Governos precisam ter uma presença mais forte nas redes sociais para combater a propaganda terrorista

Marcos Ommati


Yahoo! anunciou em 22 de setembro de 2016, a que dois anos atrás hackers haviam roubado informações das contas de pelo menos 500 milhões de usuários, resultando na maior intrusão da rede de computadores de uma empresa conhecida até hoje. Neste mesmo dia, os hackers postaram centenas de e-mails contendo informações detalhadas da agenda e dos movimentos precisos do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, da primeira-dama Michelle Obama e da secretária Hillary Clinton durante as mais recentes campanhas de arrecadação de fundos e eventos políticos oficiais.

Os e-mails, conforme relatado pelo The New York Times, continham os nomes e números dos telefones celulares de vários agentes secretos, planilhas com os nomes e números de previdência social de doadores da campanha e apresentações em PowerPoint com orientações detalhadas sobre onde autoridades como o vice-presidente Biden deveriam estar ao chegar aos eventos.

Infelizmente, notícias como esta estão se tornando cada vez mais comuns todos os dias. Por esta razão a Conferência sobre Segurança Mundial 2016: como as Américas enfrentam as ameaças de segurança estava centrada em dois temas principais: crimes cibernéticos e terrorismo. O evento – organizado pela Organização Internacional para a Segurança e a Inteligência (IOSI, por sua sigla em inglês) – foi realizado em Kelowna, Colúmbia Britânica, no Canadá, entre os dias 15 e 16 de setembro, e contou com a participação de militares, policiais, agências de inteligência internacionais e outras autoridades do Canadá, Estados Unidos, América do Sul e Central e o Caribe.

Táticas narcoterroristas

Após o pronunciamento de abertura do presidente da IOSI, Johan Obdola, e do chairman da conferência, Peter Tarlow, eles se juntaram ao General da reserva Shlomi Michael, antigo comandante da unidade de contraterrorismo da Polícia israelense, e Adam Blackwell, secretário de segurança multidimensional da Organização dos Estados Americanos , em um painel para discutir o terrorismo, crime organizado transnacional, turismo e segurança e narcoterrorismo. Eles deram uma visão geral de como o terrorismo e o crime transnacional estão se tornando cada vez mais relacionados, e como traficantes estão usando táticas terroristas para conduzir seus negócios ilegais.

Peter Tarlow, um especialista sobre o impacto da criminalidade e terrorismo na indústria do turismo em todo o mundo, comentou sobre o tema Turismo e Segurança. Ele lembrou a todos os presentes que o terrorismo existe desde o ano de 66 d.C. com os sicários palestinos (da palavra grega sikaroi, que significa “homens do punhal”) cujas atividades “os qualificariam como terroristas”. Mas, para especialistas em todo o mundo, o terrorismo tornou-se a questão mais proeminente do século XXI apenas alguns anos atrás.

Uma indústria de US$ 7,7 trilhões

De acordo com Tarlow, os ataques perpetrados contra atrações turísticas ou edifícios estratégicos, como as torres gêmeas em Nova York, em 2001, procuram desestabilizar a indústria do turismo de um determinado país. “O turismo é o setor que mais emprega hoje em dia. É uma indústria de US$ 7,7 trilhões por ano em todo o mundo, portanto, faz sentido que os terroristas atinjam este setor, porque isso afeta diretamente todas as áreas da economia de qualquer país.”

Em seguida, o General Shlomi falou sobre as táticas e estratégias utilizadas em seu país na luta contra o terrorismo. Ele mostrou aos participantes algumas cenas raras com vídeos muito detalhados de atentados terroristas que ocorreram em Jerusalém e outras cidades de Israel nos últimos anos. “Você pode lidar com o terrorismo de várias maneiras diferentes, mas em minha opinião, a maneira de derrotar os grupos que estão recrutando nossos jovens para lutar pela sua causa terrorista é usar a mídia social. Todos nós precisamos nos tornar especialistas nesse assunto, caso contrário, será uma batalha perdida”, disse ele.

O primeiro dia terminou com a apresentação do Obdola sobre a luta perpetrada por governos contra o crime organizado transnacional nas Américas do Sul e Central, e no Caribe.

