Unidade da Saab fará outros produtos além dos caças Gripen

João José Oliveira

A unidade industrial que a Saab, empresa sueca aeroespacial e de defesa e segurança, terá em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, será usada para outros projetos além do que envolve os caças militares Gripen, encomendados pelo governo brasileiro e que estão sendo desenvolvidos em parceria com empresas brasileiras, como a Embraer, disse o chefe global da divisão de aeronáutica da companhia europeia, Jonas Hjelm.

"Essa unidade vai integrar a cadeia global de suprimentos da Saab. Então vemos oportunidades e queremos que ela participe de projetos de outros produtos que atendam não apenas mercados na América Latina, mas no restante do mundo", disse o executivo em entrevista ao Valor.

A Saab entrega os primeiros caças Gripen E ao governo da Suécia neste ano e exporta a primeira unidade para o Brasil no próximo ano, parte de uma encomenda para 36 aviões, em um negócio de US$ 4,7 bilhões com o governo brasileiro. No total, esse jato tem 96 encomendas a serem entregues até 2026.

A Saab projeta que o nível de interesse mostrado pelo produto é consistente com as previsões anteriores de uma produção total de pelo menos 400 unidades.

"Vemos outros clientes potenciais na América do Sul. A Colômbia, por exemplo, já demonstrou claro interesse. E a unidade de São Bernardo do Campo será importante para esses negócios", disse Hjelm.

Embraer & Boeing

O chefe global da Saab para a unidade de aeronáuticas disse que a empresa está acompanhando o desenrolar das negociações entre a Embraer e a Boeing, que buscam uma combinação de negócios.

A Embraer é parceira da Saab no projeto dos Gripen, integrando a cadeia que recebe transferência de tecnologia, enquanto a americana Boeing é rival da empresa sueca uma vez que produz caças militares, por exemplo. "Já expressamos com o governo brasileiro nossas preocupações por causa da questão da transferência de tecnologia, que é uma questão muito sensível", disse Hjelm.

Inicialmente a Boeing queria comprar o controle da Embraer, mas o governo brasileiro se mostrou contrário ao negócio por causa do papel estratégico que a empresa tem em áreas de segurança e defesa do país.

Por isso, hoje as conversas mudaram e o acordo entre as duas busca a criação de uma joint-venture, que será dona apenas da área de jatos comerciais, na qual a Boeing será majoritária. A área de defesa não entrará no negócio.

Nesta quarta-feira (9), Hjelm participou da apresentação das instalações da fábrica de aeroestruturas do Gripen, onde serão produzidos seis segmentos aeroestruturais para o caça brasileiro. Essa é a primeira etapa para que a unidade entre na cadeia global de suprimentos da Saab para os mercados de defesa e civil.

Complexo fabril

A Saab Aeronáutica Montagens (SAM), situada em uma área de aproximadamente 5 mil m² na cidade de São Bernardo do Campo, grande São Paulo, será responsável por produzir complexos segmentos para os caças Gripen adquiridos pela Força Aérea Brasileira (FAB), como o cone de cauda, os freios aerodinâmicos, o caixão das asas, a fuselagem traseira e a fuselagem dianteira para a versão monoposto (um assento) e a versão biposto (dois assentos).

O município de São Bernardo do Campo foi escolhido pela Saab porque está estrategicamente bem localizado, no ponto de vista logístico, próximo do Porto de Santos, do Aeroporto Internacional de Guarulhos, de importantes rodovias e dos clusters aeronáuticos de São José dos Campos e de Gavião Peixoto, cidade que hospeda o Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen (Gripen Design and Development Network – GDDN), onde será feita a montagem final das aeronaves.

A SAM vai começar as operações em 2020 com 55 funcionários, entre engenheiros e técnicos, que serão capacitados em Linköping, na Suécia, por até 24 meses para receber todo o treinamento necessário para o processo de industrialização, qualificação e montagem de fuselagens complexas, específicas para a produção de um caça supersônico no Brasil.

Até 2024, a SAM estará com cerca de 200 funcionários produzindo as aeroestruturas que serão fornecidas para a montagem final dos caças.

A estrutura financeira da fábrica será composta por um sócio majoritário, a Saab AB (90%), e um parceiro minoritário, a Akaer (10%), empresa de engenharia especializada no desenvolvimento de aeroestruturas, já parceira da Saab no desenvolvimento dos caças desde 2009, quando foi contratada para desenvolver o projeto de segmentos da fuselagem do Gripen.

Ao mesmo tempo que a Akaer adquire 10% da SAM, a Saab aumenta a participação na Akaer de 25% para 28%, em uma operação de troca de ações.

A encomenda brasileira dos caças Gripen, acertada em 2014, envolve o desenvolvimento e produção de 36 caças Gripen. Desses aviões, oito serão totalmente produzidos no Brasil.

Além da produção dos caças, o programa inclui a transferência de tecnologia da Saab para o Brasil em quatro áreas: treinamento teórico, programas de Pesquisa e Tecnologia, treinamento on-the-job na Suécia e desenvolvimento e produção.

Além da unidade industrial em São Bernardo do Campo, o projeto dos caças da Saab no Brasil passa pelo Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen (GDDN), inaugurado em novembro de 2016, em Gavião Peixoto, Estado de São Paulo, que funciona como o hub de desenvolvimento tecnológico no país.

Hoje, cerca de 25 engenheiros brasileiros de empresas parceiras estão sendo treinados nas instalações da Saab, na Suécia, e mais de 140 profissionais já retornaram ao Brasil. A maioria deles está trabalhando no desenvolvimento da aeronave no GDDN.

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