Empresas americanas elevam vendas de produtos e serviços de defesa para o Brasil

Sergio Lamucci

As exportações de artigos e serviços de defesa dos Estados Unidos para o Brasil estão em alta, num quadro em que empresas americanas buscam novos mercados para seus produtos, com o fim das guerras no Iraque e no Afeganistão e cortes no orçamento militar.

Em 2012, as vendas para o Brasil totalizaram US$ 633 milhões, 37% a mais que no ano anterior, segundo números do Departamento de Estado, compilados pela seção americana do Conselho Empresarial Brasil-EUA. A proximidade da Copa do Mundo em 2014 e da Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016 aguça o interesse das companhias americanas, assim como os grandes projetos de vigilância da costa e das fronteiras brasileiras.

Os números mostram que o Departamento de Estado americano tem aprovado cerca de 90% dos pedidos das empresas do país para exportar produtos, serviços e tecnologia militar para o Brasil – no ano passado, a fatia ficou em 89,1%, Foram negadas apenas 0,2% das demandas, que precisa passar pelo crivo do departamento. Os pouco mais de 10% restantes são devolvidos sem definição, em geral porque são casos em que a licença de exportação não é necessária. O número de pedidos de aprovação de exportação de produtos, serviços e tecnologia para o Departamento de Estado ficou em 2,4 mil em 2012, 18% a mais que em 2011. Em 2008, foram 1.004.

Para a diretora-executiva da seção americana do Conselho Empresarial Brasil-EUA, Monique Fridell, o crescimento das exportações americanas para o Brasil de bens e serviços militares e de uso dual, com um percentual muito baixo de recusas dos pedidos para autorização, indica a maior disposição dos EUA em transferir tecnologia na área de defesa. Um executivo de uma grande empresa brasileira que atua na área diz que tem de fato notado "maior flexibilidade" por parte do governo americano nas aprovações. Há, segundo ele, maior disposição em se aproximar dos brasileiros.

Como pano de fundo, há a licitação dos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), que se arrasta há vários anos. A Boeing é uma das finalistas, ao lado da francesa Dassault e da sueca Saab, num negócio que envolve mais de US$ 4 bilhões. No governo Lula, os franceses eram os favoritos, mas há relatos de que o cenário mudou na administração da presidente Dilma Rousseff. As parcerias da Boeing com a Embraer – que foi escolhida neste ano para fornecer Super Tucanos para a Força Aérea dos EUA – aumentariam as chances da concorrente americana. Isso influenciaria a disposição do governo em autorizar vendas para o Brasil, parceiro visto como confiável pelos na área de defesa.

Monique destaca que, com o fim das operações de guerra no Iraque e Afeganistão, as empresas americanas de defesa procuram novos mercados, num momento em que também há cortes expressivos de despesas públicas com segurança. Dos cortes automáticos de gastos de US$ 85 bilhões que entraram em vigor em março, o chamado "sequestro", metade se refere a dispêndios militares. Com isso, o Brasil, que pretende desenvolver esse setor, aparece como oportunidade importante de negócios para as companhias dos EUA que atuam no segmento, ainda que com demanda muito menor.

Ex-diretor do Centro de Estudos Hemisféricos da Universidade de Defesa Nacional, em Washington, Richard Downie diz que as empresas americanas que atuam no setor de defesa veem o Brasil como o mercado mais atraente da América Latina, por seu porte e por estar em crescimento. Ele lembra que a Copa do Mundo será realizada em 2014 e a Olimpíada, em 2016, havendo também a perspectiva de venda de produtos para projetos para os quais o governo brasileiro está abrindo licitações, como o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz).

Atualmente na Delphi Strategic Consulting, Downie aponta, porém, algumas dificuldades do ponto de vista das companhias dos EUA para negociar com o Brasil. Segundo ele, a regra pela qual quem fornecer produtos para o SisGAAz terá de ceder integralmente o uso da tecnologia é considerada um obstáculo por algumas empresas. Essa exigência pode ser muito rígida, afirma Downie, que, apesar disso, vê o Brasil como mercado promissor para a indústria americana de defesa.

Ajuda nesse sentido a aproximação entre os dois países, que vai culminar na visita de Estado da presidente Dilma Rousseff aos EUA, em outubro. Monique lembra que Brasil e EUA têm intensificado as relações no setor de defesa. Em abril de 2012, foi estabelecido o diálogo de cooperação em defesa entre os dois países. Em dezembro, foi a vez do diálogo para cooperação industrial para estreitar os laços entre as empresas do Brasil e dos EUA que atuam no segmento industrial.

"Vejo no Brasil uma maior consciência de que a inovação na indústria de defesa é um canal importante para a aplicação comercial da tecnologia", diz Monique. Ela destaca a missão do Conselho Empresarial Brasil-EUA realizada em abril, com dez empresas americanas que atuam na área de defesa, como a Raytheon, que foi a líder da delegação, a Boeing, a GE, a Lockheed Martin e a BAE Systems*.

*Nota Defesanet – A BAE Systems tem sua matriz no Reino Unido, sendo assim considerada britânica.

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