EDWARD WONG
DO "NEW YORK TIMES", EM PEQUIM
Durante quase dois anos, hackers de Xangai atacaram sucessivas firmas estrangeiras de defesa, ao menos 20 no total. Seu alvo, segundo uma empresa americana de segurança cibernética, era a tecnologia por trás da clara liderança dos Estados Unidos no campo dos drones militares.
"Acredito que esta seja a maior campanha que já vimos a ser focada na tecnologia dos drones", disse Darien Kindlund, gerente de ameaças à inteligência nessa empresa, a FireEye, com sede na Califórnia. "Isso parece se alinhar bastante com o foco do governo chinês em ampliar suas próprias capacidades relativas à tecnologia com drones."
A operação de invasão cibernética, conduzida por um grupo chamado Comment Crew, foi um dos mais recentes sinais das ambições do programa chinês de aeronaves teleguiadas. O governo e os militares estão empenhados em colocar a China na linha de frente da fabricação de drones, para seu uso e para exportação.
Funcionários da chancelaria dizem que a China não aprova a ação de hackers, e que o próprio governo chinês é vítima, mas outra companhia americana de segurança cibernética já localizou membros do Comment Crew em um prédio do Exército Popular de Libertação nos arredores de Xangai.
Recentemente, autoridades chinesas enviaram um drone para perto de ilhas administradas pelo Japão, mas disputadas entre os dois países. Os chineses também já debateram o uso de um drone armado, no ano passado, para matar um suposto criminoso em Mianmar, e venderam aparelhos "caseiros", semelhantes ao modelo americano Predator, para outros países, por menos de US$ 1 milhão cada.
Analistas militares dizem que a China há anos tenta copiar os modelos dos drones estrangeiros. Ian Easton, analista militar do Instituto Projeto 2049, na Virgínia, disse que a espionagem cibernética é uma ferramenta em um amplo esforço chinês dos últimos anos para a aquisição ou desenvolvimento doméstico de drones usando toda a tecnologia disponível, nacional ou estrangeira.
Autoridades e engenheiros da China já fizeram engenharia reversa, estudaram material de fonte aberta e interrogaram especialistas americanos em drones que participam de conferências e outras reuniões na China.
Os militares chineses não divulgam estatísticas sobre o tamanho da sua frota de drones, mas um relatório do Ministério da Defesa de Taiwan disse que, em meados de 2011, a Força Aérea Chinesa tinha sozinha mais de 280 unidades. Analistas dizem que os outros ramos das Forças Armadas possuem milhares de drones, o que significa que a frota chinesa só é inferior à dos EUA, com cerca de 7.000 aparelhos.
O aparato chinês de segurança doméstica também está interessado nos drones, o que motiva questões sobre o potencial uso deles para a vigilância e possivelmente até para ataques dentro da China, inclusive em áreas turbulentas, como Xinjiang e Tibete.
Um momento sintomático no uso de drones pela China ocorreu em 9 de setembro, quando a Marinha enviou um drone de vigilância para perto das ilhas Diaoyu, que o Japão administra e chama de Senkaku. Jatos interceptadores japoneses foram às pressas para confrontá-lo. Essa foi a primeira vez que a China mobilizou um drone sobre o mar do Leste da China.
Easton disse que a mobilização do drone perto de ilhas e águas disputadas "foi algo bastante inédito" por parte da China, apanhando as autoridades japonesas de guarda baixa.
"Acho que isso é realmente apenas o começo de uma tendência muito mais ampla que vamos ver – que a China amplie sua capacidade de monitorar o mar do Leste da China e o oeste do Pacífico, para além das Filipinas, e aumente o envelope de operação das suas capacidades de ataque", disse ele.
Os militares chineses, com seu foco em uma potencial guerra contra Taiwan e de olho nas crescentes disputas territoriais chinesas, estão na vanguarda da preparação de drones para uso em situações marítimas.
A empresa FireEye batizou a campanha de furto de drones como Operação Beebus, traçando sua localização até um nódulo de comando e controle no endereço bee.businessconsults.net. Especialistas em segurança cibernética dizem que o endereço geral e as ferramentas vinculadas a ele estão associados ao Comment Crew, unidade chinesa de hackers da qual a Mandiant, outra empresa de segurança cibernética, tratou em um relatório em fevereiro. A Mandiant disse que o grupo é parte da Unidade 61398 do Exército Popular de Libertação, com sede em Xangai.
Embora as vítimas iniciais da Operação Beebus fossem grandes firmas de defesa, os hackers depois passaram a escolher empresas especializadas em tecnologia de drones, disse Kindlund, da FireEye. Aí eles se alternaram entre grandes empresas, fabricantes de uma ampla gama de tecnologias, e firmas "de butique", focadas nos drones.
Os drones chineses cada vez mais aparecem nos arsenais de outras nações. A versão chinesa do Predator, chamada Wing Loong, ou Pterodátilo, foi exportada pela primeira vez em 2011, segundo o "Diário do Povo". Na Exposição Aérea de Paris, em junho, o presidente de uma companhia aeronáutica chinesa disse ao "Global Times" que o drone teria capacidade para transportar dois mísseis guiados a laser, e que seria igual ao Predator em termos de resistência e alcance de voo, só que bem mais barato.