OPEP – a enxaqueca da Venezuela

Por Juan Nagel – Texto do Foreign Policy
Um dos autores da seção Transitions do Foreign Policy,
é editor do portal Caracas Chronicles e autor do livro Blogging Revolution.

Tradução, adaptação e edição – Nicholle Murmel

 

A queda vertiginosa do preço do petróleo nas últimas semanas pode ter consequências políticas severas. Trata-se de um alívio bem-vindo às economias já debilitadas e que dependem da importação de combustível, mas ao mesmo tempo coloca pressão em países fortemente dependentes da exportação, como Arábia Saudita e Rússia.
 
Contudo, nesse cenário, a maioria dos analistas concorda que poucas nações serão tão impactadas como a Venezuela. A queda no preço do petróleo expôs rachaduras profundas no modelo “socialista” do país, que enfrenta aumento do déficit orçamentário e escassez de produtos. Mesmo antes, Caracas já estava em estado de recessão, que foi agravado pela maior taxa de inflação do mundo.
Essa mudança conjuntural também enfatizou as divergências graves entre a Venezuela e seus parceiros no cartel petroleiro.

O país sul-americano foi um dos fundadores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Ao longo de 54 anos de história, Caracas teve papel crucial em agenciar acordos entre os países membros, muitos dos quis trouxeram às negociações antagonismos históricos enraizados.

Mas agora, é como se a Venezuela estivesse cada vez mais à margem das dinâmicas do cartel. O país vem sendo uma voz solitária clamando para que os preços globais do petróleo parem de despencar.Seus parceiros simplesmente ignoraram a mensagem. Tanto a Arábia Saudita quando o Quait responderam que baixar a produção para elevar o preço do óleo no mercado seria ineficaz e estava fora de questão. O Irã seguiu a mesma linha, enquanto outras nações da OPEP declaram que o assunto deve ser discutido em reunião regular da organização, marcada para o fim de novembro.

Há tempos a Venezuela se mostra feroz em se tratando de defender preços favoráveis para seu principal produto de exportação. O modelo populista do governo se baseia em maximizar os lucros com a exploração petrolífera e distribuir esses recursos entre a população em troca de apoio político. Isso se traduz em investimento mínimo na capacidade de produção. Um dado surpreendente – o páis tem as maiores reservas de petróleo do mundo, mas é apenas o 13º produtor.
 
Esse modelo pode ser bom para vencer eleições, mas por causa dele Caracas mal consegue pagar as contas. No ano passado, o déficit no orçamento foi de assombrosos 11,5% do PIB, segundo consultoria da Trading Economics. Sua estrutura de administração paternalista exige a manutenção ou mesmo aumento no preço do petróleo, porque o país não consegue vender mais para se ajustar a preços menores. Capacidade ociosa é algo que não existe na indústria petrolífera venezuelana.
 
Níveis de produção estagnados também significam que o país não se interessa em aumentar as cotas mínimas de produção dentro da OPEP. Ao menos desde 2006, Caracas vem se opondo constantemente ao aumento das metas oficiais. Na verdade, em junho deste ano o cartel concordou em manter os índices de produção antes de os preços começarem a cair. O govero venezuelano anunciou alegremente o acordo.
 
Algumas semanas depois, veio a crise por conta de vários fatores: pouca demanda de óleo pelos países desenvolvidos e da China, aumento da exploração de xisto nos Estados Unidos, e uma guinada inesperada na produção da Líbia e do Iraque, massacrados por conflitos. Há também uma aparente estratégia saudita para aumentar a produção a fim de baixar os preços e evitar a perda de mercado para novos países produtores.
 
Os burocratas em Caracas entraram em pânico e o país pediu uma reunição de emergência da OPEP. Os outros membros do cartel recusaram.
 
O aliado tradicional da Venezuela na cruzada por preços mais altos vinha sendo o Irã. Ambos os países têm capacidade produtiva limitada e restrições orçamentárias ainda mais opressivas, então ambos tradiconalmente lutavam por metas mais modestas de produção. Dessa vez, Teerã está com os outros países da OPEP, defendendo que uma reunião de emergência não é necessária, e chegando a sugerir que o encontro previsto para novembro não significará ações efetivas para conter a queda nos preços.
 
Essa crise não podia chegar em pior hora para o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro. Pesquisas de opinião apontam que a maioria dos cidadãos culpa a administração pública pelos diversos problemas nacionais: a maior inflação do mundo, uma das maiores taxas de homicídio, e a crescente escassez de tudo, de desodorante até remédios. Segundo a agência de pesquisa local IVAD, 58% dos venezuelanos acham que Maduro deveria deixar a Presidência.
 
A política venezuelana de aumentar a dívida pública nos últimos anos torna a situação difícil ainda pior.  O país assinou empréstimos com a China a serem pagos com envio de barris de petróleo. À medida que os preços desabam, Caracas terá que vender mais barris a Pequim para manter os pagamentos em dia. Isso significa menos óleo para vender a preços de mercado.
 
Ambos os governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro se mantiveram fieis às cotas de produção da OPEP e mantiveram influência no cartel para garantir apoio dos outros membros à política externa venezuelana. Em 2000, o então recém-eleito Chávez saiu em turnê pelos países da organização para convidá-los para uma reunião de líderes em Caracas – a segunda realizada pelo grupo desde sua criação. Logo após, os preços do petróleo subiram. A presença dinâmica de Chávez em capitais mundiais fez alguns acreditarem que ele, sozinho, era responsável pela disciplina na OPEP e, indiretamente, pelo aumento do preço do óleo. Os bons tempos pareciam obra dele. Enquanto o mercado petrolífero desanda, os venezuelanos provavelmente se perguntam por que o sucessor Maduro não tem o mesmo “toque mágico” do antigo Comandante.
 
Em uma rara coletiva de imprensa semanas atrás, Maduro declarou que inevitavelmente os preços voltarão a subir, e que não estava preocupado. Mas ele deveria estar. A Venezuela tem poucas reservas financeiras e nenhum lastro com outros produtores de petróleo. Seus cidadãos estão se preparando para uma época de economia ainda mais difícil. Os venezuelanos podem apenas esperar por uma recuperação.
 

Nota DefesaNet

Através da Agência RT – Russia Today, o eixo Moscou – Caracas iniciou um ataque midiático às ações americanas de exploração de petróleo através do Fracking e do Shale Oil ( Xisto Betuminoso).

Ver os vídeos da RT em espanhol, que estão sendo publicados na imprensa alinhada com o governo Bolivariano da Venezuela.

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