Pedro Soares
Folha de S.Paulo
A Vale já começa a se beneficiar do "ressurgimento da indústria" dos EUA, graças ao gás de xisto, tido como responsável por uma revolução energética em escala global e que poderá dar ao país mais rico do mundo a autossuficiência em energia.
A mineradora já fechou um contrato, por meio de sua subsidiária Samarco, para a venda de pelotas de ferro a uma siderúrgica em construção nos EUA.
Negocia ainda o suprimento para mais duas usinas em instalação nos EUA. "Vivemos um ressurgimento do setor industrial nos EUA com o shalegas' [gás de xisto] e isso ajuda a siderurgia", diz Murilo Ferreira, presidente da empresa.
A expansão das usinas nos EUA vem a calhar para a Vale, pois pode compensar, em parte, o estreitamento do mercado europeu, muito importante para a empresa.
Desde a crise de 2008, muitas siderúrgicas fecharam ou cortaram a capacidade na Europa. Já há sinais de recuperação, mas os clientes europeus estão ainda muito distantes de seu volume de encomendas pré-crise.
Com os novos contratos nos Estados Unidos, a previsão da Vale é retomar aos poucos a produção de pelotas, que caiu 15,3% de janeiro a setembro de 2013. Houve queda também no volume de minério de ferro extraído pela mineradora, mas num ritmo menor (3,3%), graças à demanda da China.
Não há, porém, um cronograma para reativar as usinas nem os volumes negociados nos contratos com siderúrgicas dos EUA foram revelados.
Nos EUA, essas novas usinas usam o sistema chamado de redução direta para a fabricação de aço, por meio das pelotas e do uso do gás como combustível. No modelo convencional (usado na China e nas siderúrgicas brasileiras, por exemplo), utiliza-se carvão e minério de ferro bruto.
Produtor de minério de ferro, os EUA nunca foram um grande destino das exportações da Vale, ainda mais com o declínio da siderurgia no país nos últimos anos. A Vale vê o "renascimento" do setor naquele país como uma forma colocar seus produtos a um preço competitivo, principalmente devido à posição logística estratégica.
Um frete do Maranhão, onde a Vale mantém um porto, para os EUA é muito mais barato do que para a China, maior cliente da mineradora.
Cada vez mais a Vale torna-se dependente da China –destino de quase 50% da sua produção. Os países asiáticos absorvem 67% do minério de ferro da empresa.
Murilo Ferreira vê na China ainda uma grande fonte de dinamismo para o setor e crê que o país manterá sua posição de maior consumidor global do minério de ferro e produtor de aço. Mas também enxerga espaço para crescer nos EUA.