RIO 2010 – Atuação do Corpo de Fuzileiros Navais

Nota DefesaNet

Republicamos, ao completar três anos da Ação no Rio de Janeiro, série de duas matérias publicadas na Âncoras e Fuzis do Corpo de Fuzileiros Navais, em 2011:

1 – Atuação da Marinha do Brasil na Operação Rio 2010: os principais atributos do Corpo de Fuzileiros Navais em evidência Link

2 – Operação Rio-2010: A visão do Componente de Combate Terrestre (CCT) Link

O Editor

 

Atuação da Marinha do Brasil na Operação Rio 2010:

os principais atributos do Corpo de Fuzileiros Navais

em evidência

(matéria originalmente publicada em Âncoras e Fuzis Nº 42 – Ago 2011)

 

 

CMG (FN) Carlos Chagas Vianna Braga

 

 

 

Em novembro de 2010, durante, possivelmente, a mais grave crise de segurança vivida pela cidade do Rio de Janeiro em sua história recente, a Marinha do Brasil (MB) teve participação inusitada, marcante, decisiva e, por que não dizer, também surpreendente.

 

Uma onda de criminalidade sem precedentes, que beirava o terrorismo, crescia a cada dia, sem encontrar limites. Na segunda quinzena de novembro, o número de veículos queimados diariamente nos mais diversos pontos da cidade já era superior a trinta. Além disso, atentados de todo tipo e suspeita de bombas levavam o pânico à população do Rio de Janeiro.

 

Foi neste contexto que a MB, atendendo a uma solicitação direta do Governador do Estado do Rio de Janeiro, desencadeou, com amplo sucesso, uma operação de apoio às forças de segurança daquele Estado, empregando meios blindados do seu Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Assim, o propósito deste ensaio é relatar a sequência de eventos ocorridos, desde o início da mobilização até o término da operação, e avaliar como as características essenciais de prontidão operativa e capacidade expedicionária do CFN, aliadas às características básicas do Poder Naval de flexibilidade, versatilidade e mobilidade, não apenas estiveram evidentes durante toda a operação, como foram fundamentais para o pleno sucesso alcançado em todos os níveis.

 

A mobilização

 

Dia 24 de novembro, quarta-feira, o último grande exercício do Programa de Adestramento da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE), o ADEST BTLPROT1, está sendo encerrado em Itaoca, ES. Na ocasião, ocorre também um almoço em homenagem ao Comandante da Força, Vice-Almirante (FN) Leitão, que está se despedindo para assumir o cargo de Comandante do Pessoal de Fuzileiros Navais, com a presença dos Almirantes e Comandantes de Unidade da FFE. Em seu discurso, o Almirante Leitão faz uma rápida retrospectiva e menciona sua satisfação com o encerramento de um ano operativo intenso e bem sucedido.

 

Naquele momento, nenhum dos presentes poderia imaginar o que viria a ocorrer nas horas seguintes. Missão cumprida, exercício encerrado, ano operativo concluído. Todos os presentes no almoço iniciam o deslocamento de regresso ao Rio de Janeiro. Pouco depois das 17h, o Comandante da FFE (ComFFE), ainda no início de seu deslocamento, recebe um telefonema informando que o Governador do Estado do Rio de Janeiro havia solicitado o apoio da Marinha, e que a decisão seria atender ao pedido. O apoio consistiria basicamente na utilização de blindados do CFN para o deslocamento e proteção de policiais.

 

Uma série de telefonemas é desencadeada e os comandantes das unidades que, a princípio (naquele momento não se sabia exatamente qual a missão ou mesmo as circunstâncias envolvidas), estariam diretamente envolvidas, são acionados, imediatamente, para mobilização dos meios. Foram acionados o Batalhão Logístico de Fuzileiros Navais (BtlLogFuzNav), o Batalhão de Blindados  de Fuzileiros Navais (BtlBldFuzNav) e o Batalhão de Viaturas Anfíbias (BtlVtrAnf).

