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Engenharia Brasileira Inova o Exocet

Cosme Degenar Drumond
Exclusivo DefesaNet

 
O EXOCET é um míssil antinavio bem conhecido no mundo. Projetado na França na década de 1960, no período seguinte entrou em serviço com a marinha francesa. Nasceu como MM38, versão mar-mar. A derivação AM39 (ar-mar) ganhou destaque pelo bom desempenho que mostrou em combates reais no Atlântico Sul (1982) e no Golfo Pérsico (1987). Lançado de plataformas marítimas, aéreas e costeiras, navega rente a superfície do mar. Quando detectado pela defesa aérea é quase impossível neutralizar sua letalidade. O míssil já está na sua quarta geração, em operação na França.
           
Vários países operam o Exocet. Recentemente, a Marinha do Brasil estimulou a engenharia brasileira a repotencializar os MM40 (mar-mar), de seu inventário, há trinta anos armazenados em manutenção preventiva (ver links matérias abaixo). O programa foi bem-sucedido, o que levou a Armada a modernizar também seus AM39 (Ar-Mar), e integrá-los à metade da frota EC725, que receberá até 2017. Não se trata de nacionalizar o míssil, mas de aumentar o conteúdo nacional do helicóptero produzido na Helibras. A MBDA, fabricante do EXOCET, participa do programa brasileiro.

Os primeiros testes de integração ocorreram na França, acompanhados por técnicos da MBDA e HELIBRAS. Os testes verificaram a capacidade de integração aeromecânica (análises físicas e aerodinâmicas) do míssil, versão Block 2 Mode 2. O próximo passo, na fábrica da HELIBRAS, em Itajubá (MG), ocorrerá a integração dos softwares. Os oito helicópteros EC725 da Marinha terão sistema de missão avançado, barramento digital, console tático e monitores de gestão de dados e informações do armamento. A AVIBRAS projetou e fabricou o novo motor do MM40 e remotorizará também o AM39. A MECTRON fará a cabeça de telemetria e a integração do míssil será conduzida pela HELIBRAS e MBDA.

O MM40 revitalizado já está em operação com a Armada Brasileira, depois de passar por três lançamentos-teste a partir da corveta Barroso. Para a MBDA o fato de trabalhar em parceria com a indústria brasileira traz a possibilidade de novos trabalhos conjuntos futuros mais complexos. “O programa é inédito no Brasil e no Grupo AIRBUS”, diz o vice-presidente de Vendas para a América Latina da MBDA, Patrick de La Revelière. “O EC725 será o primeiro helicóptero a operar o míssil que estamos desenvolvendo com a indústria brasileira”.

Para Eduardo Marson, presidente da HELIBRAS, o programa abre mais uma janela de exportação para o EC725, versão armada. A indústria nacional por sua vez ganha maior expertise na integração de sistemas de armas inteligentes.
 
Detalhes
 
A AVIBRAS incorporou novas tecnologias ao MM40. Os diferentes métodos da empresa foram confrontados com os da MBDA e resultaram em avanços graduais. O diálogo entre o míssil e a plataforma é mantido de forma digitalizada. No sistema analógico, o volume de informações trocadas era bem menor. Hoje, antes de ser lançado, o MM40 recebe a missão tática do alvo e do que está nos seus arredores. Nos testes de bancada a AVIBRAS queimou em etapas 50 mísseis incompletos e construiu cinco modelos completos para a certificação feita pela Marinha.

Em seguida, foram lançados três mísseis completos. Nessa etapa, um tiro normalmente é considerado satisfatório. Porém, todos os disparos foram exitosos e os mísseis atingiram o alvo com precisão. Os ensaios comprovaram o acerto da engenharia brasileira e a MBDA revalidou a parte eletrônica. A Avibras produziu e forneceu à Marinha um lote do míssil equivalente à reserva de guerra.

