Criptografia é como camisinha

 

Mateus Luiz de Souza

Peter Sunde é cofundador do Pirate Bay, site que é um dos símbolos da pirataria. O sueco, que já foi preso e atualmente dá palestras pelo mundo, falou na CryptoRave.

Proteção

Eu diria que a criptografia é como uma camisinha. Só que, em vez de proteger do HIV ou de alguma outra doença sexualmente transmissível, evita que outras pessoas tenham acesso ao que você faz na internet. Não é o futuro, nem a solução, apenas escancara o problema que temos que enfrentar.

Conscientização

É preciso debater o tema, educar as pessoas, tornar acessível essa defesa para cada indivíduo. Uma vez que todo mundo tome consciência da implicação disso no futuro, será mais fácil forçar os governos a fazerem leis que protejam as pessoas em vez de brigar com elas.

Monopólio

Quando a internet surgiu, a ideia é que fosse um sistema com várias ramificações. Se uma delas ficasse podre, as outras continuariam funcionando. Mas foram criados serviços como Twitter, Yahoo! e Google, que funcionam de maneira centralizada. E nós, como usuários, contribuímos para isso, ao não usar diferentes redes sociais, por exemplo. Nunca nos deparamos com um monopólio como esse na história
 

 

Decifra me
Medo de espionagem faz ativistas usarem codigos e pseudonimos e rejeitarem apps

 

São 4h e a pista está lotada. Os DJs tocam Racionais e Mc Bola, casais se beijam e o caixa da bebida não para. É uma balada até comum, mas tem uma propósito além da diversão: estimular as pessoas a criptografar suas atividades na internet.

"Queremos aumentar o número de pessoas que usam a criptografia para dar mais trabalho às agências de espionagem governamental", diz Sérgio Amadeu, militante do software livre e um dos organizadores da CryptoRave, que aconteceu entre 24 e 25 de abril, no Centro Cultural SP.

No evento, que misturava festa e palestras, participantes defendiam que a privacidade e a segurança na internet só são possíveis quando se codifica a mensagem para que apenas quem a envia e quem a recebe consigam ler.

"É como uma conta bancária: você pode passar os números dela para quem quiser, mas só quem tem a senha consegue acessá-la", compara Rodolfo Avelino, professor de segurança da informação da Faculdade Impacta, que discotecou na festa.

A preocupação com a privacidade leva alguns a se tornarem radicais, como Lucas (nome fictício). Ele não usa WhatsApp, Messenger nem Telegram, um aplicativo de conversa considerado mais seguro por ser criptografado.

"Eu simplesmente evito usar programas que comprometam a minha segurança. É dar muito poder para as grandes empresas", afirma.

Outros não gostam de se identificar em nenhum contexto na web. A carioca "Amarelo", 25, usa o pseudônimo para tudo. "Prefiro usar essa máscara. É difícil conhecer a minha identidade", diz.

Segundo Routo Terada, professor de ciências da computação da USP, até recentemente o uso de sistemas para "embaralhar" informações estava restrito a bancos, preocupados em padronizar as transações internacionais.

Com a ação de Edward Snowden, que em 2013 revelou esquemas de espionagem do governo dos Estados Unidos que incluíam inclusive o governo brasileiro, as pessoas ficaram mais atentas.

Após o episódio, algumas medidas foram anunciadas, mas até hoje não saíram do papel. Uma delas é o Mensageria Digital, serviço gratuito de e-mail criptografado. Os Correios, responsáveis pelo serviço, informaram que não há previsão de implantação.

Para Renato da Silveira Martini, representante do Comitê Gestor da Internet e autor do livro "Criptografia e Cidadania Digital" (editora Ciência Moderna), a questão é também comportamental. "Somos um povo fofoqueiro, não gostamos desse rigor de que a criptografia necessita."

 

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