 

Começa a corrida contra o tempo. A determinação era de que todos os meios e pessoal necessários estivessem prontos e concentrados no BtlLogFuzNav já ao amanhecer do dia 25, o dia seguinte. Os planos de chamada das unidades envolvidas foram acionados e, durante toda a noite, oito carretas transportaram os blindados da Ilha do Governador, Ilha das Flores e Itaoca (alguns dos blindados estavam sendo empregados no ADEST BTLPROT) para o BtlLogFuzNav.

 

Às 5h do dia 25, ou seja, menos de 12 horas após o acionamento, todos os meios (exceto três viaturas Piranha que estavam vindo de Itaoca) e pessoal já estavam prontos e concentrados no local determinado, dando a primeira demonstração de prontidão operativa. Ou seja, estavam prontos para o início da operação:

1-  6 viaturas M-113A1;

2 – 4 Carros Lagarta Anfíbio (CLAnf);

3 – 2 viaturas Piranha;

4 – 1 CLAnf Socorro, e,

5 – 1 SK Socorro,

 

além, obviamente, dos Fuzileiros Navais que estariam envolvidos.

 

O Planejamento Sumário

 

Às 7h, o ComFFE reuniu um gabinete de crise, formado pelo Chefe do Estado-Maior (CEM) da FFE, pelos Oficiais de Operações e de Logística daquela Força e pelos Comandantes do BtlLogFuzNav e do BtlBldFuzNav.

 

Até aquele momento, não se dispunha de maiores detalhes sobre a operação ou mesmo sobre o local onde os meios seriam empregados. Todas as ordens haviam sido passadas verbalmente por telefone e o Comando de Operações Navais começava a preparar uma Diretriz Inicial, de modo a formalizar o processo. Sabia-se, contudo, que havia, por parte das forças policiais, grande urgência em iniciar as operações com máxima brevidade. Comentava-se, inclusive, que havia uma equipe de policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) encurralada em determinada comunidade. Na realidade, esta informação acabou por condicionar a enorme velocidade e o nível de incerteza com os quais as ações preparatórias foram desencadeadas naquela manhã, incluindo um “planejamento sumaríssimo”, em uma definição extremamente generosa. Na reunião, foi decidida a ativação de um GptOpFuzNav, cujo comando caberia ao CEM da Tropa de Desembarque, reunindo os meios que atuariam na operação.

 

Às 7:30h, imediatamente após o término da reunião do gabinete de crise, o Chefe do Estado-Maior Administrativo da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), Coronel Milagres, chegou ao ComFFE para discutir detalhes da operação, tendo sido informado que os meios do CFN já se encontravam prontos para iniciar as operações assim que a PMERJ desejasse. Posteriormente, o coronel revelaria que tal grau de prontidão surpreendeu e, de certa forma, “atrapalhou” o planejamento da PMERJ, pois aquela força policial só esperava que os meios do CFN estivessem em condições de operar no dia seguinte (sexta-feira) e estava se planejando para tal.

 

Com tal prontidão, decidiu-se que a operação seria executada no dia 25 (quinta-feira) mesmo e o primeiro alvo, que passamos a conhecer naquele momento, seria a Vila Cruzeiro. As razões para a escolha do primeiro alvo serão apresentadas mais adiante, quando abordarmos o enfoque das forças policiais.

 

Forças do BOPE entram no Batalhão Logístico dos Fuzileiros Navais para receber instruções sobre como trabalhar com os M113A1 e Carro de Lagartas Anfíbio (CLAnf).

Assim, pouco depois das 8h, o BtlLogFuzNav foi “invadido” por tropas e viaturas do BOPE. Enquanto os policiais procuravam familiarizar-se com os blindados, recebendo instruções sobre suas características e sobre como embarcar e desembarcar, o comando da unidade policial participava de reuniões com o comando do BtlLogFuzNav e do BtlBldFuzNav, que procurava expor sua ideia de manobra.

 

As diferenças entre as culturas militar e policial manifestaram-se desde o início, mas a flexibilidade de atuação do CFN permitiu que fossem contornadas com êxito.

