A visão dos Estados Unidos a respeito do governo brasileiro mudou "radicalmente" quando o ex-presidente Lula reconheceu o direito do governo do iraniano Mahmoud Ahmadinejad de manter um programa nuclear com fins pacíficos, segundo informou nesta terça-feira o jornalista Glenn Greenwald, do jornal The Guardian, que publicou as primeiras matérias com vazamento de denúncias sobre espionagem americana a vários países, incluindo o Brasil.
Segundo Greenwald, nesta ocasião, em 2009, os Estados Unidos passaram a olhar com desconfiança para o País, e confirmou a necessidade de espionagem ao Brasil. "Ficou certo que a América Latina é alvo para espionagem dos Estados Unidos quando o governo de Lula apoiou o Irã. Com certeza a opinião política sobre o Brasil mudou muito. Pela primeira vez os jornais falaram coisas contra o Brasil, que o Brasil perdeu a oportunidade de um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e, com isso, o governo americano mudou a forma de olhar para o Brasil, e é em parte por que o Brasil é alvo de espionagem grande", disse o jornalista.
Greenwald denunciou que o governo americano não está apenas coletando metadados, como informou o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon – metadados são dados como tempo de ligações telefônicas e envio de e-mails sem que haja revelação do teor da comunicação. O jornalista afirmou que o sistema de interceptação de dados da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) é fácil de usar e há, pelo menos, 75 mil funcionários da NSA com acesso às informações.
Se eles sabem seu e-mail, seu número de IP e outras coisas, podem fazer pesquisas que podem trazer tudo o que você faz na internet, sobre os e-mails que você está mandando, documentos, sites que pesquisa. Esse sistema vai mostrar quase tudo o que todas as pessoas estão fazendo hoje na internet, é muito mais do que metadados. A coisa mais assustadora é que é muito fácil de usar. Pelo menos 75 mil funcionários diretos e indiretos do NSA têm acesso ao sistema. E se você é estrangeiro morando em outro país, praticamente não é protegido pelas leis. Esse sistema é muito mais poderoso do que as pessoas estão imaginando", afirmou o jornalista.
Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency – NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.
Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.
Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.
O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.
Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.
Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.