UNITAS tem como propósito gerar interação e interoperabilidade em toda a América

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Marcos Ommati

 

O Brasil foi o país-sede da Unitas Atlântico 2015, que é um treinamento militar conjunto entre marinheiros de diversos países das Américas. O evento esteve a cargo da Marinha do Brasil. A fase anfíbia foi realizada entre os dias 15 e 24 de novembro no Rio de Janeiro, tendo havido uma primeira fase no Rio Grande do Sul dias antes.

Diálogo aproveitou a oportunidade para conversar com o Comandante da Esquadra Brasileira, o Vice-Almirante Liseo Zampronio, que recentemente visitou as instalações de manutenção e treinamento de helicópteros e navios da Base Naval de Mayport, em Jacksonville, Flórida, sede da 4ª Frota das Forças Navais Americanas do Comando Sul. A entrevista foi realizada antes do início da UNITAS 2015.

DIÁLOGO: Qual a importância da UNITAS como exercício naval multinacional para o Brasil e a região do Cone Sul como um todo?

V Alte Liseo: As Operações UNITAS estão baseadas nos termos “Solidariedade e Defesa” e têm como propósito gerar uma interação e uma interoperabilidade em toda a América, promovendo operações integradas, importantes para o incremento do conhecimento e da confiança entre as marinhas participantes. Todos os exercícios, que serão executados na fase de mar da Operação, ocorrerão de forma a contribuir para a manutenção do nível de adestramento dos meios da Esquadra e para o incremento da cooperação e estreitamento dos laços de amizade entre a Marinha do Brasil e as demais marinhas. Nesta versão 56, ao todo, serão 16 navios, um submarino, 51 aeronaves de asa fixa e 18 helicópteros, de seis países, que executarão mais de 36 exercícios.

DIÁLOGO: O Brasil atravessa sua maior crise econômico-financeira dos últimos anos e mesmo assim decidiu manter-se como país anfitrião da UNITAS 2015. Por quê?
 

V Alte Liseo: A primeira Operação UNITAS aconteceu em 1959 e, desde então, acontecem regularmente. A cada ano um país é anfitrião, esse ano é o Brasil, no próximo já está definido que será o Panamá. Vale ressaltar que a última UNITAS realizada no Brasil foi em 2011. Já a UNITAS 56 começou a ser planejada antes mesmo de haver terminado a UNITAS 55, em 2013.

DIÁLOGO: Algo foi mudado/incorporado com vistas aos Jogos Olímpicos Rio 2016?

V Alte Liseo: Há 58 anos, a Operação teve início com exercícios baseados nos aspectos de Guerra Naval Clássica. Atualmente, são realizados exercícios complexos de forças multinacionais, sob a égide da ONU. Esse ano, durante a fase de mar da Operação, que ocorre entre os dias 16 e 23 de novembro, serão executados exercícios de caráter estritamente militar, concernentes às tarefas básicas do Poder Naval, contemplando ações de superfície, aérea, de guerra eletrônica, operações de interdição marítima, ou seja, exercícios completos de forças multinacionais, sob a égide da ONU.

DIÁLOGO: Como se dá a interoperabilidade entre todas as marinhas participantes da UNITAS?

V Alte Liseo: A interoperabilidade entre as marinhas participantes acontece por meio dos exercícios programados, que tem por base manuais em inglês, língua utilizada por todos os navios durante a Operação. Além disso, sinais sonoros e de bandeiras, universais, são utilizados, o que facilita toda a comunicação entre os navios. O intercâmbio de oficiais durante a Operação também é mais uma forma de garantir essa interoperabilidade. Durante esse intercâmbio, os oficiais têm a oportunidade de acompanhar o dia a dia do navio, de presenciar cada exercício realizado, além de estarem em constante contato com seus navios de origem, o que permite o esclarecimento de possíveis dúvidas.

DIÁLOGO: Qual a importância de se trabalhar com outras marinhas da região? E com os Estados Unidos?

V Alte Liseo: Trabalhar com outras marinhas é sempre importante, pois garante maior adestramento dos militares, melhor aprestamento dos meios navais e a troca de experiências. Nessas ocasiões é possível compreender a forma como outro país trabalha, como ele dirige um exercício, reage a uma determinada situação, o que aumenta o nível de aprendizado. Operar com a Marinha dos Estados Unidos, bem como com as demais marinhas participantes, não é novidade para a Marinha do Brasil e esse relacionamento sempre se baseou no respeito mútuo e em fortes laços de amizade.

DIÁLOGO: Como a UNITAS promove uma maior conscientização sobre os direitos humanos, que é um dos objetivos principais do exercício?

V Alte Liseo: Todos os exercícios realizados durante a Operação têm como base as Regras de Engajamento estabelecidas no Manual de San Remo, adotado pela ONU nas Operações de Paz, que prevê como se dará a aplicação do Poder Naval, sem violar os direitos humanos.

DIÁLOGO: Por que uma opção por uma área de operações litorânea (Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro) ao invés de regiões fronteiriças, mais porosas e propensas ao narcotráfico e outros crimes transnacionais, incluindo o terrorismo?

V Alte Liseo: Os exercícios realizados durante a Operação exigem que sejam realizados em uma área marítima afastada da costa, por conta da complexidade das ações, dos exercícios de tiro, do trânsito com as aeronaves. E uma vez que a UNITAS Pacífico acaba de ser realizada [no Chile] , nada mais justo que essa operação aconteça do Rio Grande até o Rio de Janeiro, subindo do Sul para o Norte.

DIÁLOGO: Em breve o senhor será promovido a quatro estrelas e inevitavelmente deixará o comando da Esquadra brasileira. O que deixa de legado para seu sucessor?

V Alte Liseo: Comandar a Esquadra nesse período foi um grande privilégio e dar continuidade ao trabalho de meus antecessores um desafio instigante. A Esquadra, com todas as suas Forças e Organizações Militares subordinadas permaneceram focadas nas prioridades atribuídas pela Alta Administração Naval, empregando os recursos disponíveis com critério e objetividade. A prioridade no preparo, no adestramento e no apoio às tripulações deram o retorno esperado, que se refletiram no desempenho nas diversas comissões realizadas, especialmente nas de longa duração, e na motivação dos homens e mulheres que compõem a Esquadra.


 

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