 

No meio da manhã, chegou ao ComFFE a “Diretriz Inicial de Planejamento” que formalizava a atuação da MB e caracterizava a tarefa como prestação de “apoio logístico de transporte ao Governo do Estado”, “mediante cessão temporária de uso de material logístico e transporte às Operações Policiais no Rio de Janeiro, a partir de 25 de novembro, em atendimento aos requisitos operacionais da PM do RJ, empregando viaturas blindadas e suas respectivas guarnições para operá-las.”

 

Diante da alta visibilidade esperada para a operação, foi criada também uma estrutura de comunicação social ad hoc.

 

Pouco depois das 11h, as carretas transportando os blindados, escoltadas por motociclistas da PMERJ e equipes do BOPE, cruzaram os portões do Complexo Naval Caxias-Meriti (CNCM), em direção à Vila Cruzeiro.

 

Execução

 

Chegando às proximidades do 16º BPM (Olaria), as viaturas blindadas desceram das carretas. Foram realizados os preparativos finais, embarcados os policiais do BOPE e iniciadas as operações. A penetração das viaturas blindadas na Vila Cruzeiro ocorreu pelos itinerários previamente selecionados pelo comando do BOPE. Pouco depois, o Comandante do GptOpFuzNav estabeleceu seu Posto de Comando nas instalações do 16º BPM, ficando assim justaposto ao PC das forças policiais, o que facilitou a coordenação e os ajustes necessários, principalmente em função das condições de incerteza e limitações de tempo diante das quais a operação havia sido iniciada.

As viaturas M-113 foram empregadas primeiramente.

 

Logo em seguida, foram empregados os CLAnf. Os obstáculos que haviam sido posicionados pelos traficantes foram rapidamente superados, sem maiores dificuldades.

Entretanto, nos primeiros momentos, houve grande resistência. Muitos disparos foram efetuados contra os blindados, sendo que nenhum deles conseguiu penetrar na blindagem.

 

Na realidade, a proteção oferecida pelos blindados não somente garantiu a segurança e a integridade física dos policiais embarcados, como também da própria população local, uma vez que os policiais, ao ficarem devidamente protegidos, não se viram forçados a utilizar com frequência seu armamento para suprimir o fogo dos traficantes. Assim sendo, podemos dizer que vários danos colaterais foram evitados pela simples presença dos blindados. (Itálico DefesaNet)

 

Após a resistência inicial, os traficantes, impotentes, fugiram de forma desorganizada e desesperada. As surpreendentes imagens da fuga de centenas de traficantes, que ficou conhecida na própria comunidade como a “fuga das baratas”, foram exibidas, ao vivo, pela TV Globo, sendo motivo de diversos debates e controvérsias.

  

Dramáticas cenas da fuga de, talvez centenas de membros de gangues para a Vila Cruzeiro. Transmitida ao vivo, causou impacto nacional e internacional. 

Aqui cabe uma importante reflexão sobre a fuga dos traficantes, transmitida ao vivo. É fato que alguns analistas precipitaram-se em criticar a operação por ter permitido que os traficantes fugissem para o Complexo do Alemão. Alegavam alguns que deveria ter sido feito um cerco ou algo típico das operações contra insurreição, como “martelo e bigorna”. É fato, também, que a escolha dos objetivos e itinerários nada teve a ver com a MB, uma vez que foram selecionados, conforme já mencionado, exclusivamente pela PMERJ. Entretanto, por uma análise mais ampla, pode-se constatar que, do ponto de vista da MB, a situação foi a melhor possível, pois, caso os mesmos não tivessem fugido, teriam combatido até o final e, certamente, haveria pesadas baixas, possivelmente, inclusive, entre civis inocentes, e o nome da MB estaria inexoravelmente ligado a estes acontecimentos.

 

Deve-se ter em mente que o efeito desejado da operação era devolver o controle da área ao poder público e não a realização de uma operação contra insurreição.

 

Como resultado, os objetivos foram rapidamente conquistados e, em cerca de duas horas, as forças de segurança já haviam assumido o controle da área. Nos dias seguintes, foram realizadas algumas operações pontuais em locais previamente determinados, nos quais ainda haveria a presença de traficantes, armas e drogas.

