Aviões contra o Aedes aegypti


Nelson Paim
Presidente do SINDAG
 

Há 40 anos Brasil teve uma das mais bem-sucedidas operações de combate a mosquitos em sua história, na qual a aviação agrícola ajudou eliminar um surto de encefalite que assolava a Baixada Santista, em São Paulo. Foram 495 casos da doença, entre março e junho daquele ano, registrados principalmente em Mongaguá, Peruíbe e Itanhaém. A transmissão estava ligada ao mosquito Culex, que foi combatido com uma ação enérgica da Superintendência de Controles de Endemias (SUCEN) de São Paulo.

A estratégia abrangeu ações de educação para eliminar criatórios em residências e também aplicações de larvicidas por terra. Mas foi a aplicação por aviões do mesmo inseticida hoje aplicado por terra (nos chamados fumacês) que reduziu em 90% a população de mosquitos adultos da região, segundo levantamento da própria Sucen. Um exemplo extraordinário de como vontade política e ferramentas adequadas podem resultar em benefício para a população. No caso, centenas de vidas salvas ou livres de sequelas irreparáveis.

Em 2004, o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (SINDAG) sugeriu ao Ministério da Saúde uma parceria para se chegar a uma fórmula que repetisse em escala nacional o êxito obtido 29 anos antes no litoral paulista. A proposta era (e ainda é) de se eleger uma área piloto em uma zona de epidemia da doença. E, ali, utilizar um avião para aplicar o mesmo inseticida atualmente aplicado apenas por terra através de bombas costais ou em caminhonetes. Porém, com uma dosagem de 400 milímetros por hectare.

Pela recomendação do SINDAG para esse teste, a entidade entraria com o avião, equipamentos embarcados, piloto e equipe de terra para fazer o preparo do produto. O Ministério da Saúde forneceria o inseticida e disporia ainda de uma equipe multidisciplinar para avaliar a toda a operação e seus resultados – químicos, biólogos, ambientalista, sanitarista etc.

Ou seja, além de colocar verdadeiramente à prova o método que deu certo em 1975 – e que hoje é utilizado nos Estados Unidos, México e diversos outros países, a intenção é chegar a um protocolo de operações que melhor adeque a técnica à atual realidade brasileira. Tudo da maneira mais transparente possível e deixando claro que se trata de uma ação para áreas de epidemia. E complementar ao combate de larvas e às ações educativas para que a própria população continue prevenindo e eliminando os focos do inseto.

O SINDAG seguiu insistindo com a ideia, vendo a dengue crescer 109% em 2005. Em 2007, quando o Brasil registrou 496,9 mil casos da doença – crescimento superior a 90% em relação ao ano anterior, o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica descartando o uso da aviação, exceto em casos de epidemia. O documento apresentou dados que apontariam desvantagens no uso de aviões e foi contestado ponto a ponto pelo SINDAG, inclusive a relação custo/benefício da aviação.

Em uma audiência com o então ministro José Gomes Temporão, o sindicato apresentou seus argumentos e reforçou que a parceria seria justamente para colocar tudo à prova. Isso já em 2008, quando o país chegou a 632,6 mil casos de dengue. Em junho daquele mesmo ano, o SINDAG apresentou o plano em uma reunião do grupo técnico do Programa Nacional de Combate à Dengue, onde a resposta foi de que o grupo iria deliberar sobre o tema e informar á entidade da decisão. Resposta essa que não veio até hoje.

Enquanto vimos a dengue crescer mais 137% e o Brasil fechar 2015 com mais de 1,5 milhão de casos – a maior epidemia da doença em sua história. E o Aedes aegypti iniciou 2016 causando medo também com da febre chikungunya e, principalmente, epidemias do vírus zika. Pessoas estão morrendo e crianças estão sendo marcadas por sequelas que a acompanharão por toda a vida.

No último dia 23 de dezembro, o SINDAG reencaminhou sua proposta ao Ministério da Saúde, solicitando nova audiência junto ao órgão. Repetindo, como vem fazendo há 11 anos, que o Brasil tem a segunda maior força aérea agrícola do mundo, que ajudou a salvar vidas em 1975 e que está disposta a ser colocada à prova, para repetir o feito.

 Espera-se apenas vontade política.

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