Com a certificação do motor brasileiro, a MBDA passa a ter mais uma opção de propulsão para o EXOCET. A AVIBRAS tem planos de exportar serviços de modernização do MM40 em nichos da Ásia e na América Latina após concluir a remotorização do AM-39, cujo processo se encontra no mesmo estágio pelo qual passou o MM-40. Concluído o programa, a Marinha poderá, se desejar, desenvolver um míssil mar-mar brasileiro sucessor do MM-40 Block 1 que não é mais fabricado.

O programa H-XBR nasceu de uma visão estratégica do governo federal. Segundo declarou o presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro José Augusto Crepaldi Affonso, à FAB TV em meados de abril, mais do que uma mera aquisição de helicópteros, o H-XBR visa capacitar o Brasil com uma indústria nacional autônoma no projeto e fabricação de helicópteros e prevê o desenvolvimento de sete versões diferentes do EC725.

Este é o primeiro programa tecnológico que envolve a Marinha, o Exército e a Aeronáutica em trabalhos conjuntos. A HELIBRAS já entregou 11 unidades do helicóptero, versão básica, às Forças. Proximamente, a Marinha receberá seu terceiro exemplar da série.

A integração do AM39 entrará em testes no Campo da Marambaia (RJ). O último estágio envolve sistema de missão, eletrônica, computador e console tático. O ensaio com o sistema de autodefesa foi realizado ano passado e os testes do radar de vigilância marítima devem começar agora em junho.

Segundo Eduardo Marson, o comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Júlio Soares Moura Neto, empenhou-se ele próprio para que o H-XBR desenvolvesse a versão armada e incentivou seu desenvolvimento e do míssil no Brasil. “Esta é a primeira vez que realizamos esse tipo de integração. Mas temos engenharia para isso”, garante o principal executivo da HELIBRAS.

Na opinião do vice-presidente de Vendas da MBDA a Marinha do Brasil tomou duas decisões importantes para armar o EC725: manter a missão ar-superfície, que vinha sendo cumprida pelos SH-3, e ter escolhido o EXOCET, quando podia selecionar outro míssil. “Estamos honrados com a distinção, não apenas porque o produto é excelente, mas por privilegiar seu desenvolvimento no Brasil, com a nossa participação”.

Na parte de investimentos, a Marinha contratou individualmente as empresas. De outra forma (no sistema prime), o custo do programa seria maior, já que o sistema fiscal brasileiro trabalha com imposto em cascata. O contrato com a AVIBRAS tem duração de três anos e valor de 60 milhões de reais para apoiar os trabalhos. “Tudo o que estamos usando na fabricação do motor do AM39 é brasileiro (insumo, peças, aço, propelente e material composto), que utilizamos também na motorização do MM-40. São materiais nobres.

A tecnologia industrial de carbono, poucas empresas têm tamanha capacitação no Brasil. O trabalho exige a feitura de uma trança, cozinhar tudo e criar um modelo no computador. Depois, é testada até casar o modelo de computação com a mão de quem vai fazer. Se não trançar certo, o tecido esgarça e fura. Imagine um foguete em que o jato em vez de sair para trás, sai para um lado. A técnica para evitar que isso aconteça é complexa e sofisticada”, explica o engenheiro Sami Hassuani, presidente da AVIBRAS.

O executivo da MBDA acrescenta: “quando um míssil antiaéreo é lançado, ele passa a voar impulsionado pela inércia. Este míssil é diferente, uma vez que voa próximo à superfície do mar e o tempo de queima é de poucos minutos. A tecnologia de resistência do tecido composto é mais avançada do que a usada em míssil comum”.

A AVIBRAS investiu na área de material composto 15 milhões de reais para contratar mão de obra, construir a infraestrutura industrial e desenvolver a técnica e o processo. No caso da cabeça de telemetria do míssil, sistema que mede os parâmetros de voo, a MECTRON foi selecionada pela Marinha por sua alta experiência e a tecnologia que conquistou em desenvolvimento de mísseis ar-ar.

O programa de revitalização e integração do AM39 tem previsão de ser concluído no final de 2014. Até meados de 2015 deverá ocorrer o primeiro tiro real do míssil, já integrado ao EC725.

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