LEXANDRE RODRIGUES
A Embraer está interessada em disputar o mercado de defesa americano e pode recorrer a aquisições nos Estados Unidos para aumentar a sua produção naquele país, disse hoje o presidente da companhia, Frederico Curado, em entrevista após participar de um painel no Fórum Econômico Mundial, no Rio. No entanto, ele disse que a companhia não tem nenhum ativo em negociação nos Estados Unidos no momento.
Curado explicou que a aquisição de empresas nos Estados Unidos é uma das alternativas que a empresa poderá recorrer para participar mais das compras de defesa do governo americano, que é muito rígido na exigência de produção local desses produtos. "Se isso ajudar, (faremos aquisição) sem dúvida. Estamos nos Estados Unidos desde 1979 e inauguramos a nossa fábrica na Flórida em fevereiro. Até o final do ano, os primeiros aviões estarão sendo entregues a partir de lá. Então não temos nenhum problema de investir nos Estados Unidos, de forma nenhuma", disse Curado. Ele frisou que uma aquisição no mercado americano é uma possibilidade que aventa do ponto de vista teórico, "mas não tem nada em vista", frisou.
"O mercado americano de defesa é o maior disparado. É muito difícil conseguir entrar. É mais do que um desejo, é uma vontade, é um objetivo nosso tentar de alguma maneira penetrar no mercado de defesa americano", disse Curado. "De qualquer maneira, qualquer produto de defesa para as Forças Armadas americanas tem que ser produzido lá. Então, seja por aquisição ou investimento ou uma parceria com uma empresa já estabelecida, para entrar lá tem que ser dessa forma."
O executivo se disse otimista em relação à concorrência em curso para fornecer aviões militares supertucanos para os Estados Unidos, mas reconheceu que é muito difícil prever o resultado. Curado lembrou que, há alguns anos, a Embraer chegou perto desse objetivo ao ser selecionada para a disputa pelo fornecimento de uma aeronave de supervisão aérea. A seleção, no entanto, foi cancelada por restrições orçamentárias das Forças Armadas dos Estados Unidos. Para Curado, a Embraer teria vencido.
China
O presidente da Embraer afirmou que a perspectiva de aumento do custo do trabalho na China com o plano do governo de elevar a remuneração dos trabalhadores pode dar mais equilíbrio à competição comercial com aquele país. Curado reconheceu que o plano do governo chinês aumentará os custos de produção na China, mas vê essa intenção como um fator mais positivo, já que terá um impacto na redução da competitividade dos produtos chineses em nível mundial. "Hoje ainda há muitas diferenças regionais, já há regiões da China em que o custo do trabalho é mais alto. A tendência da China é por um crescimento de custo e eles mesmos já falam em passar atividades de produção para outros países da região, como Vietnã e Laos, mencionados pelo presidente Hu Jintao num evento", contou o executivo.
"Isso no fundo acaba sendo bom. A concorrência que a gente tem com os produtos chineses é muito difícil. O custo deles é muito baixo. Não tem muita clareza se há subsídio governamental, já que muitas empresas são estatais. É difícil ter uma clareza maior se o custo é aquele mesmo ou não. Então, um aumento de custo na China é um alívio para o mundo, em termos de competição mais equilibrada", avaliou.
Curado afirmou que a recente viagem da presidente Dilma Rousseff à China elevou a relação do Brasil com o gigante asiático a um patamar "diferente para melhor". Ele elogiou a clareza que acredita ter sido utilizada por Dilma para expressar a intenção brasileira de fortalecer o comércio com a China em bases mais sólidas e sofisticadas. "Ela levou uma mensagem muito firme de que o Brasil quer ter uma relação de longo prazo em nível estratégico, não só de exportar produtos básicos e importar produtos manufaturados. E ela colocou isso de uma maneira muito feliz porque a reação chinesa, pelo que percebi, foi de entendimento e de proatividade", afirmou o executivo.
Curado também comemorou o saldo da viagem presidencial para a Embraer. A companhia aeronáutica saiu da China com a confirmação da exportação de 35 aviões fabricados no Brasil para a China e a autorização para investir na continuação da operação industrial da Embraer no país asiático. A fábrica chinesa da companhia brasileira deixará de fabricar o modelo regional de 50 lugares (ERJ-145) para iniciar a produção de jatos executivos Legacy, que será o primeiro avião desse tipo fabricado na China. "Isso foi muito bom porque era uma pendência que vinha desde o governo do presidente Lula, que vinha fazendo muitos esforços", afirmou.