Táticos, os quais auxiliam no desenvolvimento da liderança nos treinamentos.
O benefício é tão grande que alguns exércitos consideram as rotações de tropas, em centros especializados com simulação viva, obrigatórias, antes do deslocamento para as zonas de combate.
A simulação construtiva visa adestrar os comandos e os estados-maiores das tropas executantes dos exercícios. O processo de tomada de decisão é treinado por meio de programas que simulam o combate como um todo. Operadores inserem as decisões no sistema e informam aos comandantes os resultados das manobras, gerando um novo ciclo de tomada de decisões.
O objetivo de cada uma das modalidades é proporcionar a maior fidelidade no treinamento, antes do emprego efetivo de cada um dos usuários ou de suas organizações. O uso de um simulador permite a repetição de determinada tarefa por diversas vezes antes de empregar o verdadeiro material. Isso garante a preservação do equipamento; evita a ocorrência de acidentes durante a instrução, em uma fase de pouca experiência dos usuários; e poupa munição ou combustível, fornecendo mais horas de uso por um custo menor.
Simulação Integrada
As modalidades de simulação são complementares. Treina-se melhor um conjunto de atividades na simulação virtual, enquanto outros aspectos são mais bem exercitados na viva. Durante a execução de disparos com os canhões dos carros de combate a curta distância, não há a percepção de efeitos, como escombros lançados ao solo ou diminuição da visibilidade por conta da fumaça, na simulação viva. Porém, esses mesmos efeitos são replicados com fidelidade na simulação virtual. Por outro lado, os exercícios na simulação viva evidenciam a fadiga e o estresse do combate com mais facilidade. Em virtude da fadiga visual, a utilização de telas e computadores obriga os usuários a ciclos menores de execução.
A simulação integrada é a utilização, ao mesmo tempo, da combinação das modalidades, duas a duas ou todas elas. Objetiva o melhor aproveitamento das características de cada uma por um período, normalmente aquele dedicado aos exercícios em campanha.
Tecnicamente, a integração encontra óbices por conta da diferença de processamento e armazenamento entre as bases de dados. Há dez anos, diferentes tipos de simulação poderiam estar no mesmo exercício, mas a operação de cada uma ocorria isoladamente.
Hoje, apesar de ainda haver limitações nesse sentido, existem programas especializados para construir as conexões que fazem com que eventos gerados na simulação virtual possam produzir efeitos no ambiente da simulação viva. Com o intuito de exemplificar, vale citar a execução de fogos em ambiente virtual que gera baixas em tropas no terreno, por meio dos sensores colocados no uniforme.
A figura abaixo serve para mostrar como é possível integrar simulações durante exercícios. Ao considerar a modalidade construtiva como “o grande guarda-chuva”, é possível distribuir os demais usuários por zonas de ações diferentes, cumprindo todo o tipo de missão, seja no combate de alta ou de baixa intensidade, seja nos dois ao mesmo tempo.
Tal fato faz com que a execução dessa forma de treinamento esteja em consonância com a transformação em curso no Exército Brasileiro (EB) e com o combate no amplo espectro, motivo de experimentação doutrinária.
Outra forma muito usual de integração em exércitos de nações amigas é o emprego parcelado das tropas em adestramento, executando rodízios de modalidade de simulação. Isso acontece a partir de um exercício de escalão elevado, como uma Grande Unidade, em que os escalões subordinados cumprem tarefas ora em plataformas de simulação virtual, ora na viva.
De maneira geral, procura-se fazer com que o combatente cumpra as últimas tarefas do treinamento no terreno. Os exemplos de integração aqui apresentados são apenas algumas das possibilidades de arranjo dos exercícios, os quais podem ser incrementados a partir do entendimento do processo e da imaginação dos planejadores.
A integração torna possível a prática de exercícios à longa distância, até mesmo com a operação remota de meios. Cabines de carros de combate com uso de simulação virtual, no Centro de Instrução de Blindados (CI Bld), em Santa Maria (RS), podem executar manobras apoiadas por aeronaves simuladas a partir de Taubaté (SP), no Centro de Instrução de Aviação do Exército.
Em setembro de 2014, foi realizado o primeiro evento com emprego de simulação integrada do EB. O exercício, coordenado pela Divisão de Simulação do COTER, contou com uma Força-Tarefa (FT), valor Unidade, a cargo da 5a Brigada de Cavalaria Blindada. Essa FT foi comandada pelo 5o Regimento de Carros de Combate (5º RCC), de Rio Negro (PR).