A Fundação John Norman Lindley

A Fundação John Norman Lindley foi um dos principais patrocinadores da Conferência sobre Segurança Mundial deste ano. Sua presidente, Roxanne Lindley, estava em Paris, na França, e em Bruxelas, na Bélgica quando ocorreram os recentes atentados terroristas. “Eu estava – infelizmente – presente em Paris e Bruxelas quando sua população e os turistas foram alvos de atentados terroristas [novembro de 2015 e março de 2016, respectivamente].

Portanto, quando eu soube que os organizadores da Conferência sobre Segurança Mundial estavam procurando um local no Canadá, para mim não havia dúvida em realizá-la aqui [em Okanagan Valley/Kelowna, Colúmbia Britânica], uma vez que o principal objetivo deste evento é tentar apresentar ideias para que todos nós possamos viver em um mundo mais pacífico”, disse ela na abertura do segundo dia de discussões.

Crimes Cibernéticos

O último painel da conferência, A abordagem das questões cibernéticas em cidades inteligentes e cidades seguras: como aumetar o nível de colaboração e prevenção, incluiu um grupo de especialistas que apresentou perspectivas muito interessantes sobre as maiores ameaças que cidades e empresas em todo o mundo estão enfrentando hoje: os crimes cibernéticos.

O painel foi formado pelo Sargento Cory Dayley e o Inspetor Ryan Jepson, ambos da Seção de Operações Técnicas na Unidade Forense/Cibernética do Serviço de Polícia de Calgary; Dan Swartwood e Bessie Pang, presidente e diretora executiva (respectivamente) da Sociedade para o Policiamento do Ciberespaço (POLCYB, por sua sigla em inglês); e foi presidida por Scott Warren, sócio da firma de advogados Squire Patton Boggs (Japão) e secretário da POLCYB.

“A natureza do crime mudou significativamente com a internet,” disse Warren para dar início às discussões. “Se antigamente você fosse um ladrão de banco, tinha que ir ao local, mostrar sua arma e golpear alguém na cabeça, o que significava que havia uma presença física que poderia ser rastreada. Agora, um cibercriminoso pode passar por 50 endereços IP diferentes em um piscar dos olhos, podendo estar em qualquer lugar do planeta.”

Focando nas cidades inteligentes – onde os dispositivos de energia, semáforos, estações de tratamento de água estão todos interligados e controlados on-line – os panelistas pintaram um quadro sombrio no caso de um ataque cibernético. “Por mais fantástica, eficiente e inovadora que uma cidade inteligente seja, toda essa tecnologia apresenta alguns riscos assustadores. Um lugar importante como Manhattan poderia colocado às escuras, por exemplo, no caso de o controle principal da cidade ser hackeado,” disse Swartwood.

Mas, como isso é possível? Segundo o especialista: “É difícil para as pessoas compreenderem que existe uma enorme diferença entre o computador que fica sobre a sua mesa e o sistema que está operando a estação de tratamento de água que está abastecendo a sua cidade e a sua casa com água, porque estes sistemas são de longo prazo, eles foram construídos para durar décadas, e o seu computador é desenhado para durar três anos.”

Nas palavras de Swartwood, “Muitos desses sistemas foram projetados para durar 50 anos. E não há segurança virtual na maior parte do hardware, porque isso não foi pensado quando esses sistemas foram projetados, alguns até 60 anos atrás ou mais. A única coisa que você literalmente pode fazer é o que chamamos de reposição por empilhadeira, onde precisa retirar a peça afetada e colocar uma nova no lugar. Não existem remendos ou correções como empresas como a Microsoft fazem com o seu computador em casa ou no trabalho.”

Pang concordou. “Mesmo com o melhor monitoramento possível, muitas vezes as empresas não sabem que foram hackeadas. Basicamente, tudo on-line é vulnerável", concluiu.

No final, ficou claro para os participantes que, para poder combater as novas ameaças, é fundamental promover a colaboração e integração regional entre os organismos de controle da lei, as agências de segurança pública e parceiros de inteligência, e é extremamente importante desenvolver um mapa geopolítico mundial do terrorismo, do crime organizado transnacional e de outras ameaças de segurança para promover a educação e o treinamento em matéria de combate ao terrorismo e segurança global se quisermos viver em um mundo mais pacífico, como disse Lindley.


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