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China e Rússia preocupadas com situação na Coreia do Norte

O ministro do Exterior chinês, Wang Yi, advertiu nesta sexta-feira (14/04) que quem provocar uma guerra na Península Coreana "deverá assumir as responsabilidades históricas e pagar o preço." "Se houver uma guerra, o resultado será uma situação em que todos perdem e ninguém ganha", assegurou Wang em coletiva de imprensa junto ao colega de pasta francês, Jean-Marc Ayrault.

Dado o aumento da tensão na região e perante um possível teste nuclear da Coreia do Norte, o ministro chinês pediu a todas as partes para retomar o diálogo e não deixar que as coisas evoluam até um ponto irreversível e incontrolável. "Exigimos um fim das provocações e ameaças, antes que a situação não possa mais ser salva", afirmou Wang após se reunir com Ayrault. "A China é da opinião de que o diálogo é a única solução", acrescentou o ministro chinês.

"Coreia do Norte é um problema"

Pequim pediu contenção enquanto Pyongyang finaliza os detalhes para as comemorações do aniversário de nascimento do fundador do país, este fim de semana, quando se teme que a Coreia do Norte possa realizar um novo teste nuclear, enquanto uma esquadra naval americana navega por águas próximas.

"No dossiê nuclear norte-coreano, o vencedor não será aquele que tiver as propostas mais duras ou que mostrar mais os músculos. Se ocorrer uma guerra, o resultado será uma situação em que ninguém sairá vencedor", alertou Wang, sem se referir diretamente às ameaças do presidente americano, Donald Trump.

Nesta quinta-feira, Trump abordou a situação da Coreia do Norte depois de os Estados Unidos terem lançado uma bomba não nuclear no leste do Afeganistão, o dispositivo convencional mais potente do arsenal bélico americano. "A Coreia do Norte é um problema, o problema será tratado", afirmou Trump, que esteve reunido na semana passada com o presidente chinês, Xi Jinping.

Preocupações da Rússia

Preocupada com o ressurgimento de tensões na Coreia do Norte, a Rússia também exortou nesta sexta-feira todas as partes a evitar qualquer ação que possa ser interpretada como uma provocação, anunciou o Kremlin. O apelo da Rússia veio após as novas ameaças dirigidas pelo presidente americano ao governo em Pyongyang.

"Moscou está acompanhando com grande preocupação as tensões crescentes na Península Coreana. Apelamos a todos os países para mostrar moderação e evitar qualquer ação que possa ser interpretada como uma provocação", disse o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.

A complexa equação chamada Coreia do Norte

O acirramento das tensões entre Estados Unidos e Coreia do Norte tem complicado ainda mais aquela que já é uma das equações mais complexas e perigosas dos tempos atuais: a divisão da Península Coreana em dois estados satélites, um ligado aos EUA e o outro à China.

O presidente americano, Donald Trump, foi claro em recentes entrevistas e tweets: se a China não ajudar a resolver o problema da Coreia do Norte, os Estados Unidos o farão sozinhos. Poucos dias depois, Trump ordenou o envio do porta-aviões USS Carl Vinson à região, uma decisão que foi duramente criticada pelo regime em Pyongyang.

Há sinais de que a China quer colaborar com os EUA. "Acho que ele quer nos ajudar com a Coreia do Norte", afirmou Trump sobre o presidente chinês, Xi Jinping, nesta quarta-feira (12/04), na Casa Branca. Em troca, os chineses teriam obtido vantagens comerciais.

Num gesto surpreendente, Trump disse esta semana que não vai declarar a China uma manipuladora cambial, uma ação que resultaria em tarifas de importação mais elevadas para os produtos chineses. A decisão bate de frente com o discurso usual de Trump de que empregos estão sendo perdidos nos EUA por causa da competitividade internacional da economia chinesa.

O que os EUA não querem de jeito nenhum é que a Coreia do Norte desenvolva um míssil nuclear de longo alcance, que poderia atingir o território americano.

Já a China precisa da Coreia do Norte como um Estado-tampão, que impeça que tropas militares americanas estejam estacionadas na sua fronteira. Há cerca de 28 mil soldados americanos na Coreia do Sul. Mas a China também não quer uma briga com os EUA, seu maior parceiro comercial, por causa da Coreia do Norte. E os chineses também não têm interesse em que a Coreia do Norte tenha armas nucleares.

Já o regime que comanda a Coreia do Norte quer sobretudo sobreviver e sabe que, para isso, necessita de armas nucleares. Essa lição foi aprendida com as invasões americanas, como a do Iraque. Pela ótica norte-coreana, a bomba nuclear é uma força de dissuasão capaz de impedir que o mesmo aconteça à Coreia do Norte.

Para a maioria dos analistas, a via militar não é de fato uma opção para Trump. Ela seria por demais arriscada, pois obrigaria a China a intervir, dando origem a um conflito de consequências imprevisíveis. Buscar a ajuda da China é muito mais sensato.

