Tchernobil, 25 anos

Completa hoje um quarto de século o maior acidente nuclear da história, na central atômica de Tchernobil, Ucrânia (em 1986, parte da extinta URSS). Um desastre muito mais grave que o de Fukushima, Japão, há um mês e meio. As lições deixadas pelos dois episódios criam dificuldades para o uso pacífico da energia do átomo, mas não a ponto de afastá-la como alternativa para a produção de eletricidade.

Há mais diferenças que semelhanças entre Tchernobil e Fukushima. O primeiro acidente decorreu de imperícia na operação do reator número 4 da central, que o tornou instável. O aumento descontrolado da temperatura provocou explosões que destruíram o vaso do reator e parte do prédio.

Dois funcionários morreram na hora. Outros 134 sofreram contaminação aguda por radiação, dos quais 28 morreriam nos quatro meses seguintes. Grande quantidade de substâncias radioativas foi lançada no ar por dez dias e se espalhou pelo hemisfério Norte.
Apesar da contaminação de 150 mil km2, poucas mortes na população do entorno -5 milhões de pessoas, 220 mil reassentadas- podem ser atribuídas com segurança a Tchernobil. O último relatório da ONU a respeito lhe credita "parte substancial" de 6.000 casos de câncer de tireoide entre crianças e jovens, 15 fatais.

Em que pese ter sido classificado na mesma escala de gravidade de Tchernobil, o desastre de Fukushima -causado por forte terremoto seguido de tsunami- até agora teve impacto menor. Morreram dois trabalhadores da usina, mas ao que se sabe por ferimentos, não por radiação.

Dezenas de funcionários sofreram contaminação, mas só três em doses capazes de originar sintomas graves (queimaduras nas pernas). Dezenas de milhares de habitantes foram evacuados, porém serão necessários alguns anos para avaliar o eventual aumento na incidência de tumores.

O balanço deverá ser menos maligno que o de Tchernobil. O Japão proibiu a venda de alimentos produzidos na região. A URSS demorou a fazer o mesmo com o leite, fonte da contaminação com iodo radioativo que levou ao pico de casos de tumores da tireoide entre crianças e jovens.

Após Tchernobil, várias medidas de segurança foram adotadas no plano internacional para prevenir novos desastres. O mesmo deverá ocorrer em decorrência de Fukushima. Isso encarecerá a construção de novas usinas, como Angra 3 e as outras quatro planejadas pelo governo brasileiro.

Nem por isso a eletricidade de fonte termonuclear deixará de ser atraente, avaliam especialistas, sobretudo aqueles preocupados com alternativas à queima de combustíveis fósseis e com o aquecimento global. O custo total de cada forma de energia, presente e futuro, precisa ser calculado e refletido no preço final -seja o da segurança ampliada, no caso nuclear, seja o da mudança climática, no caso do petróleo. É a precondição para decisões racionais.

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter