Brasil! Negócio da China

Bianca Alvarenga


Longa, com efeitos devastadores na economia, a crise brasileira aguçou o apetite de investidores do outro lado do planeta. Para os chineses, o Brasil virou sinônimo de oportunidade. Um estudo da consultoria inglesa Dealogic ajuda a dimensionar o fenômeno. Em 2017, a China assumiu a primeira posição no ranking de compra de empresas e ativos nacionais.

Nos quatro primeiros meses deste ano, suas aquisições movimentaram 5,7 bilhões de dólares. Nem brasileiros nem americanos desembolsaram tanto no mesmo período. Bons negociantes, os chineses estão arrematando principalmente empreendimentos no setor de infraestrutura.

São projetos que exigem largas somas. Dona da hidrelétrica de Três Gargantas, a China Three Gorges desembolsou 20 bilhões de reais para se tornar a segunda maior geradora privada de energia do Brasil. Além dos investimentos que fez em parques eólicos, o grupo agora é dono de dezessete usinas que pertenciam à Cesp e à americana Duke Energy.

Maior empresa de energia do mundo, com faturamento de 340 bilhões de dólares, a chinesa State Grid assumiu no ano passado o controle da CPFL, quando comprou as ações da companhia por 14 bilhões de reais. A State Grid é responsável também pela construção da linha de transmissão de energia da usina de Belo Monte.

Aos poucos, os chineses vão entendendo como funciona o jogo local. A obra atrasou, por falta de licenças, e a State Grid mandou uma carta ao Ministério de Minas e Energia pedindo ajuda. Até agora, nada.

Com todas as grandes empresas de infraestrutura brasileiras enroladas na Lava-Jato, os chineses são beneficiados por alguns fatores. Hoje há menos investidores locais preparados para assumir esses projetos.

E, graças à situação financeira de alguns, os preços estão convidativos. No mês passado, a Odebrecht vendeu sua parte no Aeroporto do Galeão, no Rio. O comprador foi o grupo HNA, da China. Não se sabe ao certo quanto foi, mas com certeza o negócio saiu por uma fração dos 19 bilhões de reais pagos pela concessão.

Agora o apetite chinês se volta para as ferrovias Transnordestina e Norte-Sul e para as usinas de Santo Antônio e Belo Monte. "Eles querem mais concessões de transporte e energia", diz Eduardo Centola, sócio do banco Modal. O banco auxilia a China Communications Construction a encontrar bons negócios aqui — que devem se multiplicar ainda mais com o fim da crise.

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