 

Impulsionado pelo grande êxito alcançado na Vila Cruzeiro, o Governo do Estado decidiu expandir, imediatamente, as operações para o Complexo do Alemão. Para tanto, passou a contar também com o apoio da Brigada de Infantaria Pára-Quedista do Exército Brasileiro que foi desdobrada, realizando o cerco do referido complexo, de modo a facilitar as operações futuras.

 

Assim, no domingo, dia 28 de novembro, foi realizada uma operação de grande envergadura no Complexo do Alemão, envolvendo forças policiais de diversas delegacias e batalhões. Novamente, a presença das viaturas blindadas do Corpo de Fuzileiros Navais foi o fator preponderante para o sucesso. Desta vez, além de prestarem apoio de transporte ao BOPE, as viaturas foram empregadas também no apoio à Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (CORE) da Polícia Civil.

 

As operações foram iniciadas com os blindados progredindo pelos itinerários previamente propostos pelas forças de segurança apoiadas. Desta vez, possivelmente em função do impacto do sucesso na operação anterior na Vila Cruzeiro, não houve resistência, de modo que, em menos de uma hora, os objetivos já haviam sido atingidos.

 

Nos dias subsequentes, os blindados ainda apoiaram algumas ações do BOPE e foram, pouco a pouco, retornando às suas bases. É importante considerar que o emprego destes meios em ambiente urbano deve ser reduzido ao menor tempo possível e, somente, em situações nas quais sua presença seja essencial, uma vez que, por suas dimensões, podem causar danos a ruas, a automóveis e a outras propriedades.

 

Comunicação Social

 

Como pode ser facilmente constatado, a operação, em função de diversos aspectos, incluindo a própria comoção da população, teve enorme visibilidade. Assim, uma das áreas que teve papel relevante durante todo o processo foi a Comunicação Social. A seguir, serão apresentados os principais aspectos referentes ao funcionamento da Comunicação Social durante os eventos.

 

Foi ativada, desde o início da Operação, em 25 de novembro, uma estrutura de Assessoria de Comunicação Social, ad hoc, no Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra, com o propósito principal de atender, tempestivamente, às demandas de imprensa e de relações públicas atinentes à operação.

 

 A AssComSocFFE foi integrada por Oficiais da própria Força, com reforços do Comando

do 1º Distrito Naval (Com1ºDN) e do Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM).

Conforme prevêem o Plano de Comunicação Social da Marinha e o EMA-860 Manual de Comunicação Social da Marinha, visando assegurar unidade de pensamento em todas as interações com a mídia, foram estabelecidas as seguintes ideias-força, na ordem de prioridade a seguir:

– o papel da Marinha do Brasil;

– a Missão principal de defesa do país;

– a importância da Amazônia Azul;

– o papel do Corpo de Fuzileiros Navais;

– a Prontidão Operativa, e ,

– Capacidade Expedicionária.

 

Visando assegurar maior eficácia nos trabalhos, foram estabelecidas as seguintes diretrizes gerais para a comunicação social durante a operação: manter a iniciativa; agilidade e oportunidade; transparência; amplo acesso às informações e às operações (exceto às sigilosas); disponibilidade; e cortesia máxima no trato com a mídia e com o público em geral.

 

Dentre as principais atividades executadas, destacam–se: ligações com o Com1ºDN e Coordenadoria de Comunicação Social da Polícia Militar do Rio de Janeiro (CComSoc/PMERJ), Press Releases, atendimento às solicitações da imprensa, contato permanente e aproximado com a mídia, controle do pessoal autorizado a falar à imprensa, realização de Media Trainning, registro fotográfico, clipping e monitoração/gravação das principais matérias na mídia.

 

A tempestividade das informações é de vital importância para o trabalho dos órgãos de imprensa. A informação que é relevante em determinado momento perde sua relevância pouquíssimo tempo depois. Assim sendo, o pronto atendimento às demandas da mídia mostrou-se um importante fator para o aproveitamento das oportunidades de divulgação da imagem da Marinha e para a criação de uma atmosfera favorável no relacionamento com os integrantes dos órgãos de imprensa.

