As Bolsas chinesas tiveram nesta quarta (08JUL15), mais um dia de pânico, que paralisou quase metade dos negócios com ações de empresas do país e levou o governo a acelerar seu programa de compra de papéis corporativos para conter a maior queda nos preços das ações em 20 anos.
O desastre com as ações chinesas, que ocorre quando as atenções dos mercados globais estão voltadas para a crise na Grécia, já é visto como um possível "estouro de bolha" na China, país que mantém forte expansão na Bolsa e na economia desde 2007.
O índice CSI300 das maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen fechou em queda de 6,8%, enquanto o índice geral da Bolsa de Xangai, indicador de referência na China, registrou uma forte queda de 5,9%, apesar das novas medidas anunciadas pelo governo para tentar estabilizar o mercado.
O índice, que ontem fechou com uma queda de 1,29% após um breve respiro de alta na segunda-feira depois de uma série de intervenções das autoridades, caminha rumo ao pior mês de sua história ao acumular perdas de 29% nas três últimas semanas.
Na sexta (3), as Bolsas chinesas já tinham experimentado forte retração, o que foi chamado de Sexta-Feira Negra na China.
Refletindo a instabilidade chinesa, o dólar voltou a ter forte valorização sobre o real nesta quarta-feira (8). Às 11h40 (de Brasília), o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha alta de 1,35% sobre o real, cotado em R$ 3,232 na venda –por ora, este é o maior valor desde 30 de março, quando a moeda americana valia R$ 3,246.
Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançava 1,53%, a R$ 3,233.
O preço do minério de ferro na China despencou 11% nesta quarta, atingindo sua menor cotação em 10 anos. A China é o principal mercado da brasileira Vale, maior produtora global de minério de ferro.
940 EMPRESAS SUSPENDEM NEGOCIAÇÕES
Após atingirem em meados de junho sua maior alta em sete anos, as ações chinesas passaram a desabar na semana passada, quando os bancos chineses reduziram a oferta de crédito para os investidores cumprirem suas obrigações (pagamento de margens de transação) com as Bolsas.
Isso teria levado à suspensão dos negócios em várias corretoras e agentes do mercado de ações. Segundo o jornal britânico "Financial Times" somente nesta quarta, 173 grupos listados nas bolsas de Xangai e Shenzhen suspenderam o comércio de ações.
No total, já são 940 empresas, ou mais de um terço das companhias listadas nas duas bolsas. As ações já perderam US$ 3 trilhões em valor.
Para conter o pânico, o governo chinês fez até um apelo às empresas para implementarem planos de recompra. O próprio governo tem comprado papéis de empresas consideradas estratégicas para segurar os preços nas Bolsas.
Nesta quarta, com quase metade do mercado com negociação suspensa, os investidores remanescentes com posições consideradas insustentáveis foram forçados a se livrarem de ações para as quais pudessem achar compradores, especialmente os papéis de grandes empresas —as chamadas blue chips—, que até então eram sustentadas por fundos de estabilização no começo da semana e sofreram a maior parte do impacto.
"Nunca vi esse tipo de queda antes. Não acho que alguém tenha visto. A liquidez está totalmente esgotada", disse o analista da Northeast Securities Du Changchun.
"Originalmente, muitos queriam manter as blue chips. Mas com tantas small caps suspensas das negociações, a única maneira de reduzir a exposição de risco é vender as blue chips."
PERGUNTAS E RESPOSTAS
O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM A BOLSA CHINESA?
Depois de atingir seu nível recorde em meados de junho, o mercado vem despencando, perdendo um terço do seu valor, cerca de US$ 3,5 trilhões.
MAS O QUE DETONOU ESSE MOVIMENTO?
Não está claro. Uma das hipóteses é que seja um movimento de pânico, em que uma queda na Bolsa detona uma forte de venda de ações, que, por sua vez, derruba a Bolsa novamente, e assim por diante.
O GOVERNO CHINÊS NÃO VAI FAZER NADA?
Ele tomou algumas medidas nos últimos dias, mas sem efeito. A mais recente foi usar dinheiro do banco central para adquirir ações. Taxas foram cortadas para facilitar compras de papéis e IPOs (oferta pública de ações) foram suspensos, por exemplo.
A CULPA É DOS INVESTIDORES ESTRANGEIROS?
Essa é uma tese popular entre os chineses, mas parece improvável. Os investidores estrangeiros detêm apenas 2% das ações do país.
COM A FATIA ESTRANGEIRA TÃO PEQUENA, O BRASIL ESTÁ IMUNE?
Não. Os chineses são grandes compradores das nossas commodities (petróleo, soja, minério de ferro etc.) e uma crise no país deve diminuir não só o consumo do país desses produtos, como também os preços.