Fonte Petronotícias
A crise brasileira está ganhando um ritmo cada vez mais acelerado e as tristes consequências vão se desdobrando a cada dia, com índices crescentes de desemprego e dificuldades para empresas e trabalhadores. O estaleiro Eisa Petro-Um (antigo Mauá), em Niterói (RJ), é um exemplo claro disso, com um número grande de demissões ocorridas recentemente, e que agora chegou ao limite de sua sustentação frente às dificuldades.
Sem alarde, o Grupo Sinergy, que controla o estaleiro, divulgou um comunicado interno aos seus funcionários afirmando que os problemas obrigaram a empresa a “encerrar momentaneamente as atividades, até que se consiga achar uma saída que possa garantir as mínimas condições de trabalho que todos merecem”. Com isso, o documento pede que os funcionários ainda ativos, cerca de dois mil, fiquem em casa a partir desta sexta-feira (3).
O Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói preparou uma manifestação para esta manhã, com atos espalhados pela porta do estaleiro, da Petrobrás, da Transpetro e da Caixa Econômica Federal, mas o próprio estaleiro afirma na nota que pretende negociar com os sindicatos para definirem “a continuidade ou não as atividades industriais a título precário”.
O estaleiro já havia demitido cerca de mil pessoas há menos de duas semanas, num momento de agravamento da crise, mas afirma agora que nem com essas medidas e com o esforço dos que ficaram para aumentar a produtividade foi possível manter as atividades em curso.
A empresa afirma que a crise é motivada tanto pelo desequilíbrio econômico dos contratos atuais, quanto pela “indefinição na liberação dos contratos para a construção de mais oito navios”, sem dar detalhes maiores sobre os projetos. No caso, trata-se de um contrato com a Transpetro, que encomendou oito navios ao estaleiro, e diz já ter pago todo o valor devido, mas o Eisa questiona dizendo que ainda tem recursos adicionais a receber, em função de custos extras que tiveram durante as obras.
Além do problema com a Transpetro, o Eisa afirma ainda que o envio de projetos brasileiros para a execução no exterior tem agravado a crise, além dos cortes de investimentos sucessivos na indústria. A Petrobrás, por exemplo, fez um corte de US$ 90,3 bilhões em seu plano de negócios anunciado no início desta semana, indicando um volume de investimentos 37% menor do que o previsto anteriormente. A situação se complica ainda mais para a indústria naval em função das especulações de que a estatal pretende se desfazer de navios da Transpetro, como parte de seu plano de desinvestimentos para levantar recursos.
A situação da companhia é delicada e se alastra por todo o setor de petróleo. O estaleiro Eisa é apenas mais um elo da cadeia, que vem fazendo demissões, atrasando pagamentos e deixando muitos trabalhadores sem oportunidades pelo País. De acordo com o sindicato dos metalúrgicos de Niterói, os mil funcionários demitidos na última semana, por exemplo, não receberam as verbas rescisórias, sendo que os outros dois mil dispensados agora estão sem receber seus salários do mês passado.
Veja abaixo o comunicado na íntegra:
“Prezados Colaboradores do Eisa Petro-Um,
Como vimos informando nos últimos meses, o Estaleiro Eisa PETRO-UM vem atravessando uma crise financeira cada vez mais profunda. Ela está motivada tanto no desequilíbrio econômico dos contratos atuais, como na indefinição na liberação dos contratos para construção de mais oito navios.
Soma-se isto à situação atual do Brasil e especificamente da indústria naval, onde estão cortando investimentos e enviando obras para serem realizadas no exterior.
Os grandes esforços que todos os trabalhadores vêm fazendo para melhorar a produtividade não são suficientes para balançar esse desequilíbrio e poder assim dar continuidade às nossas operações.
É por essa razão que nos vimos forçados a encerrar momentaneamente as atividades, até que se consiga achar uma saída que possa garantir as mínimas condições de trabalho que todos merecem.
Solicitamos a todos que a partir de amanhã, dia 03/07/2015, permaneçam em seus domicílios até efetivarmos negociações com o sindicato representante da categoria profissional, para definirmos a continuidade ou não das atividades industriais a título precário e, assim, mantermos a expectativa de melhoria na economia do país e podermos voltar a contratar colaboradores”.
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