O Comando e o Estado-Maior do 5o RCC valeram-se da simulação construtiva existente no Centro de Aplicações de Exercícios de Simulação de Combate, nas instalações do Campo de Instrução de Santa Maria, e empregaram o Programa Combater, recentemente adquirido pelo EB.
Uma subunidade executou a manobra do exercício no CI Bld com os simuladores virtuais táticos lá instalados, os quais utilizam o Programa Steel Beasts. Por fim, outra subunidade atuou no terreno, no Campo de Instrução Barão de São Borja, em Saicã, Rosário do Sul (RS), a 140 km da Direção do Exercício. Foi empregada a simulação viva, a cargo do CAAdEx, responsável pela Força Oponente, trazida do Rio de Janeiro para o evento.
Esse evento-teste dispôs de um programa integrador para a simulação fornecido por uma empresa estrangeira. Vários desafios foram suplantados, como a distância entre as instalações físicas onde os equipamentos estavam instalados, atingindo-se o objetivo maior da Força Terrestre de adquirir capacidades que elevaram a qualidade de seu treinamento.
Com o uso de ferramentas agregadas na simulação integrada, o CAA-Sul foi criado para proporcionar ao EB um local com melhores condições para a realização do adestramento. Tudo que foi visto no exercício de Saicã, em 2014, vem sendo testado, sem, no entanto, necessitar de vários atores para a execução de uma manobra.
Parte dos meios do CAA-Sul já está definida, como é o caso do Centro de Aplicação de Exercícios de Simulação de Combate (CAESC), que hoje está diretamente subordinado ao Comando da 3ª Divisão de Exército (3ª DE), em Santa Maria (RS). Ele passará por reformulação e deverá se chamar Centro de Adestramento de Simulação de Postos de Comando (CAS-PC).
Outro importante componente será o Simulador de Apoio de Fogo (SAFO), com forte composição de meios na modalidade virtual, que servirá para o treinamento de elementos do sistema de apoio de fogo de artilharia e morteiro pesado.
Além disso, o CAA-Sul está sendo projetado para colaborar com a execução de exercícios durante todo o ano. Com Força Oponente própria, com instalações dedicadas ao alojamento das tropas em adestramento e com o incremento da utilização do campo de Saicã, o CAA-Sul mostra-se uma Organização militar com potencial para alavancar o adestramento das tropas de qualquer natureza, visto que é o projeto piloto para a implantação de outros similares, a serem definidos pelo COTER, autoridade patrocinadora deste projeto.
À medida que o País evolui para se tornar um importante ator a nível mundial, a sua Força Terrestre precisa, cada vez mais, estar preparada para enfrentar e vencer os desafios que surgirão no futuro.
A flexibilidade desejada para fazer frente às ameaças visualizadas no estudo dos cenários prospectivos é adquirida por meio de um treinamento que forneça ao militar os conhecimentos necessários para adaptar-se às novas demandas.
A simulação integrada elevará o patamar dos treinamentos individual e coletivo dos homens e mulheres do Exército, tornando-os especialistas em suas funções, auxiliando-os na aquisição rápida de novas competências e formando grupos coesos e bem preparados sob o comando de líderes testados em situações críticas. Tudo isso, com uso racional dos meios, com aumento da vida útil do material e com redução da possibilidade de acidentes.
Nota DefesaNet:
Em setembro de 2015 o Defesanet acompanhou a Operação Centauro, onde o Exército realizou com sucesso a integração dos três tipos de Simulações; virtual, construtiva e viva, em manobra realizada no interior do Campo de Instrução Barão de São Borja (CIBSB) – Saicã, em Rosário do Sul/RS.
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Operação Centauro 2015 (Link)
Operação Centauro – EB finaliza com sucesso a integração das Simulações (Link)
Operação Centauro – Entrevista Gen Castro 6ª Bda Inf Bld (Link)
Operação Centauro 2015 – Cel Dos Anjos CAAdEx (Link)
Operação Centauro 2015 – Entrevista TC Glicerio Comandante FT 7º BIB (Link)
Assista o vídeo: Projeto Visão de Futuro do CAADEX – Centro de Avaliação de Adestramento General Álvaro Braga