Separatistas proclamam “Pequena Rússia” na Ucrânia

O líder da autodenominada República Popular de Donetsk, Alexander Zakharchenko, proclamou nesta terça-feira (18/07) a criação de um novo Estado que incluiria as regiões separatistas do leste da Ucrânia e também o restante do país.

Zakharchenko anunciou na cidade de Donetsk, reduto dos separatistas pró-Rússia, que o novo Estado vai se chamar Malorossiya (Pequena Rússia), terá Donetsk como capital e haverá um período de transição de três anos para a sua criação.

De acordo com o anúncio – que Zakharchenko fez com seu habitual uniforme militar, como mostram as imagens de um vídeo divulgado pela imprensa russa – o novo Estado não abrangerá só as regiões rebeldes de Donetsk e Lugansk, mas "outras 19 regiões" de toda Ucrânia, incluída a de Kiev.

"Nós, representantes das regiões da antiga Ucrânia, exceto a Crimeia, proclamamos a criação do novo Estado, que será o sucessor da Ucrânia", anunciou Zakharchenko, que chamou o governo em Kiev de ilegítimo. Segundo ele, a Ucrânia é "um Estado falido, que demonstrou sua incapacidade de proporcionar a seus habitantes um presente e um futuro próspero e em paz".

As autoridades de Donetsk criarão uma comissão para preparar a Constituição do novo Estado de Malorossiya, segundo os separatistas, e essa Constituição será submetida a referendo.

Moscou ainda não reagiu ao surpreendente anúncio dos separatistas, que em 2014, após a anexação da península da Crimeia pela Rússia, iniciaram uma guerra contra o governo em Kiev, no leste do país. O conflito já deixou cerca de 10 mil mortos.

O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, respondeu à iniciativa garantindo que Kiev restabelecerá a soberania sobre as regiões de Donetsk e Lugansk, bem como sobre a Crimeia. "O projeto de Malorossiya foi enterrado", disse Poroshenko.

O governo alemão afirmou que a proposta é "totalmente inaceitável". "O senhor Zakharchenko não tem legitimidade para falar em nome da Ucrânia. Esperamos que a Rússia condene imediatamente este passo e que nem o respeite e nem mesmo o reconheça", afirmou um porta-voz à DW.

Cronologia do conflito na Ucrânia

Milhares nas ruas em Kiev

A partir de 21 de novembro de 2013, uma onda de manifestações exigindo a renúncia do presidente Viktor Yanukovytch tomou conta de Kiev. Ao ceder à pressão de Moscou e rejeitar acordo de associação com a União Europeia (UE), Yanukovytch enfrentou a ira da população. Eram os maiores protestos desde a chamada "Revolução Laranja", de 2004. Moscou disse que protestos queriam abalar um governo legítimo.

 

Repressão gera mais revolta

Yanukovytch se abriu ao diálogo com a oposição. Mesmo assim, a violência policial durante a repressão ao movimento prevaleceu. As unidades "Berkut", conhecidas pela brutalidade, atuaram contra os manifestantes na Praça da Independência e nos bloqueios às sedes do governo em Kiev. Opositores e jornalistas alegavam ser atacados, assediados e perseguidos pelo governo.

 

Banho de sangue em Kiev

Durante quase três meses de manifestações, dezenas de pessoas foram mortas devido à repressão policial. Um dos símbolos dos momentos mais dramáticos na “Maidan", Praça da Independência em Kiev, foi o Hotel Ucrânia, que serviu de hospital, necrotério e base da imprensa. Funcionários contam que, no ápice da violência, corpos se amontoavam no lobby.

 

A queda de Yanukovytch

No fim de fevereiro, o presidente Yanukovytch fugiu para a Rússia, acusando o Ocidente de alimentar os protestos. Para ele, o acordo alcançado com a oposição não foi cumprido. O pacto definia eleições presidenciais em 25 de maio de 2014 – consideradas por ele ilegítimas – a convocação de um governo de coalizão, a diminuição do poder do presidente e o aumento da influência do Legislativo.

 

Aumenta tensão militar

Após avanço de militantes com armamento russo no leste da Ucrânia, Kiev acusou Moscou de conduzir uma "guerra". A Rússia começou então, em março de 2014, a tomar bases militares na Crimeia. A Ucrânia preparou a retirada de seus cidadãos da península e disse que autoridades do governo não puderam entrar no território. O Ocidente começava aumentar a pressão sobre Moscou com sanções.

