China e Rússia se unem contra guerra comercial dos EUA

Os presidentes da Rússia e China, Vladimir Putin e Xi Jinping, lançaram nesta quarta-feira (05/06) uma contraofensiva em resposta à guerra comercial entre os Estados Unidos e o país asiático. A reunião dos líderes em Moscou busca fortalecer a cooperação entre os países, que assinaram na ocasião diversos acordos comerciais.

"Nos propomos a resistir à imposição de restrições infundadas ao acesso aos mercados de produtos de tecnologias da informação com a desculpa de garantia de segurança nacional, assim como à exportação de produtos de alta tecnologia", diz uma declaração assinado pelos dois presidentes no Kremlin, na qual Moscou e Pequim se comprometem em ampliar a cooperação estratégica e desenvolver novas parceiras.

O documento também ressalta os planos de "se opor à ditadura política e à chantagem na cooperação comercial e econômica internacional, e condenar a aspiração de alguns países de se acharem no direito de decidir os parâmetros de cooperação entre outros países".

Acusados de promoverem censura nas redes, Putin e Xi também prometeram "garantir o funcionamento pacífico e seguro da internet sobre a base da participação em igualdade de condições de todos os países em tal processo".

Putin e Xi ressaltaram que "nos últimos anos" as relações entre Rússia e China atingiram níveis "sem precedentes" na história e citaram como exemplo as trocas comerciais, que já superaram a barreira dos 108 bilhões de dólares.

A China é um dos principais alvos dos Estados Unidos numa guerra comercial. Recentemente, o presidente americano, Donald Trump, ameaçou sobretaxar praticamente quase todos os bens chineses importados pelos EUA. Em resposta, Pequim alertou sobre a possível falta de terras raras, matéria-prima sem a qual não há indústria de alta tecnologia, smartphones, nem automóveis. Os americanos importam da China 80% das terras raras que utilizam.

Em Moscou, Putin e Xi também mostraram unidade em relação à Venezuela. Os presidentes pediram diálogo político para resolver a crise no país sul-americano e rejeitaram uma possível intervenção militar contra o governo de Nicolás Maduro.

"Seguimos atentamente o desenvolvimento dos eventos na Venezuela e chamamos todas as partes a cumprir a Carta da ONU, assim como as normas do direito internacional e as relações entre os Estados", disseram em nota conjunta.

Na entrevista coletiva após a reunião, Putin afirmou que ambos os países "se pronunciam a favor da estabilização da situação na Venezuela".

A Rússia e a China, que têm grandes interesses econômicos na Venezuela, são os dois aliados principais de Maduro e o apoiaram desde o começo da crise no país, depois que Juan Guaidó se autoproclamou presidente interino em janeiro e foi reconhecido por mais de 50 países. Desde então Moscou se pronunciou em repetidas ocasiões em defesa do diálogo e tem se oferecido para mediar o conflito.

Putin e Xi também enfatizaram a necessidade de preservar o acordo nuclear com o Irã, e prometeram contribuir para o avanço das conversações sobre a desnuclearização da Coreia do Norte. 

Aproveitando o encontro, as principais empresas russas e chinesas assinaram vários acordos de cooperação. A economia russa tem sido duramente atingida pelas sanções europeias e americanas desde 2014, após Moscou ter anexado a Crimeia, aumentando a tensão no conflito na Ucrânia.

Xi foi recebido em Moscou com honras militares e, ao lado de Putin, inaugurou uma fábrica de automóveis chinesa no sul de Moscou. Da capital russa, o presidente chinês parte para São Petersburgo, onde participará de um fórum econômico na quinta e sexta-feira.

Trump ameaça China com tarifas sobre outros U$300 bilhões em produtos¹

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impor tarifas sobre “ao menos” outros 300 bilhões de dólares em produtos chineses, mas disse acreditar que tanto a China quanto o México querem fazer acordos nas disputas comerciais com os EUA.

As tensões entre as duas maiores economias do mundo aumentaram acentuadamente desde que as conversas que visavam acabar com uma guerra comercial acirrada fracassaram no início de maio.

Embora Trump tenha dito nesta quinta-feira que as conversas com a China prosseguem, não houve encontros bilaterais desde 10 de maio, dia em que ele aumentou em 25% as tarifas sobre 200 bilhões de dólares de produtos chineses, levando Pequim a retaliar.

“Nossas conversas com a China, muitas coisas interessantes estão acontecendo. Veremos o que acontece… eu poderia aumentar ao menos outros 300 bilhões, e o farei na hora certa”, disse Trump a repórteres, sem especificar quais bens poderiam se afetados.

“Mas acho que a China quer fazer um acordo e acho que o México quer muito fazer um acordo”, disse Trump antes de subir a bordo do Força Aérea 1 no aeroporto irlandês de Shannon para acompanhar as comemorações do Dia D na França.

Em Pequim, o Ministério do Comércio chinês adotou um tom desafiador.

“Se os Estados Unidos decidirem escalar as tensões propositalmente, lutaremos até o fim”, disse o porta-voz do ministério, Gao Feng, em um boletim à imprensa de rotina.

“A China não quer travar uma guerra comercial, mas tampouco tem medo de uma. Se os Estados Unidos decidirem escalar as tensões propositalmente, adotaremos as contramedidas necessárias e salvaguardaremos resolutamente os interesses da China e de seu povo”.

O Ministério do Comércio também emitiu um relatório sobre como os EUA se beneficiaram de anos de cooperação econômica e comercial com a China, dizendo que as alegações norte-americanas de que Pequim se aproveitou do comércio bilateral são infundadas.

“Desde que o novo governo dos EUA tomou posse, vem desconsiderando a natureza mutuamente benéfica e vantajosa da cooperação econômica e comercial China-EUA e advogando a teoria de que os Estados Unidos foram ‘derrotados’ pela China no comércio”, disse a pasta em um relatório de pesquisa.

Depois de dizer que não houve progresso “suficiente” nas maneiras de conter a imigração quando os dois lados se encontraram na quarta-feira, Trump disse aos repórteres nesta quinta-feira que o México avançou nas conversas, mas que precisa fazer mais.

¹com Agência Reuters

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