A incorporação de oficiais especializados em Comunicação Social, oriundos do Com1ºDN e do CCSM, foi fundamental para assegurar o nível de conhecimento técnico desejável e facilitar as interações com a mídia. Tal situação  contribuiu decisivamente para a maior qualidade da divulgação da participação da Marinha na operação.

 

A execução e divulgação de eventos voltados para a mídia é importante para assegurar a manutenção da iniciativa, canalizando os esforços da mídia na direção desejada e, ao mesmo tempo, fornecer pautas que possam alimentar as necessidades desses órgãos. Tais eventos, normalmente, fornecem à mídia o material necessário para a produção de boas matérias e permitem angariar sua simpatia e boa vontade. Ao mesmo tempo, evitam que os integrantes da mídia fiquem “vagando” pela área de operações em busca de notícias, as quais, muitas vezes, podem fugir do controle e, eventualmente, adquirir um viés não muito favorável. Um dos eventos que teve maior destaque foi o convite para a apresentação dos veículos blindados, seguido pelo embarque da mídia nos mesmos para visita à área de operações.

 

Todos os veículos de mídia foram prontamente atendidos, com a mesma atenção, independentemente do seu possível grau de importância. Tal situação contribuiu para evitar qualquer sensação de discriminação entre os diversos veículos, facilitando o relacionamento.

 

O relacionamento amistoso, paciente e aproximado com os diversos jornalistas mostrou-se de grande valia, contribuindo para a criação de um ambiente bastante favorável, que resultou em inúmeras matérias altamente positivas.

 

As diretrizes gerais estabelecidas inicialmente para a condução das atividades de comunicação social durante a operação mostraram-se bastante relevantes e, sem dúvida, contribuíram para os resultados alcançados. À luz da Comunicação Social, a participação da Marinha do Brasil, no apoio às operações das Forças de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, contribuiu para o fortalecimento da imagem da Marinha do Brasil junto à imprensa e à sociedade. Manter uma postura de transparência, cortesia, atenção, disponibilidade e cooperação com a imprensa, respondendo rapidamente às suas demandas e oferecendo, sempre que possível, amplo acesso da mesma às operações e aos meios militares, além de contribuir para gerar uma atmosfera geral de trabalho altamente favorável e cooperativa, por todas as partes envolvidas, gera boa vontade por parte da imprensa, reduzindo assim a probabilidade de matérias negativas e criando condições para a confecção de matérias positivas e ricas.

 

A Instrumental Utilização das Características do Poder Naval

 

Como todas as ações ocorreram em terra, podemos ser tentados, em um primeiro momento, a pensar que a atuação dos meios do CFN na operação não tenha relação com as características do Poder Naval. Entretanto, conforme verificaremos a seguir, as características de flexibilidade, versatilidade e permanência foram instrumentais durante a operação, uma vez que já se encontram fortemente arraigadas na cultura organizacional e no modus operandi das Forças de Fuzileiros Navais.

 

Conforme já visto, a tarefa de prestar apoio logístico a uma força policial, em um ambiente urbano, de alta densidade populacional e com elevada probabilidade e confronto armado, era inusitada e o tempo de reação reduzido.

 

Entretanto, a característica de flexibilidade do Poder Naval, intrínseca aos GptOpFuzNav, permitiu que fosse prontamente criada uma estrutura capaz de atender aos requisitos da tarefa recebida, sem maiores dificuldades em termos de relações de comando. Dificilmente, uma força cujo emprego seja balizado por conceitos pré-formatados e por preceitos doutrinários muito rígidos seria capaz de adequar-se ao cumprimento de tal tarefa e em tal situação. Somente uma força cujo emprego seja marcado, primordialmente, pela flexibilidade, como é o caso das forças que compõem o Poder Naval, pode ser capaz de tão pronta e eficazmente organizar-se para cumprir a

missão recebida.

 

O emprego de meios com elevado poder de fogo e de destruição, como as viaturas blindadas, em ambiente urbano, com sucesso e sem nenhum efeito colateral em termos de baixas entre a população civil, reflete a importância da característica da versatilidade, ao permitir que o poder de destruição fosse regulado de acordo com cada situação apresentada. Nesse caso, o grande poder de combate disponível foi graduado para a utilização mínima, ou seja, apenas para autodefesa.