Além disso, um ataque à Coreia do Norte seria imediatamente respondido por Pyongyang com um ataque à Coreia do Sul – Seul já está ao alcance das armas norte-coreanas. Isso para não falar do Japão e de suas usinas nucleares.

Esta semana, Xi Jinping reiterou a Trump o que os chineses já disseram várias vezes: os EUA devem buscar o diálogo com a Coreia do Norte para alcançar o objetivo de uma Península Coreana livre de armas nucleares. Pela proposta chinesa, Pyongyang deveria primeiro acabar com seu programa nuclear e, em seguida, EUA e Coreia do Sul deveriam encerrar suas manobras militares conjuntas.

Ao mesmo tempo, os chineses mandaram um novo recado ao regime sul-coreano. "Tão logo a Coreia do Norte se atenha ao conselho da China e encerre sua atividades nucleares, a China vai trabalhar ativamente para garantir a segurança de uma nação norte-coreana desnuclearizada e do seu regime", afirmou o jornal Global Times, ligado ao Partido Comunista, em editorial.

Em artigo no New York Times, o especialista Roderick MacFarquhar vai além e sugere que Estados Unidos e China poderiam trabalhar juntos para solucionar a questão norte-coreana de outra maneira: se livrando do regime hoje comandado por Kim Jong-un. MacFarquhar argumenta que os dois lados teriam bons motivos para isso.

Primeiro, nenhum deles quer uma guerra na Pensínsula Coreana. Sem Kim Jong-un, a China estaria livre de um ditador que ameaça constantemente incendiar toda a região. Segundo, a China poderia conseguir algumas concessões dos EUA, como a remoção do sistema antimísseis conhecido como Thaad, que os americanos começaram a deslocar para a Coreia do Sul, uma notícia que causou irritação em Pequim.

A China também poderia pedir que as tropas americanas deixassem a Península Coreana, que poderia até mesmo ser reunificada, argumenta o especialista. Nesse cenário, uma Coreia reunificada seria um Estado permanentemente neutro. Porém, vantagens à parte, MacFarquhar ressalva que o mais difícil seria alcançar um elevado nível de confiança entre os dois rivais.

Por que a China precisa da Coreia do Norte?

A declaração do presidenciável republicano Donald Trump sobre as tropas americanas estacionadas na Coreia do Sul – sugerindo que Seul pague pela proteção – e os reiterados testes nucleares da Coreia do Norte chamam a atenção para uma das construções geopolíticas mais peculiares do pós-Guerra: a divisão da Península Coreana em dois estados, popularmente conhecidos como Coreia do Norte e Coreia do Sul.

Essa divisão é um resultado direto da vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial e deu fim ao domínio japonês na península. Em 1910, o Japão havia anexado a então Coreia, dando a ela o status de província. Com a derrota do Japão na guerra, Estados Unidos e União Soviética assumiram a administração do território coreano e o dividiram entre si, dando origem aos dois atuais estados do norte e do sul.

Em 1950, o norte invadiu o sul para tentar impor a reunificação da península, sem sucesso. Ao contrário, o conflito de três anos daí resultante, a Guerra da Coreia, acabou sedimentando a divisão entre o norte comunista, já sob a esfera de influência da China, e o sul capitalista, aliado dos EUA. Sem grandes mudanças, essa é a situação que perdura até hoje.

Um pilar essencial para a manutenção desse status quo são os interesses da China. Muitos analistas consideram a Coreia do Norte um estado tampão, cuja existência impede que a China tenha fronteira com um país capitalista e aliado dos Estados Unidos, onde estão estacionados 28 mil soldados americanos.

A favor dessa visão está a tese de que a China tem seu ponto mais vulnerável na fronteira com a Península da Coreia. Por outros lugares, esse país de dimensão continental é difícil de ser atacado, com montanhas, florestas, desertos e a Sibéria oferecendo proteções naturais. Como aponta o especialista em geopolítica George Friedman, um dos poucos locais onde a China é vulnerável é o Rio Yalu, que separa o país da Coreia do Norte.

Assim, é do total interesse da China que a Coreia do Norte continue sendo exatamente o que ela é – um regime comunista, inimigo dos EUA – e que a reunificação da Península da Coreia nunca ocorra.

Friedman, porém, vai um pouco além na sua análise da importância geopolítica da Coreia do Norte para a China: segundo ele, a existência desse pequeno país comunista, com suas obsessões nucleares, eleva a dependência que os EUA têm da China – pois só a China sabe lidar com essa ameaça incontrolável (aos olhos dos EUA). Assim, enquanto existir a Coreia do Norte e seu programa nuclear, os Estados Unidos vão precisar da China para controlar o perigo e evitar um conflito.

Nos últimos anos, porém, o governo da China deu sinais de que anda perdendo a paciência com a Coreia do Norte e seu jogo nuclear. No início de março, os chineses concordaram com sanções mais duras ao regime em Pyongyang pelo Conselho de Segurança da ONU – mas não tão duras que arrisquem a estabilidade do regime no pequeno país vizinho.

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