Jungmann defende, na Rússia, o fim das armas nucleares e atômicas

Rossini Barreira

O Brasil defende a paz e se posiciona a favor da proibição do uso de armas nucleares por qualquer País. Foi esse o recado que o ministro da Defesa, Raul Jungmann, deu em seu discurso, na manhã desta quarta-feira (25), durante a  VI Conferência Internacional de Segurança, que acontece em Moscou, na Rússia.

"A comunidade internacional já baniu as armas químicas e biológicas. Não há razão para não banir a única capaz de aniquilar a vida na terra. Seria uma medida corajosa para corrigir perigosa lacuna normativa na construção de um mundo mais seguro. Para o Brasil, o desarmamento nuclear, mais do que uma opção estratégica, constitui um imperativo moral”, afirmou Jungmann.

O ministro participou também de mesa redonda que debateu o tema: "Segurança global: desafios do século XXI". Participaram do encontro os ministros da Defesa da Índia, Arun Jaitley; do Irã, Houssein Dehghan; do Casaquistão, Saken Zhasuzakov; do Paquistão, Kahawaja Mohammad; e do Afeganistão, Khamid Karzai.

Principais trechos do discurso

“Inicio minhas palavras externando a solidariedade do Brasil às vítimas do atentado no metrô de São Petesburgo. O Brasil reitera sua posição de veemente repúdio ao terrorismo. A prevenção e o necessário combate a esse perverso fenômeno, que busca no ódio insano a inspiração para atingir os mais caros valores das sociedades democráticas, é dever de todas as nações livres, mas não pode se dar à margem do respeito aos direitos humaos e das leis internacionais.”

Guerra e Paz

"Lev Tolstoi, um dos maiores expoentes da literatura universal, demonstrou em seu clássico “Guerra e Paz” como os embates estratégicos entre as potências se traduzem, dramaticamente, em rupturas na vida de indivíduos, famílias e sociedades. Diante das transformações no cenário mundial do início do século XIX, Tolstoi reflete sobre a natureza da guerra, o poder político e a História, não do ponto de vista dos estadistas, mas do sacrifício, do patriotismo e da grandeza do povo russo. Ele construiu, em sua obra, um monumento à paz.”

“Dois séculos depois do contexto que inspirou Tolstoi, a configuração mundial de poder apresenta novos traços de multipolaridade em um ambiente muito mais complexo, incerto e volátil, com maior capacidade bélica de destruição em massa, inclusive nuclear, poderosos atores transnacionais, tanto benignos como hostis, e o reavivamento de tensões e atritos que muitos julgavam superados.”

Ministro da Defesa do Brasil discursa no VI MCIS

Guerra fria

“A cena internacional revela-se com inéditas incertezas e perigosas inquietações. O mundo vai perdendo, com desconcertante rapidez, a estabilidade  que desejamos todos.

Graves situações, potencialmente geradoras de conflitos, são incomprensível e irresponsavelmente tensionadas até o limiar do conflito.

Elementos que lembram a Guerra Fria parecem estimular uma nova escalada armamentista. Renovam-se as intolerâncias religiosas e étnicas, exacerbam-se nacionalismos, intensificam-se disputas por espaços de influência e amplia-se a busca por fontes de recursos naturais e energia.

Tudo isso em meio a uma desconcertante perda de funcionalidade do sistema internacional de segurança, que não apresenta mais o indispensável equilíbrio nem a agilidade capazes de prevenir ou, até mesmo, de estancar crises internacionais.

A cada dia assistimos frustrados a razão e o diálogo cederem à força. Nesse cenário, gostaria de compartilhar a visão do Brasil.”

Paz

“Somos um povo amante da paz, mas jamais passivos ou indefesos. Construímos no nosso entorno geográfico um ambiente de estabilidade sem paralelo em qualquer outro canto do mundo. Compartilhamos com 10 diferentes nações fronteiras de verdadeira integração e cooperação e uma paz que perdura por mais de 150 anos, ao mesmo tempo em que não hesitamos diante do imperativo de defender nossos interesses e cumprir nossos compromissos e nos fizemos presentes nas duas guerras mundiais.

Seguimos empenhando-nos no esforço para desestimular eventuais ameaças, sem descuidar do preparo para neutralizá-las, se necessário.”

Multipolaridade

“Acreditamos que a multipolaridade abre oportunidade para que países em desenvolvimento, como o Brasil, contribuam para a governança e a estabilidade globais, com ganhos de legitimidade e justiça. Entretanto, as instâncias decisórias continuam pouco permeáveis à participação dos chamados países emergentes, como demonstram as dificuldades no processo de reforma do Conselho de Segurança, órgão carente de atualização que reflita a nova realidade de poder no mundo e, desse modo, assegure a legitimidade e a eficácia de suas decisões.

O Brasil está pronto para contribuir mais ativamente para a governança, a paz e a segurança coletiva com base nos princípios que nossa Constituição estabelece para as relações internacionais, entre os quais figuram a autodeterminação, os direitos humanos, a não intervenção, a igualdade entre os Estados, a defesa da paz e a solução pacífica das controvérsias, o repúdio ao terrorismo e ao racismo, a cooperação para o desenvolvimento e a integração da América Latina.”

PND e END

“As mais recentes versões da Política e da Estratégia Nacionais de Defesa, ora em discussão no Congresso, acrescentam outros princípios, como o multilateralismo e o respeito à ordem jurídica internacional, o respeito à soberania no uso sustentável dos recursos ambientais, a participação em operações de paz e a construção de confiança para a prevenção de conflitos.

Essa combinação de princípios deixa evidente a necessária e estreita interconexão entre defesa, diplomacia e desenvolvimento. Paz e segurança requerem ações integradas entre essas três esferas, em particular a redução das assimetrias sociais entre as nações.

A Política e a Estratégia de Defesa do Brasil estabelecem, de forma inequívoca, que nosso interesse nacional prioriza consolidação de um entorno estratégico geográfico de paz, cooperação e desenvolvimento na América do Sul, Central e Caribe, no Atlântico Sul e na África. Nessa arquitetura, o Brasil estendeu uma ampla rede de mecanismos bilaterais e multilaterais, dos quais são exemplos o MERCOSUL, a UNASUL e o Tratado de Cooperação Amazônica.”

Apresentação do Ministro Raul Jungmann con tradução em inglês

Via MOD Rússia

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