Declaração à imprensa da Presidenta da República,
Dilma Rousseff, após encontro bilateral com o
Presidente da República francesa, François Hollande
Brasília 12 Dezembro 2013
(Itálicos DefesaNet)
Excelentíssimo senhor François Hollande, presidente da República Francesa.
Senhoras e senhores ministros de Estado e integrantes das delegações da França e do Brasil.
Senhoras e senhores jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas.
Senhoras e senhores,
Com grande alegria recebemos hoje em Brasília o presidente François Hollande que retribui a visita que fiz à França em dezembro de 2012. Naquela ocasião, pude sentir a amizade do governo e do povo franceses em relação ao Brasil. Foi também a oportunidade para discutirmos os grandes problemas que afetam a França e o Brasil a partir do cenário internacional.
Senhoras e senhores,
França e Brasil mantém uma cooperação cujos conteúdos, abrangência e profundidade a tornam única. Isso é verdadeiro, sobretudo, nas indústrias de defesa e de bens de alta tecnologia. Reiterei ao presidente Hollande minha satisfação com a implementação do Programa de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha do Brasil, o Prosub, que prevê a construção conjunta de quatro submarinos convencionais e uma propulsão nuclear, entre outras atividades. O Prosub garante a transferência de tecnologia e a nacionalização de processos produtivos, o que coincide com a essência da nossa estratégia nacional de defesa.
Nessa mesma direção está a nossa cooperação bilateral para a construção de helicópteros e a escolha da empresa Thales Alenia Space para o fortalecimento de nosso satélite geoestacionário de defesa e comunicação de uso civil e militar.
Há ainda avanços efetivos em nossa colaboração na área de computação de alto desempenho. O plano de trabalho estabelecido entre nós prevê a aquisição de um supercomputador da BULL, a instalação e dois centros de pesquisas, um em Petrópolis, em parceria com o LNCC, e outro no Rio de Janeiro, na Coppe, em parceria com a BULL. Prevê ainda transferência de tecnologia para a fabricação, no Brasil, dos sistemas de supercomputação em alto desempenho por meio de parceria com o fabricante nacional. Atualmente, apenas 10 países detêm capacidade instalada nesse campo. Com a implementação desse plano de trabalho, o Brasil entraá para esse restrito grupo e vai desenvolver atividades de pesquisa em áreas estratégicas.
Discutimos ainda o estratégico e promissor cenário de investimentos entre o Brasil e a França. Neste particular, destaco a participação da Total no consórcio liderado pela Petrobras que explorará o campo de Libra no pré-sal.Isso ilustra opção cada vez mais clara do empresariado francês e internacional de olhar a prosperidade de suas companhias, ligadas ao dinamismo e ao vigor do mercado brasileiro.
Da mesma forma, a parceria entre a Areva e a Eletrobras mostra a opção do Brasil no desenvolvimento de tecnologia de produção de energia com base nuclear.
A existência de oportunidades em diversos setores explica a forte presença de empresas francesas no Brasil. Exemplos disso são: a expansão da aliança empresarial Renault-Nissan, na fábrica de Resende, com investimento de R$ 6 bilhões beneficiado pelo Programa Inovar Auto; e a presença do grupo Casino no setor de supermercado e constituindo-se hoje no maior empregador no Brasil.
Apesar da crise financeira internacional, nosso comércio bilateral registrou expressivo crescimento nos últimos 5 anos. Reiterei nesse contexto interesse do Brasil no avanço das negociações Mercosul-União Europeia com vistas à obtenção de um acordo mutuamente vantajoso.
No terreno da educação, expressei ao presidente Hollande meu reconhecimento pelo apoio que temos recebido de seu governo no programa Ciência sem Fronteiras. A França é hoje o 3º principal destino dos bolsistas brasileiros do Ciência sem Fronteiras e já recebeu 4,8 mil bolsistas, dos quais 2.226 ainda se encontram naquele país. São em sua maioria estudantes de engenharia, e merece destaque o esforço expressado no acordo entre os dois governos para que nossos alunos complementem sua formação com estágios técnicos em empresas francesas.
Senhoras e senhores,
O presidente Hollande e eu também conversamos sobre uma outra parceria entre a França e o Brasil. Queremos ser sócios na construção de uma ordem mundial mais justa, mais igualitária e mais democrática. Nesse particular quero agradecer de público ao presidente Hollande pelo apoio da França à bem-sucedida iniciativa brasileira e alemã nas Nações Unidas em defesa do direito à privacidade na era digital.
Reiterei ao presidente nossa expectativa de contar com uma representação francesa na reunião multisetorial global sobre o futuro da governança da internet que realizaremos sem São Paulo nos dias 23 e 24 de abril de 2014.
Muito nos interessa também uma parceria com a França em todas as áreas que dizem respeito à defesa cibernética. Por outro lado é importante dizer que esse evento do dia 23 e 24 de abril reunirá representantes de governos, organizações internacionais, comunidade técnica, acadêmica, da sociedade civil e do setor privado internacionais. Coincidimos sobre a urgência de agir conjuntamente contra as ameaças da mudança do clima, cientes de que a COP 21, em Paris, em 2015, vai representar uma ocasião importante para avançarmos nas negociações de novo instrumento legal que estabelecerá as bases adequadas à necessária redução das emissões de gases de efeito estufa, da adaptação aos efeitos da mudança do clima e a promoção do desenvolvimento sustentável.
Saudamos o resultado positivo da recém-concluída Conferência Ministerial de Bali, que aprovou os primeiros acordos negociados da história da OMC, criando condições para a atualização e fortalecimento do sistema internacional de comércio.
Sobre a atuação no plano internacional, nós ressaltamos – o Brasil – os efeitos encorajadores da destruição do arsenal químico na Síria e a convocação da Conferência de Paz Genebra 2, com a participação de todas as partes em conflito. O Brasil, que conta com uma expressiva descendência, uma população de descendência Síria, continua apoiando esforços diplomáticos para pôr fim ao conflito, bem como a urgência em fazer frente à crise humanitária que se abate sobre o país.
Examinamos igualmente as negociações em torno do programa nucelar iraniano, nas quais a França desempenha papel muito importante. Há uma expectativa do Brasil que haja uma conclusão satisfatória de um acordo que atenda as preocupações da comunidade internacional e, ao mesmo tempo, respeite o direito do Irã ao uso pacífico da energia nucelar.
Cumprimentei, por fim, o presidente Hollande pela classificação da seleção francesa, Les Bleus, para a Copa do Mundo. A França, que tem sido um adversário particularmente do Brasil em mundiais, jogará as suas partidas da primeira fase em Porto Alegre, Salvador e Rio de Janeiro e poderá, portanto, apreciar toda a variedade e beleza das regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. Tenho certeza que o Brasil sairá vencedor, porém considero importante que a França tenha uma colocação muito expressiva. Isso como torcedora.
Agradeço mais uma vez ao presidente e ao amigo François Hollande pela visita e tenho a honra de lhe passar a palavra.
Dilma Rousseff
Presidente da República