Mujica acolherá presos de Guantánamo com histórico de atos terroristas

A dois anos de terminar o seu segundo mandato, Barack Obama se esforça para cumprir uma promessa que fez antes de tomar posse em janeiro de 2009: fechar Guantánamo, a prisão instalada em uma base militar de mesmo nome na ilha de Cuba.

O presidente uruguaio, José Mujica, aceitou ajudar. Consultado pelo governo americano sobre a possibilidade de abrigar alguns presos, Mujica não titubeou. Disse que garantiria liberdade plena aos acusados de terrorismo. "Nós não somos os carcereiros do governo dos Estados Unidos", gabou-se o uruguaio, avisando que os seis ex-detentos que desembarcarão em Montevidéu em agosto não serão monitorados pelas autoridades.

A seleção dos candidatos ao asilo, segundo um documento obtido por VEJA, se deu entre o fim de 2013 e o início deste ano. Os seis beneficiários foram escolhidos entre 78 nomes, cuja transferência já foi autorizada. Outros 71 presos ainda não podem sair da prisão. No documento, os advogados dos presos pedem celeridade no processo.

O quadro na página ao lado apresenta os seis beneficiários da medida inédita, já que todos aqueles que foram soltos até agora eram repatriados para seu pais de origem. O histórico de cada um consta nos registros oficiais. Segundo a descrição dos militares, todos eles possuíam vínculos com a Al Qaeda, então chefiada por Osama bin Laden, morto em maio de 2011, no Paquistão.

Os seis foram treinados em campos de formação de jihadistas, onde aprenderam técnicas de combate e realização de atentados suicidas, e pelo menos dois deles lutaram ao lado dos talibãs. O palestino Mohammed Tahamatan é o único entre eles que não é classificado como de alto risco.

Mesmo sendo identificado como de média periculosidade, Tahamatan traz no currículo vínculos com o Hamas, grupo extremista que controla a Faixa de Gaza. Quando foi preso no Paquistão, em 2002, ele estava em uma casa fortificada onde eram fabricados explosivos.

O presidente uruguaio diz que a sua atitude foi tomada por razões humanitárias. Mas o discurso inocente de Mujica não apaga as implicações de sua decisão. Na região, os extremistas encontrarão um terreno fértil para voltar à ativa. No Uruguai e na Argentina, alguns membros da imensa comunidade muçulmana flertam com o extremismo.

A brasileira Foz do Iguaçu com a vizinha Ciudad del Este, do lado paraguaio, são reconhecidas por abrigar células de arrecadação de fundos para organizações sunitas e xiitas que se matam em conflitos sectários pelo mundo. Nos anos 90, Khalid Sheikh Mohammed, que viria a ser o braço-direito de Bin Laden e um dos arquitetos dos atentados do 11 de Setembro, foi recebido com honras pela comunidade local.

“O Uruguai não vai vigiá-los, e nossas fronteiras são abertas. É grande a possibilidade de que eles ganhem todo o suporte necessário para voltar a atuar, seja na região, seja em zonas de conflito, como na Síria e no Iraque”, diz um policial da divisão antiterror da Policia Federal. O primeiro a ajudar é Mujica, que, apesar de ninguém acreditar, jura que não negociou nada em troca dessa bomba-relógio.

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