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Ciberataques, uma nova ameaça à civilização?

             André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos


O mundo vem sofrendo  transformações em uma velocidade fantástica quase que imperceptível à inteligência comum. Estamos acostumados com ameaças e riscos que podemos mensurar, inimigos que podemos ver e só então avaliar suas potencialidades. O que é invisível aos olhos sempre trouxe insegurança, terror e pânico, como ocorria com os navegadores da antiguidade que temiam cair em abismos e ser devorados por monstros marinhos ou, na idade média, com as crenças em bruxaria,  demônios e pragas. Este sentimento está profundamente enraizado na  cultura humana até hoje e pode justificar, em parte, o medo em relação aos  atentados terroristas das duas últimas décadas, o que se denominou de inimigo sem rosto e  que, forçosamente, recaiu na figura de Osama Bin Laden, como parâmetro de um mal que não poderia ser visto, tampouco combatido, apenas lamentado pelas  consequências que causava.  
             
Agora, estamos avançando para uma nova era, a do ciberespaço, e surgem diferentes ameaças com o desenvolvimento crescente das tecnologias digitais e cujos perigos, ainda mais letais, são ignorados pela maioria das pessoas. Estamos nos referindo aos ataques cibernéticos, as guerras cibernéticas, ao ciberterrorismo e a ciberdelinquencia  que  emergem  como  novos  inimigos da civilização e para os quais ainda não possuímos domínio tecnológico suficiente para, na maioria dos casos, identificar a origem e neutralizá-los, tampouco uma legislação internacional que discipline a utilização do espaço digital.     
               
Assim, acabamos tomando consciência de ameaças invisíveis como os vírus, códigos maliciosos, malware, botnet que, como as antigas epidemias, atingem o espaço digital de forma silenciosa e desapercebida, em alguns casos, causando danos irreparáveis. A dez anos, as estimativas apontavam para a existência de 40 mil tipos de vírus ou códigos maliciosos. Em 2008 esta cifra atingiu 13 milhões e atualmente, calcula-se que a cada dois segundos, um novo vírus é lançado na  internet, o que representa 55 mil a cada dia. Estimativas da  empresa Symantec aponta para prejuízos em torno de 6,8 milhões de dólares em 2009 contra  7,2 milhões de dólares em 2010, resultado do roubo direto de dados e informações. No ano passado, foram registrados em todo o mundo 855 incidentes comprometendo 174 milhões de dados pessoais.
            
Após  o  primeiro ataque  de guerra cibernética da  história registrado na Estônia em 2007 e, posteriormente na Georgia, durante o conflito com a Rússia em 2008, ambos paralisando alguns dos serviços essenciais a população daqueles países, a questão do uso do espaço digital como arma começou a ser amplamente debatida e vem despertando o interesse da comunidade internacional. Sabemos que atinge não apenas sites e sistemas de defesa de nações e de empresas privadas  mas, sobretudo, as redes sociais que em 2010 atingiram a fantástica marca de 945 milhões de visitantes. E isto ocorre especialmente para espionagem com escolha de vítimas potenciais para futuros sequestros por meio do conhecimento de dados como renda, estilo de vida, horários, parentes e relações próximas dos internautas. Alguns e-mails também são facilmente monitorados com o objetivo de roubar dados pessoais além de senhas bancárias.
          
No ano de 2009, foi descoberto o mais poderoso vírus criado até o momento, o Stuxnet com a plataforma flame que explora vulnerabilidades de todo e qualquer  sistema computacional e que infectou as centrífugas de enriquecimento de urânio do Irã em 2010 em uma ação de sabotagem. Permite ainda, copiar arquivos, recuperar textos deletados e monitorar tudo o que é digitado. Ainda não foi comprovada sua procedência, embora especula-se que tenha sido desenvolvido pelos EUA em conjunto com Israel para retardar o programa nuclear iraniano.
            
Com relação ao Brasil, este ocupa a  primeira posição na  América Latina  na produção dos chamados códigos  maliciosos e a quinta colocação no rancking  mundial. Para se ter uma ideia do significado desta constatação basta o fato de que de todos os spams que circulam na web, 6% são originados no país. No ano passado, ocorreu o maior ciber ataque da história brasileira, dirigido a sites governamentais e de empresas, patrocinados por grupos de pirataria digital internacionais. O fatal ErrorCrew, assumiu a violação do site do Exército divulgando dados de militares no twitter. Posteriormente, foi a vez da Presidência da República, violado pelo LulzSecBrasil, seguidos de ações contra a Petrobrás e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Uma situação extremamente preocupante e de maior amplitude é a dependência  crescente das infraestruturas urbanas interligadas por sistemas em redes como o tráfego aéreo, de trens e metros, elétricos, bancários e de comunicações. Todos, extremamente vulneráveis a um ataque cibernético com consequências caóticas especialmente para a população como o descrito no apocalíptico filme “Duro de matar 4.0”, lançado em 2007. Há uma década, estas ameaças globais poderiam ser consideradas apenas ficção científica mas na atualidade, o que Eugene Kaspersky chama de “armagedon cibernético” é uma possibilidade bastante factível de ocorrer.

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