 

Finalmente, merece destaque a mobilidade que, além de permitir que os meios componentes do GptOpFuzNav, oriundos de diferentes locais, fossem prontamente concentrados no local de emprego, apesar das distâncias envolvidas, assegurou, durante a realização da operação, a rápida conquista dos objetivos. Na realidade, em termos táticos, a mobilidade, a ação de choque e a proteção blindada foram os fatores preponderantes.

 

Prontidão Operativa e Capacidade Expedicionária em Evidência

 

Os analistas têm sido unânimes ao identificar, como tendo sido elemento de vital importância para o sucesso alcançado, a rapidez com que toda a operação foi desencadeada.

Tal rapidez assegurou que fosse obtida a surpresa, especialmente no caso da ocupação da Vila Cruzeiro (a fuga desesperada dos traficantes bem ilustra).

 

Tal situação acabou, portanto, por evidenciar, de forma inconteste, o elevadíssimo nível de prontidão operativa dos meios de Fuzileiros Navais. Afinal, somente uma força no mais elevado nível de prontidão operativa é capaz de, tão rapidamente, mobilizar os meios necessários e cumprir uma tarefa tão distinta daquelas para as quais normalmente é treinada de forma tão eficaz.

 

No que se refere à capacidade expedicionária, ainda que a expressão esteja ligada primordialmente à capacidade de operar em condições austeras, longe de suas bases e por períodos mais prolongados, verifica-se que esta característica das Forças de Fuzileiros Navais também foi marcante, ainda que, possivelmente, de forma indireta no desempenho da MB durante a operação.

Na realidade, a capacidade expedicionária está intimamente ligada a uma mentalidade (mindset), desenvolvida no seio da força, de que ela deve estar permanentemente pronta a atuar em qualquer cenário ou ambiente operativo, com o mínimo de preparo adicional ou apoio externo e sem demora. O êxito alcançado na Operação Rio, ainda que esta tenha sido realizada nas proximidades de nossas bases, certamente contribuiu para consolidar e reforçar a imagem do Corpo de Fuzileiros Navais como “a força de caráter expedicionário por excelência” do Brasil, conforme determina a Estratégia Nacional de Defesa, aprovada em 2008.

 

Reflexões Finais

 

Os riscos envolvidos na operação foram, sem dúvida, bastante elevados para a MB e para o seu CFN. Entretanto, os resultados alcançados, principalmente em termos de credibilidade institucional e de visibilidade, foram proporcionalmente positivos.

 

É altamente recomendável que ações dessa natureza, em apoio a forças policiais, ocorram apenas eventualmente e em caso de imperiosa necessidade e que a permanência e o envolvimento de meios e de pessoal devam limitar-se ao mínimo de tempo necessário ao efetivo cumprimento da missão, exatamente como ocorreu no caso em pauta. A permanência e o envolvimento por períodos prolongados não é desejável, uma vez que, além de desviar uma tropa altamente profissional e preparada de sua atividade-fim, pode gerar um desgaste natural da imagem, desgaste este que é inerente às atividades de cunho policial.

Ao mesmo tempo, é muito importante que o CFN permaneça em condições de, ocasionalmente, vir a atuar novamente neste tipo de situação, uma vez que ainda persistem no Rio de Janeiro locais onde o poder público ainda encontra dificuldades de acesso. Assim, continua a existir uma alta probabilidade de novos engajamentos, como bem demonstrou a operação, realizada em fevereiro de 2011, nos Morros de São Carlos e outros.

 

O foco, contudo, deverá permanecer na atividade fim, ou seja, a defesa do País, dentro daquelas características que são peculiares ao Poder Naval e ao Corpo de Fuzileiros Navais. Tais características, como demonstrado, foram instrumentais para o sucesso alcançado.

A surpreendente velocidade e o sucesso da operação levou que no Sábado, 25 NOV 10,  ao final do dia, as viaturas do Corpo de Fuzileiros Navais fossem atração para a população. Foto – WEB

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