A indústria aeroespacial – assim como a cibernética e a nuclear – é caracterizada estratégica por integrar atividades multidisciplinares, gerando alta tecnologia e emprego de capital humano especializado. Além de impulsionar outros setores, melhorando a qualidade dos produtos em suas cadeias produtivas por meio da incorporação de procedimentos de inovação e tecnologias sensíveis, estimulando a independência de importação e possibilitando maior penetração no mercado de exportação. Sendo assim, este é considerado um setor chave para o desenvolvimento do País, e necessita de políticas de apoio bem definidas a fim de tornar forte e notável a indústria aeroespacial nacional.
A indústria aeroespacial é constituída por três setores: Aeronáutico e de Defesa, cuja maior parte de pesquisa e desenvolvimento se concentra nas próprias indústrias; e o setor Espacial, que possui a maioria de suas atividades científicas realizada pelos laboratórios públicos, coordenada pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). Segundo dados da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), a indústria aeroespacial brasileira é a maior do Hemisfério Sul. Entretanto, quando comparada às líderes do setor (EUA / Europa) o resultado se modifica radicalmente. A indústria aeroespacial brasileira obteve, no ano de 2010, 4,9% da receita da indústria europeia e 3,3% da norteamericana.
Ainda que a indústria aeroespacial brasileira se encontre em um processo de evolução, é tratada com especial atenção por ser de alta tecnologia na estrutura produtiva do País, possuir destaque e competir – mesmo que em menor posição – com as líderes mundiais.
Embora ainda haja muito a ser trabalhado para que o Brasil alcance o patamar desejado, a avaliação do País no setor aeroespacial é considerada positiva e significativa, dado o caráter estratégico e tecnológico que este setor requer.
O setor aeronáutico hoje é o principal ator da indústria aeroespacial nacional. Contribuiu com aproximadamente 82% (R$ 9,76 bi) das receitas geradas por esta indústria em 2010 e possui a Embraer como destaque deste mercado. A Embraer é uma das líderes mundiais, com percentual de 87% de exportações em 2010, vendendo inclusive para os EUA e Europa mais da metade deste montante.
O fato de o Brasil possuir uma grande empresa protagonista no setor aeronáutico levanta dois aspectos opostos: um positivo, pois além de trazer para o País tecnologia sensível empregável em outros setores, projeta destaque e competitividade mundial. O aspecto negativo dá-se pelo fato de ser a única grande empresa brasileira do setor competindo no mercado mundial. Neste contexto, é importante ressaltar que a expertise já conquistada pelo Brasil no setor aeronáutico deve ser bem aproveitada para que outras empresas nacionais possam crescer, atingindo o mesmo patamar e beneficiando, com isso, o País.
Em segundo lugar está o setor de Defesa com 12,83% das receitas (R$ 1,52 bi), com esperanças de que esse número se eleve nos próximos anos. Essa tendência de crescimento se justifica na movimentação e busca por políticas tributárias que fomentem a indústria nacional de defesa e a participação mais efetiva no programa de Reaparelhamento das Forças Armadas. Com isso, a indústria brasileira terá maiores oportunidades de expansão no setor, após tantos anos com baixos índices de participação neste segmento.
É importante compreender a timidez de altos investimentos por parte das indústrias de defesa. Afinal, trata-se de um setor complexo e dependente de elevados investimentos de longo prazo para que elas obtenham retorno palpável. Portanto, é inviável a aplicação de vultosos recursos sem haver uma visão positiva antecipada de compra por parte do cliente, no caso o Governo.
Por outro lado, ainda que a indústria nacional possua considerável desenvolvimento tecnológico, permanece enfrentando os desafios da competitividade. Constantemente são importados materiais de defesa em virtude de se priorizar a aquisição menos onerosa e o resultado imediato. Contudo, deve-se avaliar as consequências oriundas dessas escolhas, como o enfraquecimento do País quanto a conquista da autonomia tecnológica.
Por essa razão, é importante que esse assunto esteja inserido com a ênfase necessária na agenda das políticas públicas Por fim, o setor espacial contribuiu com 0,5% (R$ 0,060 bi) das receitas em 2010. Mas já apresentou resultados mais favoráveis em recente passado, em especial quando dos lançamentos dos satélites de coleta de dados SCD, 1 e 2, em 1993 e 1998, respectivamente, que possibilitaram ao País incorporar a estratégia de soberania por meio da ciência e tecnologia. No entanto, os satélites puramente nacionais não tiveram continuidade. Hoje o Brasil busca retomar tal estratégia, com vista a voltar a deter o controle das informações dos satélites em uso.
O primeiro passo, segundo o Presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), é aumentar o orçamento do Programa Espacial Brasileiro (PEB) em número duas vezes superior ao atual (R$ 300 mi), do contrário, dificilmente o Brasil terá um programa forte, competitivo e capaz de atender completamente as suas demandas.
Convém também analisar a geração de capital humano nesse setor estratégico. Sabe-se que há um déficit de profissionais especializados nas áreas de tecnologias sensíveis no Brasil. Além disso, institutos de pesquisa, como o DCTA, sofrem com a questão da perda de pesquisadores para a iniciativa privada e por motivo de aposentadorias, com falta de novos cientistas ingressantes.
Como forma de diminuir essa lacuna, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) lançou em 2010 um curso de engenharia aeroespacial e estuda a criação de pós-graduação para os novos engenheiros dessa área. Algumas empresas da iniciativa privada, que carecem de engenheiros aeroespaciais, firmaram parcerias com o ITA no sentido de investir na formação e especialização de seus profissionais. Os resultados têm sido positivos; as empresas ganham em qualidade, e o ITA amplia suas atividades de formação. Essa interação desperta a atenção de outros industriais para o assunto.
A iniciativa do ITA é de extrema importância e indispensável. Mas há necessidade de adoção de medidas para atender em maior escala e sustentar a demanda por formação no mercado.
É imprescindível que cada país tenha sua base científica forte e estruturada em atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Através de Universidades e Centros de Pesquisa, os conhecimentos adquiridos são acompanhados pelo Estado e repassados às indústrias. Dessa forma, com apoio e troca mútua de conhecimentos, são criadas as possibilidades para o setor se desenvolver de forma geral, com a participação produtiva da indústria nacional.
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