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BRICS – União de forças emergentes


Nota DefesaNet

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BRICS – Não admiram o Brasil Link

O editor

 

Eliane Oliveira

Depois da Copa do Mundo, o Brasil se prepara para jogar em outro campo, desta vez junto com os demais integrantes do Brics (sigla do bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em encontro de cúpula de chefes de Estado e governo, que começa amanhã em Fortaleza (CE). Os "adversários do grupo" – ausentes do evento, mas no centro da pauta – são as nações desenvolvidas, devido à baixa importância dada pelas potências ocidentais aos países emergentes. As mudanças na política monetária da União Europeia e dos EUA, que na última quarta-feira anunciaram o fim das medidas de estímulo à economia em outubro, serão o principal tema da reunião.

Os líderes do Brics estão preocupados com o crescimento de seus países, a liberalização do comércio e a maior participação nas decisões econômicas mundiais. Essa preocupação estará expressa na declaração final que será negociada pelos sherpas – como são chamados aqueles que organizam previamente o encontro – até a primeira hora de segunda-feira, quando passarão o bastão para os ministros da Economia e das Relações Exteriores do bloco. A Declaração de Fortaleza terá 50 artigos e será entregue aos chefes de Estado na terça-feira. Embora os países desenvolvidos não sejam citados no texto, eles serão criticados, especialmente pela paralisação do processo de reformas no sistema de cotas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A reunião de cúpula do Brics terá duas faces: a política, com a posição do grupo sobre temas delicados, como a situação no Oriente Médio e na Ucrânia; e a econômica, ponto forte do encontro. No segundo caso, os ministros da Fazenda e presidentes dos bancos centrais se reúnem amanhã, quando o desenho do banco de desenvolvimento será concluído.

A instituição entrará em funcionamento dentro de um ano, segundo o Ministério da Fazenda, mas é fundamental sua aprovação pelo Legislativo brasileiro. Até a noite de sexta-feira, a expectativa era que a sede do banco, disputada por todos os membros, à exceção do Brasil, e a presidência da instituição, desejada pelo governo brasileiro e pelos demais integrantes do bloco, só serão decididas pelos chefes de Estado.

Fora da agenda oficial, a China voltará a insistir com a entrada de novos membros no bloco, começando pela Argentina – que vive uma das mais duras crises econômicas de sua história. O Brasil resiste a essa possibilidade. Argumenta que ainda é preciso dar uma roupagem melhor ao bloco. Os chineses conseguiram emplacar a África do Sul em 2011, mas não tiveram o mesmo êxito com México e Indonésia.

Há interesse dos países desenvolvidos na reunião de cúpula do Brics. O banco de desenvolvimento e o fundo de reservas para ajudar os países com problemas no balanço de pagamentos (contas com o resto do mundo), que também será criado, são competidores diretos do Banco Mundial e do FMI. Com isso, o bloco quer reafirmar sua posição de ter alternativas para o sistema financeiro mundial, fortemente questionado pelo grupo.

– Quanto mais competição, melhor – disse uma fonte da área econômica.

O governo brasileiro aposta nas reuniões bilaterais entre Dilma e o restante do Brics para fazer bons negócios. No encontro que terá com o presidente da China, Xi Jiping, Dilma pretende acertar a venda de 60 aeronaves da Embraer ao mercado chinês. Com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, será assinado um plano de ação, a ser executado até o fim de 2015, que prevê investimentos em projetos de ferrovias, portos, energia nuclear, petróleo e gás, entre outros.

Brasil e África do Sul negociam, de um lado, a liberação do ingresso de vinho sul-africano no Brasil e, de outro, acabar com os entraves à carne brasileira. Com a Índia, a ideia é expandir o comércio bilateral de US$ 9,5 bilhões em 2013 para US$ 15 bilhões até o fim de 2015.

– Cerca de 50% das exportações brasileiras para a Índia são do segmento de petróleo, e as importações, na sua maioria, são de óleo diesel, produtos que variam muito em função da oferta e do preço no mercado internacional – disse o subsecretário geral político do Itamaraty, embaixador José Alfredo Graça Lima, que também é o sherpa do Brasil.

Para o presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, Sérgio Amaral, o Brics quer uma nova governança econômico-financeira, mas não se entende sobre a correção dos grandes desequilíbrios entre os países que exportam e têm superávits e os que importam e têm déficits. A superação desse obstáculo, afirmou Amaral, está relacionada à questão cambial, assunto que os integrantes do Brics não conseguem sequer discutir, porque a China não aceita incluí-la na agenda:

– Enquanto o Brics tem seu desempenho econômico menos expressivo, os países mais desenvolvidos estão saindo da crise, caso dos EUA e da União Europeia. Outro fator é que esse grupo original do Brics está sendo superado por alguns outros países em desenvolvimento com performance mais expressiva, como México, Coreia do Sul, Indonésia e Polônia. O que resta do Brics? O aspecto político.

Leonardo Paz, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, diz que ainda é difícil definir com clareza o perfil do Brics. Segundo ele, com a crise financeira mundial, o bloco idealizado pelo economista Jim O'Neill, no início dos anos 2000, acabou ganhando um tom mais político:

– O grupo precisará de um tempo para amadurecer.

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