Academias das forças aéreas do Brasil e dos EUA iniciam programa de intercâmbio

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Taciana Moury

Academia da Forca Aérea Brasileira (AFA) firmou um programa de intercâmbio com a Academia da Força Aérea dos Estados Unidos (USAFA, por sua sigla em inglês). A partir de julho, cadetes brasileiros estudarão por seis meses na USAFA, enquanto os alunos americanos assistirão às aulas na AFA, em Pirassununga, no interior do estado de São Paulo. Segundo informações da seção de acordos e intercâmbios internacionais, do Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER), a parceria tem o objetivo de fortalecer as habilidades em língua estrangeira, bem como aumentar a interoperabilidade entre as forças aéreas.

Durante o período do intercâmbio, os cadetes cursarão disciplinas que serão creditadas em seus currículos, sendo submetidos às mesmas avaliações, trabalhos acadêmicos e rotina programada para os esquadrões e turmas em que forem alocados, respectivamente, na USAFA e na AFA. Terão também, além disso, restrições e prerrogativas dos alunos nativos, no que diz respeito à dispensa, fins de semana e feriados.

Quatro cadetes que cursam o terceiro ano na AFA já foram selecionados para fazer parte do intercâmbio nos Estados Unidos. O Coronel R1 Cláudio Passos Calazza, coordenador do curso de estrangeiros, explicou que viajarão dois cadetes aviadores, um intendente e um militar de Infantaria. O acordo prevê o número máximo recíproco de quatro cadetes e terá a duração de um semestre a cada ano. “Os quatro cadetes americanos selecionados são dois estudantes de engenharia, um de ciência política e um de história”, revelou o Cel R1 Calazza.

A seleção dos cadetes é realizada por meio da classificação acadêmica, militar e física, além de uma prova eliminatória de inglês. O Cadete Aviador Diogo Jonatan Bertolo é um dos selecionados para o semestre inaugural do acordo. O aluno destacou a importância e a responsabilidade de participar da missão. “Estarei representando a minha escola e toda a nossa Força Aérea. Vou me dedicar ao máximo”, disse o Cad Bertolo.

Durante o período em que estiverem nos Estados Unidos, os alunos brasileiros estudarão cinco disciplinas, quatro eletivas e o inglês obrigatório. “Escolhi disciplinas que complementassem meu aprendizado até o momento, como engenharia astronáutica, liderança, aerodinâmica e geopolítica”, contou o Cad Bertolo. Os alunos também vão participar de atividades extracurriculares, como esportes, voo em planador e salto livre.

Já a seleção dos cadetes americanos será feita entre os alunos do 3º e 4º ano de formação, com um mínimo de dois anos de estudos da língua portuguesa, de acordo com o EMAER. Os cadetes vão ter que redigir uma carta de apresentação em português e passar por uma entrevista com uma banca constituída por instrutores da divisão de português, incluindo um oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) que é instrutor na USAFA, além da verificação de notas mínimas de desempenho acadêmico, militar e físico.

Alunos estrangeiros

A AFA já está acostumada a ter estrangeiros entre os seus alunos. Desde a sua criação, ainda como Escola de Aeronáutica, no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, em 1941, até os dias de hoje, na sede em Pirassununga, a AFA já recebeu 330 cadetes de diferentes nacionalidades, dos quais 191 se formaram.

No Brasil, os cadetes estrangeiros participam do mesmo processo seletivo de admissão dos candidatos brasileiros. Eles realizam exames de saúde, de aptidão psicológica e o Teste de Aptidão à Pilotagem Militar. Segundo o Cel R1 Calazza, só após a aprovação nesses testes é efetivada a matrícula. Além dessas avaliações, os cadetes estrangeiros participam de um curso de adaptação ao idioma e à cultura brasileira, com duração de seis semanas.

Este ano, 16 alunos estrangeiros de 12 países diferentes estão matriculados nos quatro anos da AFA. Segundo o Major de Infantaria Renato Pereira Batista, chefe da seção de doutrina do corpo de cadetes, os alunos vivenciam a rotina da escola integralmente. “Horários de refeições, aulas, exercícios operacionais, treinamentos militares, atividades desportivas e outras vivências acadêmicas são idênticas para todos”, explicou. Para o Maj Renato há uma curiosidade, de ambos os lados, em conhecer mais a cultura de cada país, que também facilita na adaptação.

Foi assim com o Cadete de Infantaria Yao Apollinaire Yakanou, do Togo, na África Ocidental, que está cursando o 2º ano da AFA. A curiosidade dos colegas ajudou na adaptação quando ele chegou ao Brasil no início de 2016. Mas foi no intercâmbio de conhecimentos que as amizades começaram a surgir. “Tive muitas dificuldades em dominar o português, mas sempre fui bom em cálculo. Então, ensinava cálculo aos meus colegas e em troca eles me davam aulas de português”, lembrou.

O Cad Apollinaire contou que tem aprendido na AFA a importância pela busca da excelência. “Meus instrutores brasileiros sempre falam que quando você acha que já fez o seu melhor, pode se esforçar mais”. A doutrina da infantaria aeronáutica é outro aprendizado que o Cad Apollinaire vai levar na bagagem. “No Togo, apenas o exército é o responsável pela infantaria. Acho importante inserir esse conceito também na força aérea”, explicou.

O Cad Apollinaire aproveita o tempo livre para conhecer o Brasil e a cultura local. “Meus colegas já me levaram para conhecer o Rio de Janeiro e Araraquara, no interior de São Paulo. Também adoro ouvir música brasileira, principalmente sertaneja”, contou.

Intercâmbio de instrutores de voo

A FAB mantém intercâmbio também entre instrutores de voo com a Argentina e com o Chile. “Temos um aviador chileno e vai chegar um argentino para compor nosso quadro de instrutores e enviamos nossos aviadores para dar instrução nesses dois países”, esclareceu o Cel R1 Calazza. Os militares permanecem dois anos na missão.

O Capitão Aviador Thiago Diorgilis Ribeiro Daniel é um dos participantes do intercâmbio e atua como instrutor de voo na Escola de Aviação Militar da Força Aérea da Argentina desde dezembro de 2016. Segundo ele, a missão como instrutor estrangeiro apresenta desafios. “É necessária uma imersão na cultura local para facilitar o trabalho. Temos que reaprender toda a instrução de uma maneira diferente e condizente com a cultura e o modo de operação daquela nação”.

Para o instrutor brasileiro, a maior vantagem é conhecer novos métodos de ensino e padronizações para a instrução de voo. “Execuções de manobras e emprego de táticas para o aprendizado do aluno, na Argentina, podem ser diferentes da forma como realizamos em nosso país. Este enriquecimento em muito pode nos ajudar a sempre melhorar nossos métodos”, disse o Cap Daniel. O militar permanece como instrutor de voo na Argentina até o final de 2018.

A AFA e a USAFA também firmaram uma parceria entre instrutores, mas com funções acadêmicas, e não de voo, segundo o EMAER. Após o convênio, assinado em 2015, um oficial da aeronáutica passou a fazer parte do Programa de Intercâmbio de Pessoal Militar na USAFA e, em 2016, um oficial americano iniciou suas atividades na AFA. O objetivo é alinhar as diretrizes estratégicas de relações internacionais e incrementar o currículo dos futuros oficiais das instituições participantes.

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