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Exército monitorou líderes de atos pelas redes sociais

Vinicius Sassine

O Exército brasileiro monitorou com lupa as manifestações que tomaram as ruas do país em junho, inclusive com uma técnica de espionagem semelhante à utilizada pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), organismo sob suspeita de violação de dados sigilosos no Brasil. Um software de fabricação nacional, em uso pelo Centro de Defesa Cibernética do Exército, filtrou informações postadas nas redes sociais e serviu para identificar os manifestantes que assumiram a linha de comando dos protestos.

Os dados produzidos foram enviados à Polícia Federal e às Secretarias de Segurança Pública nos estados onde ocorriam as manifestações. As informações foram repassadas ao GLOBO pelo chefe do Centro de Defesa Cibernética, general José Carlos dos Santos.
Segundo o general, o monitoramento feito pelo Exército é legal. Esse acompanhamento é necessário por envolver questões de segurança nacional, o que legitima e justifica essa ação, avalia ele. O militar informou que a parceria com a Polícia Federal também tem legitimidade até porque as Forças Armadas não atuam na ponta, o que é função da polícia.

O centro funciona no quartel-general do Exército, em Brasília. Da central de monitoração cibernética, Santos comandou um grupo de 50 militares responsáveis por identificar eventuais líderes das manifestações, pontos de potencial conflito e organização de atos de vandalismo. Agentes e delegados da PF atuaram em conjunto com o Exército. Outros 24 militares – quatro em cada uma das seis sedes da Copa das Confederações – participaram do monitoramento dos protestos. Novas manifestações poderão ser acompanhadas pelo Centro de Defesa Cibernética e pelo setor de inteligência do Exército.

Os protestos de junho, em especial os realizados nos dias de jogo na Copa das Confederações, foram marcados pela violência das polícias militares, que evitaram a aproximação dos manifestantes dos estádios. Agora, sabe-se que filtros produzidos pelo Exército, com identificação de eventuais líderes, municiaram a ação dos policiais. O software utilizado foi fabricado pela Dígitro, empresa de Florianópolis que vende a ferramenta a órgãos de segurança pública em geral, segundo o general.

– A adaptação do software para esse tipo de monitoração depende do usuário. Ele foi customizado para esse evento – disse o general.

Santos afirmou que o monitoramento e a filtragem de dados das redes sociais pararam com o fim da Copa das Confederações. Segundo ele, em nenhum momento o Exército filtrou dados que não fossem informações públicas, divulgadas nas redes sociais pelos ativistas:

– Essa foi a nossa presença nessa imensa praça cibernética. Com filtros, consegue-se focalizar o que interessa. É uma técnica de filtragem que a própria espionagem deve utilizar racionalmente. Os americanos monitoram 2,3 bilhões de e-mails e telefonemas. Se não houver essa técnica, não é possível gerar inteligência sobre isso. O próprio embaixador americano (no Brasil), Thomas Shannon, indica que essa é a técnica utilizada pela NSA. É um processo semelhante. A grande diferença é que nós nos baseamos só em informações de domínio público.

Conjuntos de frases e palavras publicadas nas redes sociais foram pinçados:

– Tudo que estava relacionado à segurança pública era mapeado. Era difícil precisar de onde estava partindo a coordenação. Quando era possível, informávamos aos órgãos de segurança.

O Centro de Defesa Cibernética já monitora as movimentações para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio. Na Copa das Confederações, o Exército forneceu informações "em tempo real" sobre produtos explosivos a serem usados nas manifestações. Fábricas clandestinas de explosivos foram interditadas, segundo o general. O mesmo monitoramento está previsto para a Copa do Mundo em 2014.

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