 

Crimeia é anexada

Em referendo realizado em 16 de março de 2014, 96,6% dos eleitores da península ucraniana da Crimeia optaram por integrar a Federação Russa. A participação foi estimada em 82,71%. O Parlamento da Crimeia declarou a independência e pediu a adesão à Rússia. No dia 20 de março, a Duma (câmara baixa do Parlamento russo) ratificou o tratado para incorporação da Crimeia ao país.

 

República Popular de Donetsk

Em abril de 2014, os separatistas proclamaram a República Popular de Donetsk e ampliaram o domínio sobre o leste do país, ocupando Horlivka. O líder separatista ucraniano Vyacheslav Ponomaryov rejeitou negociações sobre a libertação de sete inspetores da OSCE enquanto vigorassem as sanções da União Europeia contra personalidades públicas russas e ucranianas.

 

Leste busca anexação à Rússia

Depois de um controverso “referendo”, líderes de Donetsk e Lugansk passaram a buscar a integração ao território russo. No dia 12 de maio, as duas regiões declararam independência. Insurgentes pediram que Moscou anexasse as regiões, mas o governo de Putin se distanciou da ideia. Pró-russos ignoraram acordo para paz e não entregaram armas.

 

Novo presidente na Ucrânia

Em 25 de maio, o magnata Petro Poroshenko venceu as eleições presidenciais ucranianas já no primeiro turno, com cerca de 55% dos votos. Kiev anunciou intensificação dos combates até “aniquilar" as forças separatistas e recuperar o aeroporto de Donetsk, em um confronto que deixou 40 mortos. A Rússia exigiu cessar-fogo e acusou o país vizinho de usar as Forças Armadas contra a própria população.

 

A queda do MH17

Um avião da Malaysia Airlines, que partiu de Amsterdã com destino a Kuala Lumpur, foi alvejado por separatistas pró-Rússia no dia 17 de julho de 2014. No voo MH17 havia 280 passageiros e 15 tripulantes. A maior parte era de nacionalidade holandesa. Dez dias depois, peritos ainda não tinham acesso aos destroços do avião devido aos combates.

 

Kiev pede ajuda aos EUA

Em setembro, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko (esq.), pediu aos Estados Unidos apoio militar para combater os separatistas pró-russos. Num discurso na Casa Branca, em Washington, ele afirmou que a Rússia é uma ameaça à segurança mundial. "Se eles não forem contidos agora, vão atravessar as fronteiras da Europa e espalhar seu domínio pelo globo", afirmou.

 

Leste empossa líder pró-Moscou

Em novembro, o chefe interino da chamada República Popular de Donetsk, Alexander Zakharchenko, venceu por ampla maioria as eleições na região rebelde. Lideranças políticas e militares ignoraram que Kiev e grande parte do Ocidente não reconheciam a votação. Kiev acusou a Rússia de estar movimentando tropas e enviando equipamentos às regiões separatistas do Leste.

 

Negociações em Minsk

No fim de 2014, o número de deslocados internos chegaram a 460 mil segundo a ONU. Após seis meses de acordos de cessar-fogo violados, i governo da Ucrânia e rebeldes separatistas retomaram negociações de paz em 24 de dezembro de 2014 em Minsk, capital de Belarus. Além do cessar-fogo duradouro, estiveram em pauta a retirada de armas pesadas, a ajuda humanitária e a troca de prisioneiros.

 

Acumulando fracassos

No início de fevereiro de 2015, confrontos entre as tropas do governo da Ucrânia e separatistas pró-russos intensificaram-se em Donetsk, Lugansk e Debaltseve, na sequência do fracasso das negociações de um cessar-fogo para a região. Debaltseve, sob controle de Kiev, interliga por via ferroviária Donetsk e Lugansk, ocupadas pelos rebeldes.

 

Novo esforço diplomático

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, fizeram em fevereiro uma viagem surpresa a Kiev e Moscou antes da Conferência de Munique, em um novo esforço diplomático. Eles levaram uma proposta baseada no respeito à integridade territorial da Ucrânia. Novos números do conflito foram divulgados: mais de 5.100 mortos e 900 mil deslocados desde abril de 2014.

 

Longas negociações levam ao cessar-fogo

Depois de horas de negociação em Minsk, chefes de governo da Ucrânia, Rússia, Alemanha e França, além de líderes separatistas, chegaram a um acordo sobre o cessar-fogo no leste da Ucrânia. Foi definida a retirada das armas pesadas da linha de frente dos combates. A Europa aumentou os esforços para a paz especialmente depois de os EUA avaliarem a possibilidade de enviar armas e munição à Ucrânia.

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